Alexandre Amorim, presidente do Serpro (Anderson Riedel - Serpro/Divulgação)
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Publicado em 17 de novembro de 2025 às 13h00.
3 anos e R$ 1 bilhão foram necessários para construir a Nuvem de Governo, projeto do Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) voltado para garantir soberania nacional sobre o processamento de dados públicos.
Antes da Nuvem de Governo, os dados permaneciam em nuvens públicas, com servidores localizados em diferentes partes do país. O projeto criou infraestrutura em solo brasileiro, em uma rede privada controlada pelo Serpro.
Isso impede que, por exemplo, as big techs americanas possam solicitar às suas unidades brasileiras o compartilhamento de dados públicos.“Os dados são o novo petróleo, e o Serpro tem a maior jazida nos dias de hoje. O que foi pensado foi justamente uma infraestrutura com a empresa como provedor, garantindo uma nuvem segura para os dados do governo”, explica Alexandre Amorim, presidente da estatal.
O executivo chegou à empresa em 2023. Em 2024, sob sua liderança, ela alcançou seus maiores resultados e um salto de produtividade e inovação já registrados, com faturamento de R$ 4 bilhões e lucro de R$ 685 milhões, 52% superior ao do ano anterior.
A gestão investiu, em tecnologia e infraestrutura, cerca de R$ 350 milhões e diminuiu os custos operacionais em 26%. Junto a isso, foram admitidos 880 novos concursados.
Conversamos com Alexandre Amorim sobre os feitos mais recentes, como a Nuvem de Governo e a plataforma da Reforma Tributária de Consumo. Na entrevista, exploramos como a gestão voltada para a soberania digital foi central na estratégia de Amorim.
Ela opera dentro do data center do Serpro, com soberania operacional e de dados. Ele não tem acesso fora do país. Então, se alguém quiser pegar esses dados ou ter que pedir esses dados, não consegue.
O projeto começou em maio de 2023, quando assumi, e visa que os dados sensíveis e os dados estruturantes do país estejam num ambiente soberano. O Serpro é a primeira empresa na América Latina a ter esse tipo de tecnologia e oferecer isso a seus clientes.
Conseguimos a partir de termos de cooperação com as principais big-techs globais. É resultado de um trabalho conjunto de muita capacitação e muito treinamento também por parte dos nossos funcionários.
Esse movimento é acompanhado da evolução dos nossos contratos de parceria. O Serpro se posiciona como o principal stakeholder dentro da relação do mercado nacional e o mercado internacional. Todas as empresas internacionais tiveram também que se adaptar ao modelo de negócio brasileiro.
Temos contratos com Huawei, Google, Oracle, Microsoft, AWS, mas a nuvem está num ambiente onde o Serpro consegue operar 100% sem contato com a nuvem pública. É uma nuvem privada.
Esse foi o caminho que tomamos para priorizar a agilidade. Um próximo para a soberania seria desenvolver software inteiramente brasileiro.
Em termos técnicos, queremos pegar o workload – que é a estrutura das plataformas que estão em outras nuvens – e começar a migrar para a nossa. Atualmente, Ministério da Fazenda, Ministério da Saúde e Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos são alguns que já operam utilizando a Nuvem.
O Ministério da Fazenda, em especial, a utiliza com outra conquista recente nossa: a plataforma da Reforma Tributária de Consumo. Ela começou a ser construída em agosto de 2024 e entrou em ambiente de teste em junho deste ano.
Para se ter uma ideia, esse sistema, em termos de volume, é 150 vezes maior que o Pix. Hoje processamos uma ordem de 70 operações por segundo. Em 2026, quando estiver plenamente estabelecido, ele terá 7 mil por segundo.
Hoje temos aproximadamente 500 empresas já utilizando a plataforma da Reforma Tributária no ambiente piloto. A plataforma da Reforma Tributária integra mais de 14 sistemas atuais e são 140 desenvolvedores trabalhando com arquitetura super moderna.
