Bússola

Um conteúdo Bússola

Desenvolvimento sustentável: complexo, desigual e combinado

Conciliar as diferentes realidades e dar conta de um mundo complexo não é fácil, é preciso discernimento para entender ao menos sete coisas; veja

: Ainda que complexo, desigual e combinado, desenvolvimento sustentável é o único caminho que pode viabilizar o futuro (Luis Alvarez/Getty Images)

: Ainda que complexo, desigual e combinado, desenvolvimento sustentável é o único caminho que pode viabilizar o futuro (Luis Alvarez/Getty Images)

B

Bússola

Publicado em 15 de fevereiro de 2022 às 11h13.

Por Danilo Maeda*

O economista comportamental e vencedor do Nobel Daniel Kahneman apresentou em seu best seller “Rápido e devagar: duas formas de pensar” a ideia de que o pensamento reducionista é útil para várias situações da vida em que precisamos fazer escolhas rápidas. Por outro lado, diante de questões mais relevantes e de impacto, as simplificações e extrapolações feitas automaticamente pelo nosso cérebro — que também chamamos de intuição — não são o mecanismo mais indicado para tomar decisões.

Uma sociedade refém do imediatismo sofre com dois grandes males de impactos imensuráveis: falsos dilemas e busca por atalhos fáceis para problemas complexos. No primeiro caso, alguns exemplos são as ideias de que o combate à pandemia de covid-19 seria uma escolha entre saúde e economia ou de que a preservação do meio ambiente seria inconciliável com desenvolvimento social.

No segundo, pode-se mencionar a esperança de que pequenas mudanças no dia a dia serão suficientes para produzir um mundo sustentável ou de que alguma tecnologia milagrosa poderá reverter os danos causados pela humanidade em sistemas naturais.

O fato é que no mundo real as coisas costumam ser mais complexas. Aqui me permito uma analogia que será útil para entender como navegar em meio à complexidade do desenvolvimento sustentável. León Trotsky formulou no começo do século 20 a teoria do desenvolvimento desigual e combinado, ao analisar a transformação econômica de países que se industrializaram com atraso em relação às grandes potências da época.

De acordo com a reflexão de Michael Lowy sobre o tema, “as sociedades menos desenvolvidas [...] são obrigadas a adotar certos traços avançados saltando as etapas intermediárias”. A ideia quebra o paradigma evolucionista que entende a história como uma sucessão de etapas rigidamente pré-determinadas. Nesta concepção, os atrasados podem se tornar a vanguarda da transformação seguinte. Em outras palavras, os últimos serão (ou poderão ser) os primeiros.

Como este espaço não se propõe a discutir teoria marxista, paro a digressão e destaco aqui as duas ideias centrais: a) aspectos avançados e arcaicos podem conviver simultaneamente em uma mesma sociedade e b) grupos menos desenvolvidos podem pular etapas e protagonizar transformações.

Note como as ideias acima são plenamente aplicáveis a realidades organizacionais. Em empresas e outras instituições, são comuns relatos de que algumas áreas estão mais engajadas em sustentabilidade do que outras, o que gera contradições internas. Também não são exceções casos em que decisões de acelerar a agenda (pelos mais diversos motivos) fazem com que retardatários se tornem líderes na gestão de aspectos ESG. Dores e delícias das jornadas de transformação.

Em resumo, conciliar as diferentes realidades e dar conta de um mundo complexo não é tarefa fácil. Para dar conta disso, é preciso discernimento para entender ao menos sete coisas: 1) qual é a sua visão de futuro para a organização e para o mundo; 2) quais são os principais impactos, riscos e oportunidades; 3) em quais aspectos é possível conciliar curto e longo prazo e em quais é preciso escolher; 4) quais decisões difíceis precisam ser tomadas para um senso de direção claro; 5) quais indicadores são mais adequados para acompanhar essa jornada; 6) quem são as pessoas indicadas para liderar o caminho; 7) com quem se engajar para esta jornada compartilhada.

O desenvolvimento sustentável é complexo, desigual e combinado. Mas é o único que pode viabilizar o futuro.

*Danilo Maeda é head da Beon, consultoria de ESG do Grupo FSB

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

Siga a Bússola nas redes: Instagram | LinkedInTwitter | Facebook | Youtube

Veja também

Acompanhe tudo sobre:SustentabilidadeEconomia verde

Mais de Bússola

Opinião: estamos chegando no limite do desenvolvimento das tecnologias digitais

Brasileiros acima dos 60 anos são os que mais reciclam, aponta pesquisa

‘ECA Digital’ entrará em vigor em seis meses. Como as empresas podem se preparar?

Como empresas estão fortalecendo a luta contra o câncer de mama no Outubro Rosa