(Magic Algodão/Divulgação)
Repórter Bússola
Publicado em 14 de agosto de 2025 às 13h00.
O bem-casado é um doce muito bom, mas pode ser melhor. Foi o que Luana Caravellas pensou enquanto fazia sua primeira pesquisa de mercado. Aos 14 anos, começou a empreender para ajudar a família, montando, com a mãe, um buffet que vendia os doces no sabor chocolate – coisa que ninguém fazia na época.
A jovem mal sabia que estava desenvolvendo algo que todo empreendedor precisa: a capacidade de inovar e criar diferencial. 15 anos depois, ela fundou a Magic Algodão, empresa do setor de festas que projeta um faturamento de R$ 4 milhões este ano.
As crianças que encontram Magic em festas, como os aniversários dos filhos de famosas como Sabrina Sato, Ivete Sangalo e Virginia Fonseca, se deparam com uma versão lúdica do algodão doce – com formato de ursinhos, de unicórnios, ou com a cara do Sonic ou do Goku.
Os adultos podem encontrar o doce na forma de logotipos em eventos corporativos de marcas como a Lacoste e a Carmed, ou mesmo na experiência D23 da Disney. A Magic Algodão fez cerca de 120 eventos por mês em 2024 e mais de 720 no primeiro semestre deste ano – crescimento de 20%.
“Para ser sincera, por mais que a gente entenda dos números e entenda muito bem do mercado, eu ainda me impressiono. Acho incrível a possibilidade de um produto que não é nada óbvio, ter um crescimento tão significativo", Luana conta, lembrando do investimento inicial que foi de apenas R$ 2 mil e que virou R$ 2 milhões em três anos.
Mas como ela gosta de ressaltar, nada vem do nada. Tudo é experiência e, como muitos, Luana começou com a vontade e o prazer de empreender, mas sem nenhuma garantia de sucesso. Ela aprendeu a fazer sucesso descobrindo, primeiro, como é falhar.
Luana é natural de São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Aos 24 anos, ela e o namorado investiram cerca de R$ 50 mil em um quiosque de tapioca. O preço não era compatível e, no andar de cima do shopping onde ficava, um Habib's recém aberto tomou todo o público para si.
O empreendimento faliu e, depois do processo de fechamento, os dois ficaram sem nada. Luana, que cursava pós-graduação em Ciências Sociais, se viu em uma encruzilhada.
“O que já estava ruim ficou pior, e precisei tomar uma decisão. Meu sonho era ser acadêmica, mas levaria alguns anos até conseguir ser professora universitária e eu precisava de dinheiro imediatamente. O empreendedorismo era a saída”, conta.
Apesar do luto pela carreira acadêmica, ela decidiu apostar todas as fichas no empreendedorismo. Assim, começou a resgatar o que já tinha aprendido até então: como gerar exclusividade.
Luana cresceu vendo o pai, que trabalhava como vendedor em buffet, chegar em casa e comemorar com a família dizendo “hoje vendi assim”, “hoje vendi assado!”. A mãe também estava no setor de eventos e, como salgadeira, ganhava no máximo R$ 30 por dia. As duas figuras a inspiraram.
Com a vontade de empreender para ajudar a família e pelo prazer dos negócios, ela viu no bem-casado seu primeiro produto. “Lembro de perguntar na festa de uma coleguinha e ouvir uma tia responder ‘é bem-casado, um doce caro’. Aí que meus olhos cresceram”.
Ela ligou para a doceria para saber o preço, passou horas desenvolvendo o produto, criou o sabor chocolate como diferencial e fez sucesso em casamentos com o buffet montado com a mãe. Quando o quiosque faliu, ela olhou para trás para começar uma jornada para descobrir seu novo produto inovador.
"Caramba, agora eu não tenho nada, pensei. Então o que que eu vou fazer para conquistar alguma coisa? E eu queria algo diferente, queria inovação. Fiquei semanas nessa procura, mas não achava. Então tive um insight: se eu não tô achando nada em português, eu vou usar o meu conhecimento para procurar em outras línguas”
E foi na foto de um artesão chinês que ela encontrou sua próxima grande sacada.
A foto que inspirou Luana (Reprodução/Reprodução)
“Sempre digo que temos um oceano de ideias à mão, o segredo é saber desbravá-lo. Eu encontrei a foto de uma pessoa com uma flor gigante de algodão doce e pensei: é um doce barato, feito só de açúcar e corante. Como que eu faço para produzi-lo?”, conta.
