“Não podemos resolver uma crise com os mesmos métodos que levaram ao início dessa crise”, diz Greta Thunberg na COP 26 (Galeanu Mihai/Getty Images)
Bússola
Publicado em 9 de novembro de 2021 às 12h05.
Por Danilo Maeda*
Uma jovem indígena brasileira de 24 anos chama atenção do mundo ao discursar na abertura oficial da Conferência da Cúpula do Clima (COP 26), uma das mais aguardadas dos últimos anos. Pareceria improvável, mas acabou de acontecer. Txai Suruí representou o Povo Paiter Suruí e os Povos Indígenas do Brasil com um discurso repleto de referências e verdades em que resumiu o propósito do ativismo ambiental: “Vamos frear as emissões de promessas mentirosas e irresponsáveis; vamos acabar com a poluição das palavras vazias, e vamos lutar por um futuro e um presente habitáveis”.
A repercussão de sua fala é um forte sinal da urgência do longo prazo e de que acabou a tolerância das novas gerações com compromissos que não se traduzem em ações práticas. O futuro chegou. Nas palavras da sueca Greta Thunberg, outra ativista que é porta-voz de sua geração: “deveria ser óbvio que não podemos resolver uma crise com os mesmos métodos que levaram ao início dessa crise”. Problemas globais e urgentes como mudanças climáticas afetam todos nós. E temos a responsabilidade compartilhada de resolvê-los.
Ao menos nos discursos, a pressão parece ter gerado algum efeito. Em seu discurso na abertura da COP 26, o anfitrião Boris Johnson declarou que as “gerações futuras não vão nos perdoar se falharmos”. Por sua vez, o secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou que “Se os compromissos forem insuficientes ao final desta COP, os países devem revisar seus planos e políticas climáticas nacionais — não a cada cinco anos, (mas) a cada ano e a cada momento”. Ele também afirmou que há um “déficit de credibilidade e um superávit de confusão sobre as reduções de emissões e metas líquidas de zero”.
Para além das respostas e discursos, o ativismo das novas gerações lembra que é fundamental uma mudança urgente e ampla de mentalidade. Precisa ficar no passado a visão que costumava associar progresso e desenvolvimento a degradação (expressa paroquialmente em frases como “quando cheguei aqui era tudo mato”), até porque já está claro que boa gestão de impactos socioambientais é sinônimo de melhores resultados, com controle de riscos e captura de oportunidades. A economia regenerativa se tornou essencial: não é sobre fazer filantropia ou compensação. Trata-se de pensar os próprios negócios, mas com um olhar mais abrangente, tanto no prazo quanto nos indicadores a serem medidos. Dá trabalho, mas vale a pena.
Nesses momentos, lideranças inspiradoras e certezas bem fundamentadas são ainda mais importantes. Vivemos uma ascensão do populismo, da fragmentação e de conflitos de diferentes origens. Por isso, é reconfortante e necessário encontrar bases comuns sobre as quais seja possível estabelecer diálogos e descobrir caminhos conjuntos. É disso que se trata a agenda da sustentabilidade.
É verdade que em um mercado como o nosso ainda é preciso avançar muito na conscientização de que toda escolha tem consequências e impactos no mundo — as chamadas externalidades. É urgente que a nossa cultura empresarial deixe de mirar os resultados de curto prazo e passe a atuar de forma efetiva nos assuntos que afetam outras pessoas, o ambiente ou o futuro do próprio negócio. Como resumiu o conselheiro sênior de Políticas Públicas do PNUD, Paul Ladd, “somos a primeira geração que tem os recursos e tecnologias para eliminar a pobreza, mas somos provavelmente a última geração que pode impedir que a mudança global do clima destrua tudo o que temos.”
*Danilo Maeda é head da Beon, consultoria de ESG do Grupo FSB
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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