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Gestão Sustentável: a matriz elétrica do Brasil e a complexidade do desenvolvimento sustentável

O crescimento de fontes renováveis intermitentes geram uma demanda por fontes complementares que dêem segurança ao sistema elétrico

“Para cada problema complexo existe uma solução simples, elegante e completamente errada”.  É o caso, por exemplo, da matriz elétrica brasileira. (Cemig/Divulgação)

“Para cada problema complexo existe uma solução simples, elegante e completamente errada”.  É o caso, por exemplo, da matriz elétrica brasileira. (Cemig/Divulgação)

Danilo Maeda
Danilo Maeda

Head da Beon - Colunista Bússola

Publicado em 12 de junho de 2024 às 15h00.

Última atualização em 12 de junho de 2024 às 17h25.

A agenda do desenvolvimento sustentável é complexa por sua própria natureza. São desafios de escala global, respostas difíceis e profundamente interconectados. Por vezes, ações que buscam contribuir positivamente para um dos aspectos que compõem a agenda podem gerar impactos negativos inesperados (ou negligenciados) em outras áreas, colocando em dúvida a sua validade.

Em exemplos extremos, podemos nos deparar com questionamentos como “é legítimo sequestrar carbono às custas da produção de alimentos?” ou “vale a pena deslocar comunidades tradicionais para extrair recursos que contribuem para a transição energética?” O fato é que a tentativa de reduzir a agenda a modelos simples (ou simplórios) tende a produzir resultados indesejados. Como bem escreveu Henry Louis Mencken no século passado, “para cada problema complexo existe uma solução simples, elegante e completamente errada”. 

É o caso, por exemplo, da matriz elétrica brasileira. O País é um exemplo para o mundo, com 80% da eletricidade consumida vindo de fontes renováveis. Além das tradicionais hidrelétricas, uma parte crescente dessa energia é gerada por fontes intermitentes, como a eólica e a solar. Nestes casos, a produção não é constante e depende de fatores naturais, como também acontece com as hidrelétricas a fio d’água.

Isso cria uma pressão no sistema, que precisa de fontes complementares de energia, a serem utilizadas nos momentos de baixa produção das intermitentes para evitar apagões e garantir o fornecimento de eletricidade para famílias, hospitais, escolas, empresas e órgãos públicos. Para responder a tais desafios, torna-se necessário investir em fontes como termelétricas ou hidrelétricas com grandes reservatórios, modelos que são percebidos por parte da população como incompatíveis com a necessária transição energética global.

Em outras palavras, o crescimento de fontes renováveis intermitentes e de baixo impacto e a eletrificação da frota veicular, alavancas que impulsionam a transição energética, geram uma demanda por fontes complementares que dêem segurança ao sistema elétrico. Nesse sentido, o gás natural desponta como uma solução adequada à transição energética.

Primeiro, pelo impacto reduzido – estudos demonstram que as emissões deste combustível podem ser até 80% menores que de outras fontes (como diesel ou carvão). Depois, por ser uma fonte disponível com confiabilidade e flexibilidade de oferta e, em grande parte, obtida como um subproduto da exploração do petróleo. Ou seja, o gás natural usado nas usinas já foi extraído e seu melhor aproveitamento é exatamente na geração de energia. Por fim, usinas a gás natural podem ser adaptadas para utilização do biogás, combustível que é considerado renovável e que futuramente poderá ser fornecido em maior escala, gerando uma solução energética alinhada com o conceito de economia circular.

Pode parecer contraditório para quem busca soluções simples para problemas complexos. Mas como estas não existem, é necessário abraçar a complexidade dos cenários, incluindo desdobramentos, impactos diretos e indiretos e tradeoffs que fazem parte desta jornada.

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