Da perspectiva dos negócios, as estratégias de DEI continuam sendo fundamentais (AndreyPopov/Getty Images)
Head da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 12 de fevereiro de 2025 às 15h00.
O atual movimento contrário às políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) – que vem ganhando força (e fazendo muito barulho) em alguns setores, sobretudo nos Estados Unidos – chama a atenção dos profissionais e estudiosos da gestão. Não é exatamente uma surpresa: em tempos de mudança, há sempre vozes que contestam transformações e tentam reverter avanços em prol da pluralidade. Mas, ainda que essa retração pareça ganhar corpo momentaneamente, ela tende a ser temporária e faz parte do processo natural de consolidação dessas pautas.
É claro que as razões para o ceticismo variam bastante. Alguns criticam as iniciativas de DEI por acreditarem que elas representam custos sem retorno; outros veem nelas uma ameaça a estruturas hierárquicas tradicionais. Há também quem não enxergue valor na inclusão de grupos historicamente marginalizados ou quem interprete o debate como superficial. Porém, é preciso lembrar que as mudanças sociais raramente seguem um caminho linear. O trajeto é feito de avanços, recuos e movimentos pendulares que, no fim, ajudam a moldar novos consensos.
Da perspectiva dos negócios, as estratégias de DEI continuam sendo fundamentais, seja para ampliar a capacidade de inovação, atender a diferentes demandas de mercado ou, simplesmente, melhorar a atmosfera organizacional. Quando uma empresa investe em diversidade de verdade – não como tática de marketing ou obrigação regulatória, mas como algo intrinsecamente ligado à sua forma de operar –, ela está preservando seu próprio futuro. Afinal, lidar com a complexidade e o dinamismo do mundo contemporâneo exige equipes diversas, capazes de enxergar problemas e encontrar soluções sob múltiplos pontos de vista.
Nesse sentido, esse período de retração pode, em certa medida, ser até bem-vindo. Ele expõe quem, de fato, entendeu o potencial do DEI como vantagem competitiva e, portanto, segue firme em implementar essas políticas e garantir a consolidação delas. Por outro lado, separa da conversa aquelas organizações que embarcaram na onda pensando se tratar de uma simples tendência passageira. É quando o “modismo” passa que se vê quais empresas realmente têm uma cultura consistente e dispostas a evoluir de acordo com os valores proclamados.
Do ponto de vista estratégico, o cenário é ainda mais claro: empresas capazes de manter a agenda de DEI num momento adverso demonstram uma visão de longo prazo. São companhias que já perceberam como fomentar um ambiente inclusivo faz a diferença na retenção de talentos e no engajamento dos colaboradores. Em um futuro cada vez mais desafiador – marcado pela revolução digital, pelas urgências climáticas e por rápidas transformações socioeconômicas –, essas organizações se mostram mais resilientes. Em outras palavras, estão melhor preparadas para responder a imprevistos e capitalizar oportunidades surgidas de novos comportamentos e mercados.
Com uma mentalidade corporativa orientada a resultados sustentáveis, as empresas que internalizaram a importância da diversidade para a inovação e para a redução de riscos não terão receio de reafirmar seu compromisso agora. Elas sabem que, para além de uma imagem de marca favorável, ações de DEI impactam os resultados de maneira tangível, a começar pela capacidade de atrair e manter profissionais mais motivados e qualificados. Além de promover mudanças positivas na sociedade.
É neste ponto que surge uma preocupação fundamental para o equilíbrio do debate público: as organizações que efetivamente acreditam no valor da agenda de DEI precisam se posicionar de forma consistente para não dar espaço ao retrocesso. Nas palavras de Martin Luther King, “o que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons”. Se empresas realmente comprometidas se ausentarem ou se calarem nesse momento de pressão, corremos o risco de ver o discurso contrário ganhar terreno. Quanto mais vozes legítimas endossarem a relevância e a viabilidade prática do DEI, mais claro fica que a diversidade não é apenas uma pauta social ou moral, mas também um importante pilar de competitividade e sustentabilidade para os negócios.
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