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Gestão Sustentável: dengue, ODS, epidemias e o desenvolvimento sustentável

O recente surto de dengue no Brasil coloca em evidência uma pauta conectada ao desenvolvimento sustentável 

A cobertura universal de saúde está inclusa nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (Kras Stock/Getty Images)

A cobertura universal de saúde está inclusa nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (Kras Stock/Getty Images)

Danilo Maeda
Danilo Maeda

Head da Beon - Colunista Bússola

Publicado em 5 de março de 2024 às 07h00.

Saúde pública também é sustentabilidade. Ou, de forma mais precisa, não há desenvolvimento sustentável sem uma “cobertura universal de saúde, incluindo serviços essenciais de qualidade e medicamentos e vacinas seguros, eficazes, de qualidade e a preços acessíveis”. O trecho entre aspas consta do ODS 3.8, e da série das verdades óbvias que precisam ser repetidas de tempos em tempos.

Neste momento, a população brasileira convive com mais uma epidemia de dengue. São várias registradas na história, com as primeiras ainda no século XIX - informação que me chocou, como leigo em epidemiologia, pois parece demonstrar uma incapacidade coletiva de combater a questão de forma definitiva. Ao pesquisar um pouco mais sobre a origem e trajetória da doença, ficou ainda mais evidente como trata-se, de fato, de uma pauta conectada ao desenvolvimento sustentável

Vejamos

Segundo o Instituto Osvaldo Cruz, “o mosquito transmissor da dengue é originário do Egito e vem se espalhando pelas regiões tropicais e subtropicais do planeta desde o século XVI, período das Grandes Navegações. Admite-se que o vetor foi introduzido no Novo Mundo, no período colonial, por meio de navios que traficavam pessoas escravizadas”. 

Fatores históricos que conectam economia, sociedade e saúde pública com consequências que reverberam até hoje na herança do racismo e desigualdade que se refletem na injustiça que torna classes pobres mais suscetíveis à epidemia e com menor acesso a tratamento de qualidade.

Outro fator interessante é que a dengue é considerada uma doença tropical negligenciada. A categoria reúne doenças infecciosas e endêmicas que afetam 149 países e mais de um bilhão de pessoas, que vivem em condições de pobreza, sem acesso a saneamento básico e em contato próximo com vetores, animais domésticos e culturas pecuárias.

Juntamente à questão climática, a condição de subdesenvolvimento, que traz consigo fatores como extrema pobreza, desigualdade, desestruturação ou inexistência de sistemas de saúde e ineficiência de políticas públicas para as áreas rurais ou empobrecidas, torna as doenças mais letais e desestruturantes. Desta forma, estima-se que essas doenças causem entre 500 mil e um milhão de óbitos anualmente.

Apesar disso, os recursos destinados à pesquisa de prevenção e tratamento desses males são insuficientes e proporcionalmente menores do que os que chegam para outras doenças. Não à toa, o ODS 3.3 traz a meta de acabar com as epidemias de doenças tropicais negligenciadas. Como a atual epidemia de dengue no Brasil demonstra, estamos bastante distantes de alcançar tal objetivo.

As diversas estratégias experimentadas ao longo das décadas para combater as epidemias de dengue também exemplificam como fatores sociais, ambientais e econômicos estão conectados profundamente neste desafio de saúde pública. Desde os aspectos culturais e de educação sobre combate aos mosquitos vetores até os investimentos em pesquisas e desenvolvimento científico para vacinas, tratamentos e estratégias de prevenção, os percalços enfrentados reforçam a necessidade de uma atuação integrada, com recursos adequados ao tamanho do desafio. Um mantra que temos repetido por aqui para outros temas do desenvolvimento sustentável.

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