Não foi fácil. Na pesquisa, ela descobriu que a técnica precisava de uma máquina especializada. Contatando amigos de Relações Internacionais ela conseguiu encontrar um fabricante e importar o equipamento da China.
Demorou cerca de um ano para que Luana dominasse a técnica. Junto a ela, a empreendedora também foi ao marceneiro e desenvolveu uma bancada desmontável, Todo o sistema de logística foi pensado para criar uma operação que pudesse estar em qualquer lugar e pudesse atingir seu público alvo: as classes A e B em eventos de luxo.
A proposta de valor do algodão doce personalizado se baseou em três pilares:
“Eu tinha certeza do sucesso. Eu venderia algodão doce comum, se quisesse, mas trazer uma inovação dentro de um produto que já é conhecido era o que eu queria. Era justamente o que as marcas buscam incessantemente hoje em dia. E era algo que eu tinha”, conta.
Depois de falar com quase 40 pessoas, assessores e decoradores, e de bater na porta sete buffets no setor de eventos de luxo, ela conseguiu sua oportunidade de colocar a Magic Algodão no mapa: o aniversário de uma ano de Zoe, filha da apresentadora Sabrina Sato, em dezembro de 2019.
“Uma decoradora famosa me deu a chance. Quase dei para trás, mas sempre falo que o empreendedor precisa ter coragem e não deixar as oportunidades passarem. Peguei o ônibus, viajei por oito horas até São Paulo e fiz a festa sem experiência nenhuma. Mas quando terminou foi glorioso! Consegui mais 3 mil seguidores no Instagram e todo mundo viu a festa na TV”, conta.
A partir daí, Luana começou a receber dezenas de pedidos e a Magic foi ganhando notoriedade. O vento estava a favor. Ela só não contava com o que ele traria.
E agora, Luana? Como sobreviver ao isolamento social empreendendo em eventos? Depois de ter chegado tão longe e criado algo tão único, ela não podia arriscar perdê-lo. Não como já tinha acontecido antes.
Quando estava no buffet com a mãe, ela viu seus clientes se tornarem concorrentes, entrando para o mercado de festas de forma similar. Quando a pandemia de covid-19 colocou todo mundo para dentro de casa, ela já sabia o valor de cuidar das suas ideias.
“Eu tenho uma jóia na mão, pensei. Se continuasse divulgando sem fazer eventos, corria o risco de construir uma concorrência durante esse período. O que que eu fiz? Fechei a página do Magic e desabilitei tudo o que pude para escondê-la”, conta.
E a estratégia de segredo teve sucesso. Quando a flexibilização chegou em 2021, e o setor de eventos começou a reaquecer, ela ainda tinha a exclusividade que criou.
Luana imediatamente se reconectou com o setor e começou a fazer festas. A demanda cresceu, a operação aumentou de tamanho e agora possui cerca de 50 funcionários diretos e indiretos. Ela já tinha acertado na logística e completou o modelo com uma técnica de modelagem de algodão doce que pode ser facilmente ensinada. A empresa decolou.
A Magic Algodão esteve presente, ano passado, no evento “Arraial do Chico Bento”, em parceria com a Turma da Mônica. Em apenas quatro dias ela faturou R$ 40 mil. A trajetória também inclui eventos em Miami, acompanhando a cantora Anitta, e aparições em programas como o +VC, com Ana Maria Braga, e o “Mulheres” da TV Gazeta.
Atualmente, a empresa está desenvolvendo novas técnicas para melhor reproduzir logotipos de marcas e atender à demanda de eventos corporativos de luxo. A abertura de quiosques e a expansão da cartela de clientes e parceiros também estão no radar.
Luana, que sempre empreendeu por necessidade, vê com orgulho as conquistas da Magic Algodão. Ela realizou seu objetivo de ajudar os pais e de criar algo seu. Hoje, também é convidada para dar palestras sobre sua trajetória. Para os empreendedores que, como ela, estão começando de baixo, aconselha:
"Mantenha os pés no chão e pense: 'se eu não for por esse caminho, quais são as outras possibilidades que tenho?' A partir daí, faça tudo com um passo de cada vez, resiliência e crença no seu potencial de crescer”.
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