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Gestão Sustentável: lideranças contemporâneas precisam se livrar da covardia

Lideranças imediatistas e fragmentação institucional dificultam respostas a crises globais

A raiz do problema está no modelo predominante de tomada de decisão (Vladimir Vladimirov/Getty Images)

A raiz do problema está no modelo predominante de tomada de decisão (Vladimir Vladimirov/Getty Images)

Danilo Maeda
Danilo Maeda

Head da Beon - Colunista Bússola

Publicado em 19 de fevereiro de 2025 às 10h00.

Vivemos um momento de inflexão na história. A cada dia, os desafios sociais, econômicos, políticos e ambientais se acumulam, exigindo respostas rápidas e eficazes. No entanto, justamente quando mais precisamos de líderes com visão de longo prazo, capacidade de coordenação e senso de responsabilidade coletiva, nos deparamos com uma geração de lideranças mesquinhas e imediatistas, que aprofundam a fragmentação em vez de buscar soluções sistêmicas.

A cultura do curto prazo e a crise de liderança

A raiz desse problema está no modelo predominante de tomada de decisão, que privilegia a maximização de ganhos individuais e de curto prazo. No campo econômico, esse fenômeno se traduz na priorização do lucro imediato sobre a sustentabilidade dos negócios e o bem-estar social. Como aponta Mariana Mazzucato em O Valor de Tudo, a financeirização da economia criou incentivos perversos para que empresas busquem retornos rápidos para acionistas, em detrimento de investimentos de longo prazo em inovação e bem-estar coletivo.

No âmbito político, a ascensão de lideranças populistas e de políticas baseadas no imediatismo eleitoral fragilizou a governança global. O enfraquecimento das instituições e a crescente polarização dificultam a implementação de políticas públicas estruturais, agravando problemas como a desigualdade e a degradação ambiental.

No contexto social, a polarização e o enfraquecimento dos laços comunitários tornam-se obstáculos para a cooperação necessária diante dos desafios globais. Putnam explica como a erosão do capital social e a fragmentação da sociedade enfraquecem a capacidade coletiva de resposta a problemas sistêmicos. Essa perda de coesão social compromete não apenas a estabilidade política, mas também a resiliência das comunidades diante de crises econômicas e ambientais.

A necessidade de uma nova Liderança

O resultado desse modelo disfuncional de liderança é um ciclo vicioso: diante da ausência de uma visão de longo prazo, o sistema se fragmenta, a desconfiança cresce e a capacidade de resposta coletiva se enfraquece. Questões como mudanças climáticas, desigualdade econômica e instabilidade geopolítica exigem uma abordagem coordenada, mas essa coordenação se torna cada vez mais difícil quando os tomadores de decisão priorizam ganhos eleitorais ou financeiros imediatos.

O cientista político Benjamin Barber argumenta que uma saída para essa crise pode estar em modelos de governança mais pragmáticos e colaborativos, como os adotados em algumas cidades globais. Segundo ele, enquanto líderes nacionais frequentemente se veem presos a interesses de curto prazo, administrações locais demonstram maior capacidade de inovação e colaboração transnacional. No campo empresarial, o bom e velho conceito de triple bottom line, proposto por John Elkington, pode ser alavanca para resiliência organizacional, mas ainda enfrenta desafios para ser plenamente implementado, justamente devido à prevalência da lógica do lucro imediato.

Para onde vamos?

A saída para essa crise passa necessariamente por um resgate dos valores de colaboração, coordenação e altruísmo. Precisamos de lideranças capazes de articular interesses diversos e construir soluções que levem em conta não apenas o presente, mas também o futuro. Isso significa fortalecer instituições democráticas, criar incentivos para práticas empresariais responsáveis e estimular a participação ativa da sociedade civil no debate público.

Mais do que nunca, o século XXI exige um novo paradigma de liderança — não baseada na imposição, mas na construção coletiva; não pautada pelo curto prazo, mas pela responsabilidade intergeracional. A verdadeira liderança precisa emergir da capacidade de escuta profunda, da criação de soluções inclusivas, capazes de enfrentar desafios complexos e da recusa inegociável aos atalhos e estratégias covardes que protegem poderosos e prejudicam vulneráveis.

Se quisermos evitar colapsos ainda maiores no futuro, esse é o momento de resgatar o verdadeiro papel da liderança: guiar, coordenar e inspirar com responsabilidade e altruísmo.

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