É a maior. Não tem uma outra plataforma com arquitetura, com versatilidade, com elasticidade ou capacidade comparáveis. É uma grande entrega nossa. Tudo isso seguindo crescendo.
Até setembro, tivemos um lucro de R$ 527 milhões, que é um aumento de quase 24% em relação ao ano anterior. A receita continua subindo e estamos investindo na nossa atividade principal que é tecnologia e inteligência e já estou deixando contratos para 2026 que farão o Serpro faturar na ordem de R$ 7 bilhões. Quando assumi eram R$ 3,6 bilhões.
O Serpro já trabalha com inteligência artificial desde 2018. O que nós fizemos foi adotar plataformas de IA para aumentar a produtividade e a resolução das nossas soluções e plataformas.
Nós treinamos um grande volume de funcionários para isso. O Serpro tem aproximadamente dois mil desenvolvedores. Treinamos boa parte para atuar com IA no desenvolvimento e na arquitetura de software.
A IA também foi adotada nas plataformas de segurança, diminuindo a vulnerabilidade de nossas soluções. Na Receita Federal, com o Imposto de Renda, já tem IA integrada, fazendo análise de toda essa matriz de dados
Também começamos a produzir o nosso acervo para que tenha uma LLM com a semântica brasileira. Lançamos um edital procurando uma parceria, para que o mercado apresente ao Serpro uma solução de LLM brasileira.
Temos um trabalho forte nesse aspecto da IA soberana. Uma IA para chamar de nossa, né? Tudo com data lake, base de dados, operada 100% por nós.
O Serpro não pode se tornar uma ilha entendendo que é detentor de todas as tecnologias. Se nós não dialogarmos com ambientes de inovação e novas tecnologias, nós seremos sempre reféns delas.
Então, atuar com o mercado, é deixar de ser só um consumidor para também se apropriar desse saber, e produzir em cima. Isso, para o Serpro produzir tecnologia e ser desenvolvedor de tecnologia. Não só ser consumidor e integrador de soluções de fora para produzir as suas plataformas.
Nossos resultados nas parcerias com o setor privado estão na ordem de R$ 300 milhões em contratos já assinados em 2025, para 2026 só em nossa plataforma multcloud temos uma estimativa faturamento de R$ 450 milhões e em nuvem de governo a projeção é de R$ 550 milhões, totalizando R$ 1 bilhão para o próximo ano.
Trata-se na realidade de uma verdadeira antropofagia tecnológica, pois incorpora-se soluções de ponta de fora ao mesmo tempo em que se investe para avançar nas capacidades e times nacionais.
É essa união que fortalece nossa missão de garantir inovação com soberania, colocando o Brasil em um novo patamar de maturidade digital.
E como se faz isso? Com investimento contínuo em formação de pessoas, se apropriando de ferramentas e as integrando às nossas. Dialogamos com o mercado por isso e pelo tempo de resposta. Porque o cidadão precisa de melhores serviços, não é amanhã, é hoje.
Vemos o Serpro como uma empresa espetacular, onde trabalham talentos ímpares. Onde a tecnologia habita. Isso é muito importante e nunca poderia ser comercializado. Não poderia ser privatizado.
O Brasil tem pressa. É preciso investir e aumentar as capacidades nacionais, porém não é inteligente começar tudo do zero. É função das empresas públicas investir e colaborar para o desenvolvimento do Brasil. Temos muitos casos de sucesso como a Petrobrás, a Embrapa e também o Serpro.
O modelo de reconstrução da identidade que nossa gestão deu para o Serpro é o que valoriza essa empresa e o que deu o destaque desse período em que a consolidamos como protagonista das empresas estatais no Brasil.
No futuro, vejo o Serpro estabilizado e sendo cada vez mais a infraestrutura digital e tecnologia nacional, fazendo com que a gestão pública tenha resposta mais rápida, que permita políticas preditivas e afins.
Vejo a empresa como norte na soberania digital, garantindo que os dados possam ser acessados com segurança. Que possamos acessar o estado na palma da mão. Vislumbro esse país exercendo sua liderança, que já é nata, no mundo da transformação digital.