Corrigir o percurso da cadeia de suprimentos na moda é um trabalho árduo e que exige um esforço global (Ale Gustavo/Reprodução)
Bússola
Publicado em 9 de fevereiro de 2022 às 15h37.
Última atualização em 9 de fevereiro de 2022 às 15h51.
Por Emannuelle Junqueira*
Pela primeira vez na história, gigantes da moda se uniram para patrocinar, junto com a CottonConnect, plataforma que dá apoio a empresas que querem ajudar a melhorar a sustentabilidade das cadeias de suprimento na indústria têxtil, um estudo sobre a agricultura regenerativa.
Os resultados são extremamente importantes para a indústria: a saúde no longo prazo do setor depende diretamente do desenvolvimento de sistemas mais eficientes e, acima de tudo, resilientes. A parte boa é que as práticas regenerativas também trazem uma série de benefícios sociais e ambientais. A difícil é que já não há mais tempo a perder.
A moda não pode se dar ao luxo de negligenciar o assunto, diz a organização Global Textile Exchange no relatório “Análise da Paisagem da Agricultura Regenerativa”. Com a análise de material coletado em anos de pesquisa, ele traz informações sobre como é fundamental ajudar a construir carbono no solo, como isso colabora para a redução das concentrações de gases no efeito estufa no ar, melhora a capacidade de retenção de água, a biodiversidade e a resiliência às condições climáticas extremas.
Para a consultoria, trata-se do elo perdido. Ali, empresas encontram os melhores projetos certificados, material de apoio para traçar metodologias de medição de impacto e para desenvolver modelos financeiros de transição — o material, acredite, vale a leitura.
Corrigir o percurso da cadeia de suprimentos na moda é um trabalho árduo e que exige um esforço global. Por experiência própria, sei quanto nadar contra a maré pode ser complicado. Exige, acima de tudo, mais do que comprometimento. É preciso encarar a necessidade de fazer diferente como uma verdadeira missão.
Encarar o dia a dia em um empreendimento com a disciplina e a responsabilidade que as relações com fornecedores demandam é complexo, mas indiscutivelmente é uma das bases para qualquer negócio. E como todo desafio, esse nos traz oportunidades diárias.
As dificuldades de importação em meio à pandemia me fizeram criar um dos mais importantes ativos que vejo hoje no ateliê que leva meu nome. Criamos um tecido exclusivo, o primeiro linho de seda produzido no Brasil. Sempre utilizei muito no meu trabalho, mas antes de ficar difícil importar, nunca levei a sério de verdade a ideia de ter meu próprio tecido.
Hoje, ofereço um material de altíssima qualidade — algo primordial na construção de roupas — e exclusivo, que tem sido muito bem recebido. Ao me unir a um fabricante centenário, como o Werner Tecidos, vivi uma das melhores experiências da minha vida profissional, da qual tenho muito orgulho.
Outro ponto importante do relatório que abre esse texto é muito claro: a mudança precisa acontecer como um todo. Se a pandemia não nos ensinou que existem problemas que irão nos obrigar a nos unir para que possamos resolvê-los, talvez esse seja mais um exemplo. A união entre pessoas e marcas com os mesmos interesses, em torno da busca por soluções para os mesmos problemas, é que fará diferença.
As mudanças acontecem a partir das conexões de verdade: sua cadeia de fornecedores não pode ser meramente composta por quem te entrega material ou suprimentos mediante pagamento e fim. Escolher seus fornecedores é um luxo. Tomar decisões é um luxo. Ser capaz é bom, mas ter condições para isso é ainda melhor. E se você tem, lembre-se que essa é também uma responsabilidade enorme que esse luxo traz.
Somos muito mais fortes quando nos unimos com pessoas, marcas e empresas que pensem parecido, que tenham valores e princípios semelhantes e que estejam dispostas a fazer a mesma diferença no mundo que você e sua empresa buscam imprimir.
A pandemia reforçou a importância das conexões, do pensar e do agir em conjunto — e que nos sejam instintivos os impulsos de fazer o que é melhor para nós e para o mundo.
*Emannuelle Junqueira é diretora criativa da marca que leva seu nome, designer, empreendedora e apresentadora do Prova de Noiva no Discovery H&H
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