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Gabriel Granjeiro: A hora da educação verdadeiramente digital

O que o boom das edtechs mostra sobre o setor, que ainda está engatinhando no quesito inovação e tecnologia

Entenda a diferença entre educação digital e o EAD (Getty/Getty Images)

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Publicado em 9 de maio de 2023 às 09h00.

Por Gabriel Granjeiro*

Quando pensamos em como a tecnologia está transformando o mundo, muitos exemplos vêm à mente. Ela revolucionou a nossa forma de viver, a nossa comunicação e mudou muitos hábitos. Pedir uma pizza, pedir um táxi, até a forma de pagar boletos, tudo mudou. E há ainda muito mais a mudar com o desenvolvimento contínuo da Inteligência Artificial (IA), de uma maneira ainda desconhecida diante de tantas oportunidades. No entanto, apesar de transformar quase tudo, quando o assunto é educação, um dos temas mais sensíveis e importantes para a sociedade, o impacto da tecnologia ainda está demorando a acontecer. A sala de aula é um ambiente que ficou inalterado durante centenas de anos, mesmo com tantas novidades e inovações ao nosso alcance.

A pandemia da covid-19 obrigou autoridades brasileiras a debater sobre o papel da tecnologia na educação. Contudo, o que aconteceu no ensino remoto foi o uso do recurso apenas como um meio de comunicação, como ferramenta para transpor o conteúdo do ambiente presencial para o virtual. Prova disso são os números da pesquisa da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), com apoio do Itaú Social e da UNICEF, a qual revelou que, em 2020, 79% dos educadores do ensino básico concentraram as atividades no WhatsApp, ou seja, o mesmo método de ensino, mudando apenas a forma de transmissão do conteúdo aos alunos.

Não é muito diferente do que acontece em muitos cursos de graduação a distância. Aulas gravadas, com pouca ou nenhuma interatividade, podem tirar a motivação do estudante e impactar a retenção do conteúdo. Tanto que, mesmo com o aumento histórico nas matrículas, ultrapassando pela primeira vez os cursos presenciais, os cursos de ensino superior EaD ainda são alvo de questionamentos com relação à qualidade do ensino.

Educação digital é diferente de EaD

A educação digital e as edtechs, empresas que apostam no uso da tecnologia na educação, têm a premissa de usar a inovação para aprimorar o ensino. É diferente do EaD, cuja base é o mesmo ensino tradicional, que trata o aluno como espectador e fortalece a ideia de memorização e reprodução dos saberes. O uso estratégico da tecnologia traz novas possibilidades de aprendizado, dá protagonismo ao aluno e oferece inúmeras soluções para a aceleração da aprendizagem. Esse é o principal objetivo das edtechs de verdade.

Começamos a questionar a educação tradicional há dez anos, quando fundamos o Gran, já com DNA 100% digital. Olhando para o mercado internacional, eu e meu sócio, Rodrigo Calado, entendemos que só seria possível repensar o modelo educacional por meio da tecnologia e da inovação, dando mais autonomia ao aluno e garantindo recursos para potencializar o aprendizado e democratizar o acesso ao ensino.

A inovação permite oferecer um ensino individualizado e pode tornar a educação mais inclusiva, possibilitando a utilização de recursos que facilitam o acesso de pessoas com diversos tipos de deficiência e de quem vive nas regiões mais remotas do mundo. Além disso, o aprendizado pode chegar a um custo menor, trazendo a inclusão social. Essa transformação pode acontecer em todas as fases do processo educacional, seja na educação básica, no ensino superior ou nos cursos livres e preparatórios.

Foi com esse pensamento que conseguimos antecipar tendências para a educação, como o ensino personalizado, de acordo com o conhecimento prévio e as habilidades de cada aluno. Também usamos inteligência artificial para criar conteúdos acessíveis, como a legendagem automática e os audiolivros, que possibilitam o aprendizado de milhões de brasileiros com deficiência.

Novas demandas impulsionam as edtechs

O comportamento do estudante brasileiro está mudando. Segundo dados do Inep, as matrículas nas universidades federais diminuíram pela primeira vez desde 1990, assim como as inscrições do ENEM, que teve apenas 3,3 milhões de inscritos na última edição, contra 5,1 milhões em 2019, antes da pandemia. Além disso, uma pesquisa do Datafolha revelou que 98% dos jovens querem que o ensino médio já prepare para o mercado de trabalho, e essa mudança no comportamento mostra também novos objetivos.

Não é que o brasileiro não queira mais fazer o ensino superior. Ele pode apenas querer fazê-lo de outra forma, ou em outro momento, e as edtechs apresentam soluções para isso. O mercado percebeu essa tendência, e hoje vemos um boom dessas empresas. Uma pesquisa da Associação Brasileira de Startups do Brasil, em parceria com a Deloitte, revelou que o setor da educação é o maior foco das empresas de tecnologia brasileiras, que representam 14% das empresas mapeadas, com as fintechs em segundo lugar (9,1%).

As edtechs conseguem unir o melhor dos dois mundos: soluções criativas com novas possibilidades para o estudante. Se ele quer passar em um concurso público, começar uma carreira na área de tecnologia ou até mesmo estudar de um jeito não tradicional para o vestibular, há edtechs que podem ajudar a alcançar cada um desses objetivos.

Reinventar o ensino está entre os maiores desafios da tecnologia. Afinal, a educação é um dos setores mais tradicionais que existem e um dos menos tolerantes a mudanças. Talvez seja por isso que esse encontro demorou tanto a acontecer. Mas, já que começamos com acertos, que essa transformação siga acontecendo e impactando positivamente a educação e, consequentemente, o futuro das pessoas.

*Gabriel Granjeiro é CEO do Gran

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