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Gestão Sustentável: poluição encarece custo de capital

Empresas poluidoras já pagam juros mais altos. Entenda

Segundo o artigo publicado na semana passada pelo BCE, empresas com maiores emissões de carbono pagaram para bancos da Zona do Euro taxas mais altas (Freepik)

Segundo o artigo publicado na semana passada pelo BCE, empresas com maiores emissões de carbono pagaram para bancos da Zona do Euro taxas mais altas (Freepik)

Danilo Maeda
Danilo Maeda

Head da Beon - Colunista Bússola

Publicado em 21 de agosto de 2024 às 07h00.

O título desta coluna é bem direto e reflete uma tese que acompanha a agenda ESG desde seu princípio. A novidade talvez esteja no mais recente portador da notícia: o Banco Central Europeu (BCE, na sigla original) publicou um estudo que demonstra um fato muito relevante: empresas poluidoras já pagam juros mais altos. Este é mais um fato que reforça a correlação entre boas práticas ESG e desempenho financeiro, enfraquecendo a narrativa do assim chamado “movimento anti-ESG”.

Segundo o artigo publicado na semana passada pelo BCE, empresas com maiores emissões de carbono pagaram para bancos da Zona do Euro taxas cerca de 0,14 ponto porcentual mais altas do que as cobradas às que emitiram menos. Além das emissões reais, os autores analisaram se as empresas se comprometeram a reduzir as emissões e como isso afetou as taxas de juros que pagam. Eles descobriram que as empresas que sinalizam planos para reduzir as emissões futuras também têm acesso consistente a crédito mais barato.

Expectativas a longo prazo

Parece pouco, mas a perspectiva é que essa diferenciação aumente ao longo do tempo. Conforme os riscos e impactos ligados às mudanças climáticas são mais reconhecidos e integrados às análises de risco de crédito, a tendência é que haja um prêmio para organizações que melhor se preparam para o já iniciado cenário de emergência climática - ou uma penalização (na forma de taxas de juros mais altas) para empresas que ignoram ou não fazem o suficiente para mitigar sua exposição a tais riscos.

Nesse sentido, dado o conjunto de evidências sobre o grau de impacto da emergência climática, não ter um plano de adaptação pode ser comparável a saber que seu negócio está sob grave ameaça e decidir pela omissão – o que pode custar a própria sobrevivência da organização no médio e longo prazos.

O estudo também avaliou como as empresas verdes e poluidoras são impactadas em períodos de aperto monetário. Taxas de juros mais altas afetam todo o mercado, mas como as tecnologias e empresas de baixo carbono são frequentemente mais novas, talvez sejam também mais arriscadas e dependentes de financiamento, o que deveria levar a  taxas mais altas. Por outro lado, os bancos podem perceber empresas poluidoras como mais arriscadas, devido a preocupações de reputação ou regulamentações para cortes de emissões. Os resultados mostraram que os bancos tendem a penalizar as empresas poluidoras da mesma forma que fazem com os tomadores de crédito mais arriscados. Ou seja: quando o BCE aumenta as taxas de juros, as taxas cobradas de empresas de alta emissão também aumentam; já as empresas mais verdes geralmente sofrem aumentos menores no custo de sua dívida.

Adicionalmente aos movimentos de mercado, que precifica de forma crescente o impacto das boas práticas ESG, a regulação também avança na direção de induzir que empresas se responsabilizem por impactos e se preparem melhor para gerir riscos socioambientais. Na Europa, os formuladores de política monetária flertam há algum tempo com a ideia de estabelecer taxas de juros "verdes" mais baixas para determinados empréstimos a bancos comerciais, a fim de incentivar a atividade econômica favorável ao clima. Por diversos caminhos, torna-se continuamente mais inegável que investir em ESG vale a pena. 

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