Reconhecer e valorizar essa diversidade é um passo crucial para a construção de um sistema de saúde mais equitativo e eficiente (FG Trade/Getty Images)
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Publicado em 25 de julho de 2024 às 07h00.
Por Suellen Rodrigues*
No dia 25 de julho, celebramos o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, uma data que nos convida a refletir sobre a importância e o impacto das mulheres negras na sociedade, especialmente na área da saúde e no mercado de trabalho.
De acordo com o IBGE, mulheres negras, incluindo pretas e pardas, representam atualmente cerca de 28% da população brasileira. Essa representatividade é crucial para compreender o impacto econômico e social do nosso grupo. A participação das mulheres negras na força de trabalho é significativa, mas continuamos a enfrentar assimetrias salariais preocupantes.
Em média, as mulheres negras ganham 53,8% menos que os homens brancos e 38,2% menos que as mulheres brancas, segundo dados de 2022, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua).
Na área de saúde, nós profissionais desempenhamos um papel vital, muitas vezes subestimado, mas essencial para a construção de um sistema de saúde mais justo, diverso e inclusivo. Mulheres negras na área da saúde enfrentam desafios únicos, decorrentes de um histórico de desigualdades raciais e de gênero. A nossa presença nas diversas profissões da saúde contribui para a quebra de estereótipos e para a promoção da equidade no acesso aos serviços de saúde.
Representamos exemplo vivo de superação e sucesso, inspirando jovens de todas as origens a perseguirem seus sonhos e a acreditarem no seu potencial. Em termos de formação, o Censo da Educação Universitária 2019 indicou que cerca de 32% dos estudantes de cursos de saúde eram mulheres negras, um aumento significativo em relação às décadas anteriores.
É precisamente essa resistência e capacidade de superação que nos tornam tão importantes. Trazemos conosco, não apenas uma rica bagagem de conhecimentos técnicos e científicos, mas também uma perspectiva cultural que é fundamental para um sistema mais humanizado e empático.
Historicamente o Brasil vem avançando em políticas de melhoria no acesso e atendimento das mulheres negras na saúde, com conquistas importantes como a criação da Comissão Intersetorial de Saúde da População Negra, em 2023, pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS); a publicação da Política Nacional de Saúde da População Negra, em 2009, pelo Ministério da Saúde; e o Programa Nacional de Equidade de Gênero, Raça, Etnia e Valorização das Trabalhadoras no SUS, em 2009, que promove ações de educação e acolhimento para combater as desigualdades sociais e as diversas formas de violência relacionadas ao trabalho na saúde.
Além disso, a contribuição de mulheres negras para a saúde no Brasil vai além da atuação direta com os pacientes. Muitas de nós estamos na vanguarda da pesquisa científica, desenvolvendo estudos e soluções inovadoras que respondem às necessidades específicas da população negra e de outros grupos minorizados.
Destaco o trabalho da física e doutora em ciências Katemari Rosa, que desenvolveu a pesquisa “Contando nossa história: negras e negros nas ciências, tecnologias e engenharias no Brasil”, com o intuito de criar um banco de histórias de negros e negras cientistas brasileiros; da biomédica e mestra em biotecnologia Jaqueline Goes de Jesus, que integrou a equipe que mapeou os genomas do coronavírus em 48 horas após a confirmação do primeiro caso de COVID no Brasil; e da psicanalista e psiquiatra Neusa Santos Souza, que dedicou seus estudos a entender os desafios, as violências e os problemas emocionais de pessoas negras.
Fico feliz em enaltecer o trabalho dessas mulheres tão importantes para a nossa história científica, e ressalto que a nossa presença em diferentes locais é essencial para a criação de políticas públicas mais inclusivas e eficazes, realizar estudos clínicos mais diversos. A diversidade que mulheres negras trazem para a área da saúde é uma força transformadora e enriquecedora ao ambiente de trabalho com nossas experiências e conhecimentos únicos.
Reconhecer e valorizar essa diversidade é um passo crucial para a construção de um sistema de saúde mais equitativo e eficiente. Agradecemos a cada uma por sua dedicação, resiliência e contribuição incansável para a melhoria da qualidade de vida de todos nós. Que possamos continuar a apoiar e promover a inclusão e a equidade em todas as esferas da sociedade, especialmente na saúde, para que cada vez mais mulheres negras possam alcançar seu pleno potencial!
*Suellen Rodrigues é diretora regional de ‘Geração de Dados de Vida Real e Sistemas de Saúde’ na MSD LATAM.
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