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Enquanto a Europa discute a 2ª onda, no Brasil a 1ª perde metade da força

Diretor do Instituto FSB Pesquisa analisa as estatísticas de casos de coronavírus e traça um panorama da curva da doença no país

No Brasil, a média diária de mortes cai em ritmo forte, nacionalmente e nos estados (Bloomberg/Bloomberg)

No Brasil, a média diária de mortes cai em ritmo forte, nacionalmente e nos estados (Bloomberg/Bloomberg)

Isabela Rovaroto

Isabela Rovaroto

Publicado em 19 de outubro de 2020 às 09h52.

Última atualização em 19 de outubro de 2020 às 09h52.

Alguns países europeus discutem a chegada de uma segunda onda da pandemia de coronavírus. Depois de a vida retomar parcialmente alguma normalidade, em vários locais da Europa voltaram a ser adotadas restrições e algumas medidas obrigatórias de isolamento social, incluindo novo fechamento de escolas e até toque de recolher. França, Itália, Holanda, Bélgica, Suécia, Suíça e Alemanha são alguns dos países que começam a enfrentar uma nova escalada de casos da pandemia e, por isso, voltam a tentar restringir a circulação de pessoas.

No Brasil, que viveu um dos piores ciclos da pandemia no mundo todo, estamos em um momento distinto. A média diária de mortes cai em ritmo forte, nacionalmente e nos estados. Mas por aqui ainda não falamos em ameaça de segunda onda. Na verdade, ainda não saímos da primeira, que perdeu força, mas não se desfez por completo.

Em todo o globo, o Brasil é segundo país com mais mortes registradas, atrás apenas dos Estados Unidos, e a nação com a terceira maior mortalidade proporcional ao tamanho de sua população (727 mortes por 1 milhão de habitantes), “perdendo” apenas para Peru (1.018 por 1 milhão) e Bélgica (896 por 1 milhão).

A média móvel de 7 dias (calculada somando os registros de óbitos por Covid-19 dos últimos 7 dias e dividindo-se por 7) recuou ontem para 488 mortes/dia. É o menor índice desde 8 de maio, ou precisos 163 dias. A média atual é 56% inferior ao patamar recorde, de 1.097 mortes/dia, registrado em 25 de julho. Mesmo as médias móveis mais longas (de 14, 21 e 28 dias) vêm caindo constantemente (veja gráfico).

Comparação da média móvel de óbitos em 7,14 e 21 dias no Brasil

Comparação da média móvel de óbitos em 7,14 e 21 dias no Brasil (Bússola/Divulgação)

A semana terminada neste domingo somou 3.417 mortes. Foi o melhor período de 7 dias em 24 semanas consecutivas, ou seis meses. A pior foi a semana que terminou no domingo 26 de julho, com 7.516 mortes acumuladas. Ou seja, uma melhora de 55%.

Acumulado de mortes por semana terminada em um domingo

Acumulado de mortes por semana terminada em um domingo (Bússola/Divulgação)

Assim como a média móvel de mortes, a de novos casos também vem caindo em ritmo parecido. Hoje, temos em média 20 mil casos sendo registrados por dia. O recorde girou em torno de 46,5 mil, no final de julho. A média atual é 57% inferior ao patamar recorde.

Importante notar que todos os indicadores recuam em torno de 55% em relação ao pior momento da pandemia. A onda hoje tem metade do tamanho que já teve, mas ainda assim é uma onda grande.

Internações

Outro sinal positivo vem das estatísticas de internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que inclui doenças respiratórias, entre elas a Covid-19. De acordo com dados do Ministério da Saúde, a última semana epidemiológica completa registrou 13.180 internações por SRAG em todo o país, o menor patamar em 28 semanas. A última semana epidemiológica teve um número de internações 63% inferior ao da pior semana do ano.

Mesmo assim, o número de internações ainda é muito superior à mesma semana do ano passado. O volume de 13.180 internações registrado agora é 20 vezes superior ao ocorrido no mesmo período de 2019. Mas ainda assim há uma melhora. Há quase três meses, essa relação 2020 versus 2019 era de 27 vezes mais internações.

Acumulado de mortes por semana terminada em um domingo

SRAG hospitalizado por semana epidemiológica desde o início dos sintomas (Bússola/Divulgação)

Por onde quer que se analise, as estatísticas oficiais mostram melhoras. Menos mortes, menos casos e menos internações por doenças respiratórias graves. Mas isso não significa que o Brasil está livre de uma eventual 2ª onda. Na verdade, ainda não saímos completamente da primeira. Do início de junho ao final de agosto, ficamos no alto da montanha, no chamado platô (quando o número médio de mortes não cresce, mas também não cai). Desde a última semana de agosto, começamos a descer a montanha. Mas ainda estamos no meio do caminho.

Para que o país não volte a escalar, é preciso manter todos os cuidados, levando a sério a substituição do isolamento social pelo distanciamento social, com uso de máscaras e álcool gel.  A melhora nos indicadores não permite o relaxamento completo, até porque muitos países da Europa têm dado sinais cada vez mais claros de que a segunda onda está logo ali, à espreita.

*Sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa

 

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