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Edson Vismona: Brasil é Brazil. Precisamos reconhecer nossas grandezas e a necessidade de superação

A partir de um olhar externo sobre nossas potencialidades, fica claro que o país precisa resgatar sua confiança para avançar no cenário global

Nós brasileiros, muitas vezes nos perdemos no nosso inconsciente coletivo ao que Nelson Rodrigues chamava de “síndrome do vira-lata” (Leandro Fonseca)

Nós brasileiros, muitas vezes nos perdemos no nosso inconsciente coletivo ao que Nelson Rodrigues chamava de “síndrome do vira-lata” (Leandro Fonseca)

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Publicado em 12 de dezembro de 2024 às 09h00.

Por Edson Luiz Vismona*

Em recente visita à China, em jornada de estudos organizada pelo CEDES – Centro de Estudos de Direito Econômico e Social, juízes, advogados e professores de direito tiveram a oportunidade de visitar bancos de investimento (Asian Investment Bank e New Development Bank), grandes escritórios de advocacia especializados em investimento internacional, além de universidades.

Em um dos escritórios, perguntei ao advogado sênior se o Brasil está no radar de investidores e expliquei que é comum termos notícias e algumas análises econômicas afirmando que não estaríamos no rol dos países que atrairiam os maiores volumes de recursos internacionais. A resposta foi muito objetiva: “Brasil is Brazil”, afirmando que, diante da expressão do Brasil no cenário agroindustrial, mineral, industrial e a grandeza da sua população, território e de seus recursos naturais, como seria possível imaginar e, mais, difundir a ideia que não seríamos atrativos para investimentos.

Essa resposta, vinda de um advogado chinês, deve servir como um estímulo à reflexão. Nós brasileiros, muitas vezes nos perdemos no nosso inconsciente coletivo ao que Nelson Rodrigues chamava de “síndrome do vira-lata” deixando de ver com clareza a nossa força econômica e social. Essa autodepreciação só nos prejudica.

Os desafios do Brasil e suas grandes potencialidades

É evidente que não podemos deixar de ser críticos diante de todos os problemas que enfrentamos: conflitos entre instituições; insegurança jurídica; visões distintas sobre a contenção de gastos públicos e disciplina fiscal, implicando na ameaça da elevação da inflação e no crescimento dos juros; alta carga tributária gerando custos para a produção, transporte e distribuição de produtos e serviços; aumento da criminalidade organizada afetando a segurança pública; baixo nível da educação, deficiências no atendimento da saúde e a enorme desigualdade social. Claro, são enormes os desafios e muitas vezes não conseguimos identificar rumos, planejando e sendo eficazes, especialmente na governança da gestão pública.

Entretanto, não obstante esse cenário, temos que reconhecer e dar o devido valor às nossas grandezas, com otimismo, mas sem ignorar nossa realidade, que não é fácil. Temos um grande mercado de consumo; uma estrutura de produção agroindustrial invejável, um amplo e complexo parque industrial, recursos minerais, setores avançados em tecnologia, conhecimento em gestão empresarial, universidades reconhecidas, mas, sabemos que temos muito que avançar.

A política de curto prazo e a falta de planejamento

Nós, brasileiros, nos empenhamos em perder oportunidades, valorizando políticas públicas de curto prazo, voltadas para as disputas eleitorais que acabam por definir iniciativas ineficientes, feitas para ganhar uma eleição, esquecendo da visão de longo prazo que não rende benefícios imediatos, mas pode assegurar um desenvolvimento sustentável. No contexto das importantes medidas duradouras, para estimular o nosso desenvolvimento, no final de ano, por exemplo, teremos a reforma tributária que promete não aumentar impostos, simplificação e diminuição do contencioso, entretanto, após debates e audiências públicas, não são poucos os especialistas que afirmam que essas promessas não serão cumpridas.

A falta de planejamento estratégico: uma comparação com os países asiáticos

A capacidade, ou melhor, a sua falta de definir metas mais ousadas e consistentes nos causa uma certa inveja de como atuam os países asiáticos, especialmente China, Japão e Coréia do Sul, que conseguem planejar a longo prazo e, melhor, executar o planejado. Sem a pretensão de seguirmos à risca esse proceder, afinal, nossa cultura é bem diferente, se tivéssemos 30% dessa capacidade de planejar e executar, com certeza estaríamos em um patamar mais elevado de desenvolvimento econômico e social.

Assumindo responsabilidades para um futuro melhor

É certo que não podemos continuar culpando os outros pelas nossas próprias aflições e mazelas e nem nos perder em lamúrias. Seria muito bom se assumíssemos as responsabilidades de cumprir o nosso destino que nunca será da irrelevância. Não só os governantes, políticos, mas também as lideranças empresariais, sindicatos, universidades, organizações da sociedade civil, todos que detêm o privilégio de influenciar de algum modo nos rumos do nosso país, têm o dever de combater a cega polarização e unicamente a realização dos seus próprios interesses para alinhar com mais determinação a execução do propósito nacional de desenvolvimento social e econômico.

O futuro do Brasil depende de suas ações no presente

Ninguém fará isso por nós, para avançarmos no mundo globalizado temos que começar por equacionar nossas deficiências e conquistar o nosso espaço. Qualidade não nos falta.

*Edson Vismona é Advogado, graduado e pós-graduado lato sensu pela Faculdade de Direito da Universidade São Paulo; é presidente do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial - ETCO e do Fórum Nacional Contra a Pirataria e Ilegalidade – FNCP. Foi secretário da justiça e defesa da cidadania do Estado de São Paulo.

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