A recente entrega da Ferrovia Norte-Sul ampliou o uso das tecnologias (Ricardo Botelho/Minfra/Agência Brasil)
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Publicado em 30 de outubro de 2023 às 09h00.
Por Renata Twardowsky Ramalho Bonikowski*
Celeiro do mundo, o Brasil é uma referência global que vem assumindo o seu papel de “Potência Verde” por conta dos recursos naturais de energia limpa e pela produção cada vez maior de commodities agrícolas (como soja e milho). Além disso, o nosso país é visto como um exemplo de biodiversidade incomparável. Essas características únicas fazem o setor nacional de infraestrutura criar projetos transformacionais que precisam ser sustentáveis em sua essência. Não é uma jornada fácil, pois os desafios existentes exigem que empresas de logística inovem de forma frequente para mitigar os impactos ambientais. Medidas inovadoras e tecnologias preditivas foram os exemplos levados pela Rumo para a ACLIE 2023, a Conferência Africana voltada à Infraestruturas Lineares e Ecologia, realizada neste ano, em setembro, no Quênia.
Em meio a um evento com intercâmbio intenso de soluções adotadas em modais diversos de transportes na África, Ásia e Europa, a América do Sul se destacou por mostrar que em suas ferrovias são aplicadas soluções como as “passagens de escape para quelônios”, desenvolvidas e implementadas pela própria Rumo. Por meio de uma estrutura instalada entre os dormentes, em locais previamente mapeados como pontos críticos ao aprisionamento e morte desses animais, a empresa brasileira tem conseguido reduzir a mortalidade de cágados e jabutis, grupo muito presente nas regiões Centro-Oeste (Goiás) e Sul (principalmente no Rio Grande do Sul).
Na palestra apresentada para engenheiros e especialistas ambientais em infraestrutura linear na ACLIE, as representantes da Rumo mostraram suas experiências de campo e o primeiro modelo de predição de atropelamentos de fauna aplicado para ferrovias no Brasil. A metodologia envolve o uso de softwares específicos e permite a projeção do número, das espécies e dos locais onde animais poderão ser atropelados em uma ferrovia, antes mesmo de ser instalada. Com isso, mesmo na fase de projeto, já é possível indicar quais são os melhores locais para a instalação de passagens de fauna e cercamento, visando a redução do risco de atropelamentos.
A recente entrega da Ferrovia Norte-Sul ampliou o uso das tecnologias, pois ao passar por novas geografias do país o trem acaba se tornando o novo elemento no habitat de grandes e médios mamíferos, répteis e aves diversas. A construção da nova ferrovia estadual de Mato Grosso já incorpora, desde sua concepção, as práticas aprendidas em estados como São Paulo, Goiás e Rio Grande do Sul. Principalmente porque o traçado futuro de 743 quilômetros, que ligará o norte mato-grossense a todo o Brasil, possui uma fauna extremamente biodiversa. Já foram mapeados animais como o lobo-guará, o tamanduá-bandeira, a anta, a queixada, a onça-pintada e o tatu-canastra.
A Ferrovia Estadual Senador Vicente Emílio Vuolo apresenta quatro programas direcionados exclusivamente para a proteção à fauna. Dentre eles, o monitoramento do ecossistema nas áreas próximas, e que visa avaliar a resposta da fauna local frente ao processo de instalação do empreendimento. Atualmente neste estudo temos registrados mais de 700 espécies de animais. Através do conhecimento sobre a composição da fauna, também será possível entender previamente a comunidade de animais que poderá utilizar as estruturas de passagens de fauna que serão implementadas. Quando concluída, a nova via férrea terá mais de 150 dispositivos de passagens de fauna (superiores e inferiores) e um viaduto vegetado, que está sendo projetado e será referência para a infraestrutura ferroviária do país, além de ser o primeiro no estado de Mato Grosso.
As lições aprendidas na atuação ambiental da Rumo e expostas na ACLIE nos trouxe algumas certezas e novas (e boas) dúvidas. As certezas se referem ao fato de que o trabalho feito em prol do meio ambiente tem um valor inestimável, devido à importância de manter os animais do ecossistema terrestre convivendo de forma saudável com a ferrovia. Já as dúvidas nascem do intercâmbio com profissionais de outros países e com outras experiências, que trazem soluções ricas que nos fazem pensar em como adaptá-las à nossa realidade. E o mundo melhor sempre começa com um sonho, seguido de muito trabalho e dedicação diária.
*Renata Twardowsky Ramalho Bonikowski é Gerente Sênior de Meio Ambiente e Licenciamento de Operações e Green Fields da Rumo
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