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ESG: Califórnia deve confirmar lei que obriga empresas a reportar carbono

Governador do estado afirmou no último domingo que sancionará projeto histórico que determina divulgação de emissões de toda a cadeia, ou seja, as diretas e as indiretas

A partir de 2027, divulgar todas as emissões passará a ser obrigatório (Getty Images/Getty Images)

A partir de 2027, divulgar todas as emissões passará a ser obrigatório (Getty Images/Getty Images)

Renato Krausz
Renato Krausz

Sócio-diretor da Loures Consultoria - Colunista Bússola

Publicado em 21 de setembro de 2023 às 14h10.

Última atualização em 6 de novembro de 2023 às 17h37.

Os olhos de muita gente, em especial do pessoal do ESG, estavam voltados para a Califórnia desde a semana passada, quando o Senado estadual aprovou uma lei determinando que toda empresa de capital aberto ou fechado com faturamento superior a 1 bilhão de dólares por ano deverá divulgar regularmente o seu espectro completo de emissões de carbono. Trata-se de algo absolutamente inédito, capaz de mexer não apenas com a economia californiana, mas também com a dos Estados Unidos e do resto do mundo, uma vez que muitas das empresas que operam no estado são globais.

Ninguém sabia como reagiria o governador do estado, o democrata Gavin Newsom. Na real, ele ainda não reagiu. Tem até o dia 14 de outubro para sancionar ou rejeitar a nova lei. Mas as pressões desfavoráveis começaram imediatamente após a votação no legislativo, e até mesmo o departamento de finanças do estado se manifestou contra. Contudo, numa entrevista a um repórter do New York Times num evento no último domingo, ele disse que vai assinar.

A obrigação para divulgar todas as emissões começará a valer em 2027. Estão inclusas aí as emissões de escopo 1 (oriundas das próprias operações da empresa), escopo 2 (compra de energia) e escopo 3 (de toda a cadeia, dos fornecedores aos consumidores, incluindo até o transporte dos funcionários). Mais de 5 mil empresas terão de se enquadrar, como a gigante de óleo e gás Chevron e a de tecnologia Apple – que, aliás, é defensora do projeto.

“O fato de um único estado fazer isto é potencialmente preocupante e potencialmente promissor”, disse ao New York Times o diretor do programa de Economia Ambiental de Havard, Robert Stavins. Preocupante, segundo ele, porque uma empresa bilionária que possua somente 35 dólares de atividade na Califórnia pode ser igualmente afetada. E promissor porque há nos Estados Unidos uma longa história de a Califórnia inovar em questões ambientais e ser seguida depois por outros estados, além de, eventualmente, o governo federal.

O fato é que estamos perdendo a luta para conter as emissões de gases do efeito estufa e, nas palavras do secretário-geral da ONU, António Guterres, a humanidade saiu da era do aquecimento global para entrar na da “ebulição global”. O último mês de julho foi o mais quente já registrado na Terra.

Empresas do mundo todo traçaram ambições se lançaram no desafio de reduzir sua pegada de carbono, algumas com mais e outras com menos afinco, mas como cuidar disso direito se nem é sabido quanto cada uma emite na cadeia completa? Por essas e outras, a nova lei da Califórnia tem tudo para ser um divisor de águas nessa batalha e, tomara, seja seguida pelo resto do mundo.

Mas há riscos, como sempre. O primeiro deles é a judicialização. Outro, pior, é que as empresas simplesmente decidam sair do estado. O tempo dirá. O diacho é que isso é o que mais nos falta. Tempo.

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