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Geekonomy: do nicho ao mainstream

Bússola estreia coluna sobre o atraente mercado da cultura nerd, que mobiliza legiões de fãs e movimenta cifras bilionárias em todo o mundo

Star Wars (CBS Photo Archive / Colaborador/Getty Images)

Star Wars (CBS Photo Archive / Colaborador/Getty Images)

Mariana Martucci

Mariana Martucci

Publicado em 29 de janeiro de 2021 às 21h11.

Entretenimento geek, nerd, pop. Os termos são variados e muito amplos, mas extremamente rentáveis. Essa é a estreia de uma coluna para conversar sobre a cultura do fã, sempre sob a perspectiva do negócio, do impacto na economia e do comportamento de consumo.

A franquia Harry Potter já arrecadou mais de US$ 21 bilhões no mundo todo, entre livros, lançamentos no cinema e licenciamento de centenas de produtos. Em dez anos, o faturamento da Marvel Studios – só com filmes de super-herói – ultrapassou os US$ 30 bi. Esse valor é semelhante ao faturamento do Mario ao longo dos anos, que é provavelmente o mais conhecido personagem de videogame do mundo.

Em comum, nos três exemplos dessas impressionantes empreitadas de sucesso no entretenimento transmídia, está a origem na subcultura de nicho. Ou seja, a formação de comunidades em torno de um interesse em comum. Esse, por sua vez, costuma ser uma temática ou assunto que não se encontra tão facilmente na estante de qualquer loja. E, por incrível que possa parecer, a literatura fantástica, as histórias em quadrinhos e a própria origem dos videogames remontam a um período em que não era tão simples ter acesso a tudo isso – como é hoje.

A cultura pop cresceu, explodiu e virou mainstream por meio de produções com temas que se desdobram pelo cinema, games, quadrinhos, literatura, música, licenciamento de produtos, entre tantas outras frentes.

Possivelmente o mais notório e perene produto desse tipo de comportamento seja o interesse em torno da franquia de filmes de Star Wars, que no fim da década de 70 angariou uma legião de fãs e que encontrou sobrevida e continuidade – após o fim de sua trilogia cinematográfica original – nos quadrinhos, games, livros e milhares de produtos licenciados. George Lucas, criador da história, produziu uma segunda trilogia no início dos anos 2000 e, em 2012, vendeu sua franquia (de 35 anos de idade à época) para a Disney por 4 bilhões de dólares.

Disso desdobrou-se mais uma trilogia, alguns filmes spin-off e muitas séries derivadas, que hoje são o carro-chefe da plataforma de streaming Disney+ na guerra contra Amazon Prime Video e Netflix.

Fato é que Star Wars sobreviveu e se sustentou ao longo dos anos com base em sua comunidade de fãs. Nerds, geeks e aficionados que por anos consumiram os desdobramentos da história em todos os tipos de mídia, desenvolveram um laço afetivo baseado em nostalgia e envolvimento emocional e, por fim, trouxeram novas gerações de fãs para o grupo. É, afinal, uma grande família.

E essas famílias, como falado, nascem dentro de nichos e subculturas. São interesses e temas tão pulverizados e diversos que é praticamente impossível classificá-los por algo além do próprio interesse profundo.

Imagine microuniversos de colecionadores de action-figures, cosplayers, jogadores de RPG, board games, card games, fanfics. Ou aficionados por universos narrativos, como obras literárias, desenhos animados e títulos de videogame. As possibilidades são infinitas, e o potencial de conversão de negócios também.

O interesse na cultura de fãs não se limita aos produtores de conteúdo. Há espaço de veiculação de mídia, branded content, product placement, licenciamento e toda uma sorte de possibilidades de negócio que geram interesse para marcas de praticamente todas as indústrias.

A relação com esse ecossistema de consumo transcende o produto ou a produção, justamente por conta da relação afetiva de cada comunidade com seu objeto de interesse. Portanto, fazer parte disso é também impactar diretamente estilos de vida, comportamentos, o que se come, o que se veste, o que se usa e se compra. É uma relação de intimidade e, se feito da maneira correta, cumplicidade também.

O modelo e a forma de se consumir esses conteúdos mudaram muito ao longo dos anos. O que não muda é o investimento emocional e o profundo interesse desses grupos que se formam a cada dia, seja na lojinha do bairro, no grupo de WhatsApp ou na plataforma digital mais próxima de você.

A vingança dos nerds nunca fez tanto sentido.

*Sócio-diretor de Growth na Loures Consultoria

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