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Gente & Gestão: encerrando ciclos na vida pessoal e o que levamos para a profissional

Esta semana, Carlos Guilherme Nosé escreve sobre encerrar ciclos na vida

Parenting and family lifestyle concept. (kieferpix/Getty Images)

Parenting and family lifestyle concept. (kieferpix/Getty Images)

Carlos Guilherme Nosé
Carlos Guilherme Nosé

CEO e sócio da FESA Group - Colunista Bússola

Publicado em 5 de dezembro de 2024 às 10h00.

Essa semana, eu encerro um ciclo muito importante da minha vida e já sinto uma certa tristeza e nostalgia.

Calma, não estou mudando de empresa, nem de carreira. Para alguns pode parecer besteira, mas para mim não é. 

Encerro essa semana a função de levar meus filhos à escola logo cedo. Meu filho mais novo está finalizando seu ciclo escolar e tudo já está bem encaminhado para que entre na Universidade (torcendo muito por ele).

Mas o que eu vejo de tão importante nessa tarefa rotineira e tão chata para alguns? Sair cedo de casa, acelerar a molecada para calçar o tênis rápido, lembrá-los de pegar a mochila, perguntar se escovaram os dentes e se não precisavam levar mais nada. E ainda pegar um trânsito que normalmente te tira da rota para ir ao seu trabalho. O que tem de tão especial nisso? Muitas coisas.

Era o “nosso momento”. Aqueles sete a 10 minutinhos no carro, pareciam uma eternidade.

Às segundas-feiras, as conversas eram repletas de comentários sobre os jogos de futebol, sobre como tinha sido o GP da Fórmula 1, e por aí vai. Eles estudaram os últimos anos em uma escola relativamente pequena e o porteiro, o querido Netinho, flamenguista e eles corintianos, já faziam o que se era esperado: um tiraria sarro do outro por causa dos resultados dos jogos. Nunca vi o Netinho um dia sequer emburrado ou de cara amarrada. Estava sempre ali, a partir das 7h15, em pé na porta da escola e cumprimentando todos os alunos. 

Vira e mexe me perguntava: o que faz dele uma pessoa feliz? De onde tira tanta motivação? E eu imediatamente encarava meu dia de outra forma. 

Entre terças e quintas, o papo no carro era dos mais variados possíveis. Política, mundo, viagens, e sonhos. Sonhos que todos nós não podemos deixar de ter e nem de alimentarmos. E aprendíamos muito uns com os outros. Enquanto meu mais velho fazia parte da carona, falávamos de música, ele contava a história das bandas, daquela música específica, dos shows que o Brasil terá nos próximos meses, entre outros temas. O mais novo, mais ligado ao esporte, contava histórias sobre atletas, times de rugby, curiosidades sobre o basquete europeu, e por aí vai. Às sextas-feiras eram bem legais, já saíamos da garagem planejando nosso final de semana. 

Vale ressaltar: acho que eles também aprenderam muito comigo. Sempre contava alguma curiosidade ou algum desafio do trabalho, sempre tentei mostrar como cultivar as relações, como a nossa jornada aqui é de longo prazo, como ser ético e manter seus valores em um mundo cada vez mais virado de ponta cabeça e, acima de tudo, como ser um ser humano melhor - ou pelo menos assim tenho tentado a cada dia. A mensagem deu certo, me orgulho de vê-los se tornando adultos conscientes, do bem e com bons valores. O resto, eles correm atrás. 

Parece que foi ontem quando os deixamos pela primeira vez no berçário. Passa um filme. Lembro da “Porta mágica” que eles mesmos apelidaram, do frio na barriga quando mudaram três vezes de escola, da quantidade infinita de eventos na escola, das notas baixas e como discipliná-los a mudar. Dos primeiros amigos, das primeiras namoradinhas, dos professores “chatos e dos legais”. 

Foram, literalmente, milhares de dias que nos ajudaram a ter a relação que temos hoje. Minha reflexão é mais sobre qualidade do que quantidade. Como já escrevi anteriormente, passa sempre aquela culpa na cabeça, de trabalharmos muito e apreciarmos pouco. Conversar com eles me fez também aprender muito sobre a geração Z. Como pensam, como se engajam nos temas, o que mais desperta a atenção deles e como eu poderia me conectar mais com essa geração. De certa forma, a tarefa rotineira “chata” me ajudou a ser um profissional melhor e tentar resolver, ou ao menos amenizar, o tal “Conflito Geracional” que possuímos atualmente em nossas empresas. Tenho certeza que a cada situação que enfrentamos em nosso dia a dia, seja rotina ou não, podemos levar algo de bom e evoluirmos. Sempre.

Queria agradecer aos meus filhos pelas caronas maravilhosas que dei a eles nesses anos todos. Nos divertíamos muito - ainda que alguns dias fossem mais tensos, como quando acontecia a tal da nota baixa, mas isso passa. Ficam na memória só coisas boas. 

Assim como citei o Netinho, lá no início do texto, fico me perguntando quantas rotinas te tiram do sério? Qual a sua habilidade de transformar “deveres” em alguma diversão - ou, melhor, em algum aprendizado? Vejo atualmente muita gente se descabelando para cuidar dos filhos, da casa, do trabalho, se manter em forma... Calma, o tempo é cruel mas ele pode ser nosso aliado. Ouvi esses dias do meu sócio: “O homem planeja e Deus dá risada”. Ou seja, não queira controlar tudo. Relaxe mais, se preocupe mais com problemas verdadeiramente reais, confie na qualidade do seu tempo, ela é infinitamente melhor do que a quantidade. 

Encerro aqui agradecendo a Deus por ter tido essa rotina “chata” de levar os filhos para a escola. Faria tudo de novo e marcaria menos reuniões logo cedo que me faziam “pular” alguns dias dessa obrigação. Me contento agora quando o mais velho pede carona no dia de rodízio do carro dele. Por sorte, estuda pertinho da FESA. 

Sentirei saudade da nossa frase final: “tchau meninos, boa aula”. Tchau pai, bom trabalho”. 

E estou aqui torcendo para que, na vida deles, possam encontrar outros Netinhos que os recebam de braços abertos, e com sorriso no rosto.

 

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