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ESG: Adeus, aterros, rios e oceano. Lugar de garrafa PET é a reciclagem

Conheça a Green PCR, empresa de Campinas que já recicla 3 milhões de garrafas por dia e vai dobrar a produção até o fim do ano

Fábrica da Green PCR em Itobi (SP) (Bússola/Reprodução)

Fábrica da Green PCR em Itobi (SP) (Bússola/Reprodução)

Renato Krausz
Renato Krausz

Sócio-diretor da Loures Consultoria - Colunista Bússola

Publicado em 9 de fevereiro de 2023 às 12h35.

Última atualização em 6 de novembro de 2023 às 17h47.

Um dos grandes embaraços para implementar a economia circular é a teimosia das coisas que se recusam a fazer justamente isso, circular. Não por culpa delas, obviamente, é sim nossa. E dessa propensão atávica que temos para produzir, usar e descartar.

Isso tende a mudar rápido, eu aposto. E pode-se citar ao menos três motivos:

1. a tomada de consciência, ainda que tímida, mas em ascensão, entre CPFs e CNPJs, de que o caminho atual é o da autodestruição; 2. a pressão sobre as grandes corporações, vinda de investidores e consumidores; e 3. a futura precificação do passivo ambiental de materiais virgens que até hoje são cobrados exclusivamente pelo valor da commodity de onde vêm.

Um indicativo de que essa mudança já está em curso é a quantidade de garrafas PET recicladas atualmente por uma única empresa brasileira, a Green PCR, de Campinas. São 3 milhões. Por dia! E a empresa deve dobrar este número até o final do ano, graças a um investimento de R$ 200 milhões feito pela eB Capital. São garrafas que, até um tempo atrás, iam parar em aterros ou em rios ou no mar.

Demanda para essa produção em dobro existe. As grandes indústrias que usam PET para envasar os mais diferentes produtos, em razão de uma mistura dos motivos listados acima, agora estão indo atrás do produto reciclado com muita sede ao pote – eita, minha editora havia dito que o próximo trocadilho renderia cartão vermelho.

A Green PCR foi pioneira no Brasil no processo conhecido como bottle to bottle, que consiste em pegar uma garrafa usada e lançá-la a numa jornada de seleção, trituração, transformação em flocos, depois em grãos, que são descontaminados e levados para a preforma e, por fim, ao sopro, que gera uma nova garrafa. Hoje, a empresa renunciou às etapas finais e vende os grãos para outras indústrias terminarem o serviço.

E haja grãos. As 3 milhões de garrafas compradas diariamente rendem 3 mil toneladas de PET reciclado por mês. E o valor desse produto só aumenta. “Em 2004, um quilo de PET usado custava vinte centavos. Hoje está saindo por R$ 4”, diz o CEO da Green PCR, Renato Caruso, um engenheiro formado pelo ITA que sempre trabalhou com plásticos. Começou na Rhodia e, há 20 anos, deixou a empresa para empreender. Cerca de quatro mil pessoas, nesta cadeia, incrementam sua renda familiar com as garrafas.

São números grandiosos por um ponto de vista, mas tímidos por outro. Só metade dos plásticos PET produzidos no Brasil hoje é reciclada. Nos Estados Unidos, país em que a tríade “produzir-usar-descartar” atinge a catarse, esse número não chega nem a 15%. Instalar a triagem praticamente “na porta” dos aterros seria uma solução interessante, acredita Caruso. E precisamos aprimorar e acelerar as legislações envolvidas na coisa. Somente em 2015 a Anvisa autorizou o uso de PET reciclado na indústria de alimentos. Antes, só podia para embalagens de detergentes e coisas semelhantes. Como a Green PCR já cumpria os protocolos, foi logo certificada. Mas a homologação por um gingante do setor, a Coca-Cola, só veio em 2017. Pela Ambev, em 2019.

É fundamental também a questão de precificar os passivos ambientais. Aí, sim, a chave vira de vez. E, por sorte, vale lembrar de uma coisa: o PET pode ser reciclado infinitas vezes. Eternamente.

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