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Dia Mundial do Autismo: a vida no espectro

Nesta edição da coluna Gestão Sustentável, Danilo Maeda conta um pouco sobre sua experiência como pessoa neurodivergente

"Saber que sou neurodivergente trouxe algumas decepções, mas benefícios que as superam e fazem a jornada valer a pena" (andreswd/Getty Images)

"Saber que sou neurodivergente trouxe algumas decepções, mas benefícios que as superam e fazem a jornada valer a pena" (andreswd/Getty Images)

Danilo Maeda
Danilo Maeda

Head da Beon - Colunista Bússola

Publicado em 2 de abril de 2024 às 13h00.

No dia 2 de abril é celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Não faz muito tempo desde que recebi o diagnóstico que elucidou e me permitiu compreender melhor tantos aspectos difíceis da trajetória de vida, e talvez por isso não trate do tema com a frequência necessária para apoiar os esforços de conscientização e educação.

Há exatamente um ano, fiz neste espaço um depoimento sobre meu processo de autoconhecimento. Desta vez, o depoimento atualizado tenta expressar como são os aspectos que marcam a vida no espectro.

Inadequação. Estranhamento. Sensação de não pertencer. Frustração por ter muita dificuldade em coisas que parecem triviais a outras pessoas, como conversar informalmente, atender o telefone, perceber mensagens implícitas e “ler o ambiente”.

Ao longo da vida, foram poucos os momentos e pessoas com quem me senti verdadeiramente à vontade. Na grande maioria das vezes, me percebo como um estranho indesejado – quando o ambiente é mais hostil para pessoas como eu – ou um eterno visitante, quando os ambientes são um pouco mais amigáveis. Os momentos em que me percebo como parte integrante e integrada de algum grupo são raras e belas exceções.

É preciso colocar muita energia, reflexão e planejamento para me adequar à norma. Ao longo dos anos, desenvolvi táticas para facilitar o processo, mas cada interação ainda é um desafio.

As coisas ficaram menos difíceis recentemente. Saber que sou neurodivergente – e tratar disso em público – trouxe algumas decepções, mas benefícios que as superam e fazem a jornada valer a pena.

Por ser alguém ativo, integrado e “adaptado” à vida social, algumas pessoas preferiram duvidar ou invalidar o diagnóstico ao invés de procurar entender o que ele significa e como nossa convivência poderia ser menos cansativa para mim. Seria mentira dizer que não me ressinto de tal reação, mas aos poucos tenho conseguido entender que nem sempre há culpa na ignorância.

De fato, no meu caso as estratégias e esforços de adaptação fazem com que consiga mascarar algumas das características socialmente lidas como “típicas” do autismo. Não sei dizer se isso é bom ou ruim. Por um lado, passo como alguém “normal” em situações sociais, mesmo que às custas de muito esforço e uma atenção contínua a todos os detalhes que possam entregar minhas inadequações.

Como cheguei a posições de liderança nas empresas por onde passei antes de falar publicamente como pessoa autista, não sei se – e em que medida – o diagnóstico atrapalhou a carreira. O que sei dizer é que ambientes menos amigáveis para a neurodiversidade nos silenciam e impedem a expressão de nossas contribuições mais valiosas. Conforme gasto energia tentando me adaptar ao ambiente, minha capacidade de contribuir é reduzida.

Por isso, se você puder adotar uma postura amigável e mostrar disposição a aceitar as pequenas adequações que nos ajudam a ficar mais à vontade, ajudará bastante. Quais adaptações? Minha dica é: pergunte à pessoa em questão. Cada indivíduo no espectro (e em outras neurodiversidades) se expressa e tem necessidades específicas que merecem ser respeitadas. Quando encontro alguém que procura efetivamente me ouvir, é como ganhar um presente.

O que quero dizer com isso, em outras palavras, é: não se irrite caso o comportamento de alguém no espectro frustre suas expectativas com relação ao que é o autismo. As chances de isso acontecer por conta de seu desconhecimento do tema são maiores que qualquer outra hipótese.

Por fim, não nos subestime. Há muita capacidade no espectro. Não que eu me veja como referência para alguém, mas posso afirmar: o TEA não me impediu de buscar fazer o que gosto (mesmo que com dificuldade), de estabelecer relações saudáveis e felizes (mesmo que poucas) e de me realizar no trabalho (mesmo que com algumas frustrações).

Evidentemente, níveis mais severos demandam suporte, mas com o apoio e adaptações corretos é possível superar limitações. Não sou especialista no tema, então só sei dizer que me reconhecer como atípico ajudou a não me sentir culpado por funcionar de um jeito diferente. E que quanto mais gente falando sobre o tema com normalidade, mais fácil será para a gente se aceitar, se entender e se ajustar ao mundo.

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