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ESG: Artilharia boa para derrotar o machismo

Livro “Sou Mulher, Sou Líder”, de Leny Kyrillos e Cássia Godoy, é um guia poderoso para ajudar mulheres a driblar os percalços rumo onde elas sempre deveriam estar: no topo

Leny Kyrillos e Cássia Godoy, no lançamento de “Sou Mulher, Sou Líder”, em São Paulo (Cesar Ogata/Divulgação)

Leny Kyrillos e Cássia Godoy, no lançamento de “Sou Mulher, Sou Líder”, em São Paulo (Cesar Ogata/Divulgação)

Renato Krausz
Renato Krausz

Sócio-diretor da Loures Consultoria - Colunista Bússola

Publicado em 16 de março de 2023 às 15h50.

Última atualização em 6 de novembro de 2023 às 17h46.

A Mariana, minha filha caçula, tinha 7 aninhos e certa vez me perguntou na hora de se deitar, após o beijo de boa noite: “Papai, é verdade que antigamente alguns homens achavam que as mulheres não podiam fazer o que eles fazem?”

Por sorte anotei a pergunta num bloco de notas digital em que eu já reunia dezenas de outras frases mirabolantes que a Mari proferiu desde que aprendera a falar. Do contrário, talvez essa pergunta tão importante se perdesse na corrosão natural das memórias. A minha resposta eu não anotei, mas lembro muito bem qual foi: “É verdade, sim, Maricota, e isso acontece ainda hoje, só que menos. Mas nunca vai acontecer com você, e sabe por quê? Porque você é muito forte e não deixará que homem nenhum lhe diga o que você pode ou não fazer”.

E então ela, que linda, levantou os dois bracinhos para mostrar os muques, sorrindo aquele sorriso que mais bonito nunca existiu. Aí o tempo partiu no primeiro voo, e hoje a Mari está com 16 anos. Tornou-se uma adolescente bastante segura e ciente de suas muitas forças. Na longa vida que terá pela frente, ela felizmente enfrentará menos machismo do que as mulheres nascidas antes dela no tal do “antigamente”, mas ainda assim precisará afrontá-lo. E saberá muito bem como fazê-lo.

Como pai dela, serei imensamente jubiloso se, ao fim e ao cabo, quando chegar a hora de me despedir desse mundo, eu possa ir com a certeza de que consegui ajudá-la nesta jornada. Em primeiríssimo lugar, não tendo sido jamais machista com ela. E sempre tentando facilitar a ela o acesso a armas capazes de vencer essa chaga.

Ontem mesmo deixei na cabeceira de sua cama mais uma peça dessa artilharia, o livro Sou Mulher, Sou Líder, escrito pela Leny Kyrillos e pela Cássia Godoy e lançado no último 8 de março, pela Editora Contexto. O subtítulo diz se tratar de “um guia para se comunicar com sucesso”, o que é uma definição magistral.

O livro junta com muita sabedoria depoimentos instigantes de 13 mulheres que se tornaram grandes líderes a um embasamento teórico parrudo, e dessa mistura se torna possível pinçar características comportamentais que outras mulheres podem desenvolver para driblar com mais facilidade os muitos percalços que precisam enfrentar para chegar mais longe.

O fundamento teórico aparece ao longo de toda obra calcado em dezenas de pesquisas de universidades mundo afora que Leny, doutora em ciências dos distúrbios da comunicação, gosta de garimpar e esmiuçar para deixar impecáveis os treinamentos que dá e imperdíveis os livros que escreve.

Por exemplo: você sabia que, em geral, uma mulher só aceita um novo cargo quando se sente 100% preparada para a função, enquanto para um homem basta ter 60% dos requisitos? Esse deve ser um dos fatores (são taaaantos) que explicam por que, uma vez lá nos cargos de liderança, os resultados que elas entregam são melhores. Não é opinião minha, apesar de eu concordar com isso fervorosamente. É um fato: a participação feminina leva os resultados nos negócios, na política e em outras áreas a um outro patamar, muito mais elevado.

Sou Mulher, Sou Líder traz dicas valiosas para ajudar as leitoras a identificar pontos fortes e a vencer a autossabotagem e a enaltecer os diferenciais que possuem em relação aos homens (são taaaantos). Existem meios para que o êxito profissional delas seja ainda mais notável, mesmo correndo numa pista desigual. O livro de Leny e Cássia trata de tudo isso. Esses meios envolvem autoconhecimento, técnicas de comunicação e valorização de atributos femininos historicamente escamoteados em prol de um modelo de sucesso masculino, que, cada vez mais, aqui vale citar Emily Dickinson, soa como o eco oco do triunfo.

Nós, homens, temos uma tarefa pela frente: compreender que o mundo que emergirá com a diversidade e a plena igualdade de gênero é mil vezes melhor do que esse nosso atual. Para isso, é fundamental ter a coragem de largar o osso. A covardia retroalimenta a discriminação. Talvez este seja o principal tipo de machismo que a Mariana vai enfrentar em sua vida. Mas sempre muito forte. Sempre determinada. Sempre com as melhores armas, que encontrará por si e com ajuda das outras mulheres – e, quem sabe, com uma ajudinha deste pai apaixonado.

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