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ESG: Quem é o [xingamento] que está tornando as coisas piores?

No último ano, o Brasil não avançou sequer em uma das 169 metas que compõem os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável

Cada um de nós é parte do problema em nível individual (Thithawat_s/Getty Images)

Cada um de nós é parte do problema em nível individual (Thithawat_s/Getty Images)

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Publicado em 12 de outubro de 2021 às 16h23.

Por Danilo Maeda*

A positividade tóxica e compulsiva tem sido descrita como “uma atitude falsamente positiva, que generaliza um estado feliz e otimista seja qual for a situação e silencia emoções consideradas negativas”. Segundo a terapeuta e psicóloga britânica Sally Baker (em entrevista à BBC), esse comportamento "é exaustivo e não nos permite construir resiliência [a capacidade de nos adaptarmos a situações adversas]." Ou seja, a positividade tóxica gera efeito contrário à intenção de quem a adota.

É claro que uma dose de otimismo é importante para não ficarmos imóveis diante de grandes desafios. Mas é preciso balancear isso com outra dose de realismo, fundamental para não nos deixarmos enganar e entender que há muito a ser feito. Afinal, se apenas vibrar na frequência certa resolvesse todos os problemas, musicistas não pagariam boletos. Como outros pensamentos simplistas, é falsa a dicotomia entre ver o copo meio cheio ou meio vazio.

E o que isso tem a ver com sustentabilidade? Tudo. O mundo corporativo gosta de falar mais sobre soluções do que sobre problemas, por motivos óbvios. Mas esse comportamento pode gerar a percepção enganosa de que está tudo bem, quando na verdade ainda há muito a ser feito. No último ano, por exemplo, o Brasil não avançou sequer em uma das 169 metas que compõem os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).

A disparidade entre a realidade material e os onipresentes discursos sobre impacto positivo e ESG no DNA das empresas levanta uma pergunta já recorrente: se está todo mundo tentando salvar o mundo, quem é o [insira aqui um xingamento] que está tornando as coisas piores? A resposta está mais perto do que se imagina: basta olhar para o espelho (somos parte do problema também em nível individual) e para as principais cadeias de valor.

Apesar dos compromissos e iniciativas para reduzir impactos, a economia global ainda não incorporou adequadamente o preço das externalidades socioambientais negativas de seus processos produtivos. Na média, a humanidade causa mais danos do que benefícios ao planeta e a si própria. Roubamos recursos do futuro. Não é à toa que gerações mais novas tenham perdido a paciência com os líderes de hoje.

A sociedade está cada vez mais cética em relação à veracidade dos compromissos assumidos por instituições e empresas. E motivos não faltam. Um trabalho de pesquisadores da escola de direito de Harvard avaliou se houve mudanças estruturais em empresas do Business Roundtable, grupo com sede nos EUA que produziu em 2019 a famosa declaração de que abandonaria a visão da “primazia dos acionistas” para inaugurar o capitalismo de stakeholders (partes interessadas).

Dois anos após a carta, o estudo de Lucian Bebchuk e Roberto Tallarita não encontrou alterações relevantes em documentos como diretrizes de governança corporativa, estatutos, políticas de remuneração e respostas a propostas de acionistas na grande maioria das 136 empresas analisadas (signatárias com capital aberto). Seria este mais um daqueles casos em que a mudança é feita para que as coisas continuem como sempre foram?

É preciso reconhecer a magnitude dos problemas para agirmos na velocidade e amplitude necessárias para um futuro viável e sustentável. Se o pessimismo excessivo (ou niilismo) paralisa, a positividade tóxica engana e tira o foco do que realmente importa. Sustentabilidade é questão de equilíbrio. Entre passado, presente e futuro. Entre crescimento e inclusão. E também entre otimismo e realidade. Para um futuro viável, precisamos andar no espaço entre a síndrome de Hardy (a hiena pessimista do desenho animado) e a síndrome de Poliana (a otimista inveterada do livro de Eleanor H. Porter). Afinal, é evidente que não está tudo bem.

*Danilo Maeda é head da Beon, consultoria de ESG do Grupo FSB

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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