Princípios como liberdade, igualdade e autodeterminação são essenciais às práticas ESG. (manusapon kasosod/Getty Images)
Bússola
Publicado em 7 de setembro de 2021 às 10h00.
Por Danilo Maeda*
Nos últimos meses, tornou-se comum dizer que “ninguém está completamente bem” ou que temos feito o melhor possível diante das circunstâncias. É fato que vivemos tempos difíceis. Como sociedade e como indivíduos, sentimos na pele os efeitos simultâneos das crises sanitária, econômica, política/institucional, social, climática, hídrica e energética, entre outras. A lista é extensa e cada uma traz suas próprias tragédias e efeitos nas demais.
Neste 7 de setembro, por exemplo, estamos tão ocupados com a crise política e institucional em pleno Dia da Independência que parece não haver tempo para falar da interdependência entre democracia e sustentabilidade. O fato é que uma não existe sem a outra. A primeira só é viável no longo prazo com respeito e uso responsável dos recursos ambientais e sociais, sob o risco de inviabilizar a vida das gerações futuras. Da mesma forma, a ideia de sustentabilidade só pode ser obtida dentro de regimes democráticos que respeitem princípios como liberdade, igualdade e autodeterminação.
Uma das virtudes da definição de Desenvolvimento Sustentável presente no relatório “Nosso Futuro Comum” é que diferentes correntes ideológicas conseguem concordar com a premissa de “atender às necessidades de hoje sem comprometer a capacidade das próximas gerações atenderem as suas”. Apenas em uma democracia saudável e com respeito às regras do jogo será possível nos concentrarmos nos pontos em comum que viabilizam a construção de pontes, diálogos e coordenação necessários para alcançar esse tipo de desenvolvimento.
A interdependência é clara, como atesta há mais de dez anos o IDS (Instituto Democracia e Sustentabilidade). Mas o que isso significa para nós? Como indivíduos e organizações, é fundamental agir na defesa e aprimoramento da democracia. Trata-se de um bem valioso e imprescindível. Nas empresas, famílias e no terceiro setor é comum cuidar dos próprios impactos socioambientais ou abraçar causas sociais. Uma postura que costumamos chamar de “cidadã”, mas que ainda não se reflete de forma ampla no engajamento com políticas públicas estruturantes e na própria promoção de valores democráticos.
A onda ESG não provocará mudanças relevantes se não estiver baseada em transparência, governança e um ambiente de cooperação. Semanas atrás, comparei a proximidade do colapso climático com um barco em um rio cuja correnteza empurra para uma cachoeira altíssima. Algumas pessoas percebem o risco e remam na direção oposta. Outros ficam paralisados.
Um terceiro grupo rema em direção ao abismo. O ponto era evidenciar a necessidade de coordenação para evitar a catástrofe. Adiciono agora um novo elemento à analogia: pense no barco como a democracia. Dependemos dela para chegar onde queremos como sociedade. Sem ela, afundamos todos. Por isso é fundamental garantir que o barco da democracia não se quebre em meio às disputas de seus ocupantes.
*Danilo Maeda é diretor de ESG no Grupo FSB
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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