Na maioria das companhias já existem processos para mapear temas ESG relevantes (Weedezign/Getty Images)
Head da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 17 de abril de 2024 às 10h00.
Apesar de alguns movimentos contrários, está razoavelmente estabelecida a tese geral de que boas práticas ambientais, sociais e de governança adicionam (ou ao menos preservam) valor aos negócios no médio e longo prazo.
Nem sempre é muito claro como isso acontece, uma vez que por vezes essa é uma conexão indireta ou associada a riscos e oportunidades intangíveis, que varia de acordo com cada organização. Além disso, algumas dessas práticas estão diluídas dentro de um conjunto de ações que se conectam com a preservação da licença social para operar. Sem falar na variedade de nomes que atribuímos para as mesmas coisas, o que torna mais difícil monitorar o impacto específico de agendas amplas como a da sustentabilidade empresarial.
Até por isso, vale sempre lembrar que o ganho financeiro é um dos motivos pelos quais as organizações se engajam em sustentabilidade. O acrônimo ESG tornou-se relevante exatamente pela sua conexão com a preservação da capacidade de gerar valor no longo prazo. Ou seja, a agenda ESG (ou de resiliência organizacional) é mais escudo do que alavanca. Com isso posto, o próximo passo é entender como estabelecer a agenda específica de uma organização.
Nossa resposta começa com o planejamento estratégico. Além de fazer todo sentido em termos de gestão, os riscos socioambientais já estão presentes na estratégia de negócios em 70% das vezes e as análises de contexto social, ambiental e político são feitas em 63% dos casos, segundo pesquisa da Beon ESG com o IPRI. Ou seja, na maioria das companhias já existem processos para mapear temas ESG relevantes. Falta transformar isso em práticas e estratégias que deem senso de direção para os esforços da empresa, de modo que se possa de fato adicionar valor a todos os stakeholders.
A partir daí, serão necessárias ferramentas específicas, como uma boa avaliação de materialidade, mapeamento de riscos e oportunidades socioambientais, definição de indicadores e metas em sustentabilidade, bem como mecanismos de gestão. E para quem já está mais avançado, investir em programas de desenvolvimento da cadeia de valor é uma fronteira a ser explorada, com potenciais benefícios para o negócio e para a aceleração da agenda como um todo.
As metas socioambientais costumam ser a parte mais visível do processo. Mas para elas existirem, o primeiro passo é uma avaliação criteriosa de quais são e onde estão os principais impactos daquela organização, para entender as áreas prioritárias e identificar os aspectos materiais mais importantes. Para que aconteça com algum impacto, o tema precisa ter relevância estratégica na organização — então o engajamento das lideranças é essencial. O terceiro desafio é estabelecer metas relevantes, assertivas, factíveis e tempestivas. Para isso, pensar sobre os indicadores a serem utilizados é fundamental.
A criticidade da escolha dos indicadores com os quais se irá medir o desempenho em temas ESG é um fator comumente subestimado. A depender da organização, o resultado em um aspecto material pode ser monitorado de diferentes formas, para refletir diferentes impactos, riscos e oportunidades. No caso das mudanças climáticas, por exemplo: o tema pode ser um fator de risco que origine uma estratégia de mitigação (para empresas intensivas em emissões de gases de efeito estufa), de adaptação (para quem está exposto mais diretamente às alterações climáticas) ou ambos, a depender do perfil e do modelo de negócios avaliado.
Além disso, é preciso considerar a governança da própria sustentabilidade. Metas ESG são diferentes de indicadores tradicionais (como vendas, margem, retenção e satisfação, por exemplo), em que é possível identificar as pessoas responsáveis de forma mais direta. Por natureza, a sustentabilidade é transversal, o que pode ser um desafio — superável — no caminho de atrelar essas metas à remuneração.
Como se vê, não é trivial o desafio de medir impactos de longo prazo com métricas mensais ou trimestrais. Além disso, o sistema de acompanhamento não pode ser complexo demais, mas precisa medir com qualidade o que realmente importa. Sob risco de acabar gerando percepções enganosas. Uma boa consultoria pode ajudar no refinamento desse sistema de indicadores e metas para evitar que se estabeleçam vieses improdutivos.
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