A necessidade de adaptação é urgente (CentrallTAlliance/Getty Images)
Head da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 27 de novembro de 2024 às 07h00.
Com atraso (como já aconteceu nos últimos anos), as negociações da COP29 em Baku, no Azerbaijão, chegaram a um fim. Apesar da comunicação oficial da UNFCCC tratar o acordo da nova Nova Meta Coletiva Quantificada (NCQG) como uma vitória, é basicamente consenso que a cifra acordada foi frustrante. O compromisso assinado foi de USD 300 bilhões por ano a serem aportados pelos países ricos para financiar a mitigação e adaptação no Sul Global.
Apesar de triplicar a promessa anterior, o valor não chega a um terço do que seria necessário para as transformações necessárias ao atingimento do objetivo do Acordo de Paris, que é limitar o aquecimento global a 1,5ºC em relação a níveis pré-industriais, limiar que pode evitar tragédias climáticas de proporções gigantescas. Além disso, como a maior parte dos recursos será transferida como empréstimos e não como doações, há a perspectiva de que as urgentes e inescapáveis transições energéticas e adaptação às mudanças climáticas gerem ainda mais pressão econômica e social para os países pobres, que possuem pouco (ou nenhum) espaço orçamentário para investir em resiliência de infraestrutura e transformação de suas matrizes energéticas, uma vez que necessidades sociais básicas por vezes estão desatendidas.
Se gostasse de eufemismos, diria que o cenário é desafiador. Mas precisamos lidar com a realidade dos fatos: o cenário é catastrófico, com crises de grandes proporções à frente e sem perspectivas concretas de mudança, dado uma geopolítica global em crise de liderança, e aparentemente sem qualquer senso de responsabilidade e visão de futuro compartilhado. O mundo caminha para um aquecimento consideravelmente acima dos 1,5ºC, o que significa que devemos presenciar ainda mais eventos extremos, secas, inundações, elevação do nível do mar, perda de biodiversidade, migrações climáticas e diversos outros impactos sociais e econômicos sem precedentes — segundo uma pesquisa do Instituto Potsdam para a Pesquisa do Impacto Climático, teremos uma redução de um quinto do PIB global em 2050 (cerca de US$ 38 trilhões ou R$ 200 trilhões) por conta das mudanças climáticas.
E o que isso representa para o setor privado? Em primeiro lugar, a necessidade urgente de adaptação. As mudanças climáticas não são uma tendência, mas uma realidade com impactos concretos e relevantes para virtualmente todo e qualquer negócio. Dessa forma, é necessário mapear os riscos e impactos a que cada organização está exposta e se preparar para eles.
Adicionalmente, é necessário estabelecer compromissos consistentes e corajosos, para suprir parte da falta de ambição vinda das negociações soberanas. Isso será importante tanto do ponto de vista do impacto direto que a mitigação climática corporativa pode trazer quanto do exemplo a ser dado e da pressão política e educação social que precisam ser exercidos para reverter a tendência nas mesas e gerar o senso de urgência ainda não assumido — mesmo após tantos anos de debates.
Por fim, diante de todo esse contexto, vale destacar que a COP30, a ser realizada em Belém/PA, ganha ainda mais importância. Ela poderá ser o marco da reversão de tendência nas emissões de gases de efeito estufa e da mudança de conduta das lideranças globais. Mas para que a conferência seja de fato um sucesso, é preciso entender que ela já começou. Temos pouco tempo para criar o ambiente adequado de pressão social e política em direção a compromissos, ambições e ações concretas mais fortes e mais rápidas. E para preparar os negócios para efetivamente fazer sua parte, não só em suas operações e cadeias, mas também com um senso ampliado de responsabilidade social.
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