Plantação de trigo: ciência e tecnologia são empregadas para que culturas se tornem autossuficientes (Kathrin Ziegler/Getty Images)
Head da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 26 de junho de 2024 às 15h00.
A história recente nos mostra que quando operações policiais e inquéritos do ministério público se tornam comuns em determinado setor, a reputação de todos os atores do segmento é fortemente abalada. Por vezes, de maneira praticamente irrecuperável.
A necessidade exagerada de simplificação pode levar a generalizações imprecisas, que contaminam a imagem de quem age corretamente e mistura (por vezes propositalmente) o joio e o trigo. É o caso típico da máxima “os bons pagam pelos maus”.
O mercado de créditos de carbono enfrenta neste momento uma situação do tipo. Os casos recentes trazem a tona e dão visibilidade a aspectos e riscos já conhecidos por quem atua no segmento com mais proximidade. Não é novidade o fato de que a integridade dos créditos atualmente ofertados é um aspecto crítico, pelos desafios fundiários, metodológicos, técnicos e de monitoramento existentes. Aqui mesmo neste espaço já tratamos desses temas.
Por outro lado, empresas e projetos que entregam créditos de qualidade vem sofrendo as consequências de um mercado avesso ao risco reputacional. Como as organizações que atualmente compensam suas emissões com créditos fazem isso voluntariamente (ao menos enquanto o PL do mercado regulado não é aprovado e implementado), há um desincentivo à aquisição de créditos, independente de sua origem e atributos.
O cenário acaba trazendo prejuízo não só para os bons originadores, mas também para a própria estratégia de preservação. Por mais que os esforços governamentais de combate ao desmatamento venham trazendo resultados positivos nos anos recentes, é preciso ir além com parcerias e participação da sociedade civil e do setor privado em projetos de redução do desmatamento e recuperação de áreas degradadas. O desafio é gigantesco, como mostram os relatórios do IPCC. É necessário, portanto, o engajamento de todos e cada um.
Obviamente, nada disso reduz a legitimidade das atividades de fiscalização e punição de irregularidades. Mas é fundamental diferenciar os bons e maus projetos. E o caminho para isso é o da transparência e boa comunicação. Com informações precisas, tempestivas, relevantes e de amplo acesso, mercado e sociedade poderão reconhecer e avaliar as opções disponíveis e fazer suas escolhas. É dito que para separar o joio do trigo deve-se deixar crescer. Me parece que o mercado de carbono está grande o suficiente para tal separação.
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