Belém, onde será realizada a COP30 (Anderson Coelho/Getty Images)
Diretor-geral da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 31 de outubro de 2025 às 13h00.
Última atualização em 31 de outubro de 2025 às 15h47.
Pela primeira vez, uma Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas será realizada na Amazônia — o maior símbolo da interdependência entre natureza, economia e sociedade.
A escolha é carregada de significado: se o planeta precisa urgentemente encontrar um caminho para limitar o aquecimento global, não há lugar mais emblemático para discutir o futuro da humanidade do que a maior floresta tropical do mundo.
Mas o potencial transformador da COP30 não está garantido. Ele depende, sobretudo, da capacidade de mobilização, engajamento e senso de responsabilidade das pessoas que ocupam posições de poder — governos, empresas, investidores e lideranças da sociedade civil.
A ciência já cumpriu seu papel ao oferecer diagnósticos incontestáveis: os relatórios do IPCC mostram que estamos caminhando para um cenário de aquecimento superior a 2°C, com consequências devastadoras para ecossistemas e populações.
O que falta não é informação, mas decisão política, coragem e coordenação para agir na escala e na velocidade que a crise exige.
Os desafios são imensos e conhecidos. O desmatamento e a degradação ambiental seguem em níveis alarmantes, as emissões globais de gases de efeito estufa continuam crescendo, e as desigualdades estruturais dificultam a transição para modelos de baixo carbono.
Ao mesmo tempo, o contexto global mostra sinais preocupantes de retrocesso no multilateralismo, com disputas geopolíticas e interesses econômicos frequentemente se sobrepondo ao bem comum.
Tudo isso aumenta a pressão sobre a COP30: mais do que um evento diplomático, ela precisa ser um catalisador de compromissos reais e mensuráveis.
No entanto, dentro dessa conjuntura de urgência, também emergem oportunidades inéditas. A aceleração das soluções regenerativas — aquelas que não apenas reduzem danos, mas restauram ecossistemas e fortalecem comunidades — representa um novo horizonte de criação de valor.
Iniciativas em bioeconomia, energia renovável, agricultura de baixo carbono e finanças verdes estão mostrando que é possível alinhar prosperidade econômica e preservação ambiental.
A transição ecológica, se bem conduzida, pode gerar emprego, inovação e competitividade, tornando-se motor de desenvolvimento sustentável.
O Brasil, anfitrião da conferência, tem papel central nesse processo. O país reúne vantagens comparativas únicas — matriz energética limpa, potencial de restauração florestal, biodiversidade e capital natural — que podem posicioná-lo como líder de uma nova economia climática.
Mas essa liderança só se concretizará se for sustentada por políticas públicas consistentes, compromissos empresariais transparentes e participação ativa da sociedade.
A COP30 será uma oportunidade para mostrar ao mundo que o desenvolvimento pode — e deve — ser regenerativo, justo e inclusivo.
O sucesso da conferência, portanto, não dependerá apenas das negociações formais entre Estados, mas da capacidade de todos os atores envolvidos de agir com ambição e responsabilidade. A Amazônia, palco da COP30, é também um espelho do nosso futuro coletivo.
Se dela emergirem compromissos concretos e alianças duradouras, poderemos olhar para Belém como o ponto de inflexão em que a humanidade decidiu, enfim, colocar a vida no centro de suas escolhas.
Caso contrário, ficará apenas a lembrança de uma chance perdida diante da maior emergência do nosso tempo.