(standret/Getty Images)
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Publicado em 24 de janeiro de 2025 às 13h00.
Por Claudia Elisa Soares*
Toda virada de ano traz consigo um momento-chave para corporações repensarem estratégias, realinharem prioridades e colocarem em andamento novos projetos, dentro de um exercício de análise de dados do presente com projeções para o futuro.
Em 2025 não está sendo diferente. As empresas começam o ano cientes do cenário repleto de desafios e oportunidades, impulsionado por mudanças geopolíticas, avanços tecnológicos e uma crescente demanda por transparência em questões ambientais, sociais e de governança (ESG).
Este panorama foi brilhantemente analisado no estudo "On the 2025 Board Agenda", publicado no final de 2024 pela KPMG. O documento destaca a importância dos conselhos de administração estarem preparados para responder rapidamente a mudanças nos cenários político, econômico e tecnológico.
Essa preparação envolve não apenas a compreensão dos riscos imediatos, mas também a antecipação de tendências de longo prazo que podem impactar a estratégia e a operação das empresas. A capacidade de adaptação e a agilidade na tomada de decisões são competências essenciais para os conselhos em 2025.
Neste artigo, trago minha análise sobre os principais pontos abordados pelo estudo.
Os riscos geopolíticos e econômicos, juntamente com a possibilidade de disrupção política e social, continuarão a impulsionar a volatilidade e a incerteza no ambiente de negócios global.
A reconfiguração das cadeias de suprimentos, impulsionada por políticas nacionais e modelos de "país em primeiro lugar", está levando as empresas a reconsiderarem suas estratégias de globalização e a optarem por cadeias de suprimentos mais centralizadas e locais.
Além disso, as organizações estão enfrentando a necessidade de operar em ambientes de custos mais altos, que incluem capital, tecnologia verde e mão de obra. A capacidade de equilibrar eficiência operacional, crescimento máximo e resiliência é um desafio constante.
As empresas precisam reavaliar seus processos de identificação de riscos e oportunidades decorrentes dessas disrupções globais e ajustar suas estratégias de longo prazo e decisões de alocação de capital de acordo.
As iniciativas políticas da nova administração dos EUA, especialmente em áreas como tarifas, cortes de impostos e prioridades regulatórias, terão um impacto significativo na estratégia das empresas do mundo inteiro. Essas políticas podem desencadear reconfigurações nas cadeias de suprimentos, aumento de custos e implicações para os pools de talentos e mão de obra.
Nesse sentido, é essencial que os boards realizem discussões aprofundadas com a gestão sobre o planejamento de cenários e a compreensão das variáveis que podem ser mais previsíveis. Isso inclui considerar os impactos nas projeções de fluxo de caixa e monitorar desenvolvimentos regulatórios nos níveis estadual, federal e global.
A explosão do uso da Inteligência Artificial Generativa (GenAI) está exigindo avaliações mais rigorosas dos frameworks de governança de dados das empresas. Os conselhos precisam entender a estratégia de GenAI da empresa e os riscos associados, monitorando a estrutura de governança em torno do uso da tecnologia.
Isso inclui garantir que a organização esteja alinhada com as regulamentações emergentes de IA e que os riscos de viés e privacidade sejam adequadamente geridos.
Além disso, a adoção bem-sucedida da tecnologia requer uma compreensão clara de como a tecnologia está gerando valor para os negócios e como está sendo integrada nas operações, produtos, serviços e modelos de negócios.
A adequação do framework de governança de dados da empresa é uma área importante para os conselhos. É essencial que as empresas desenvolvam um framework robusto que esclareça como os dados são coletados, armazenados, geridos e utilizados.
A governança também envolve o cumprimento das leis e regulamentos de privacidade, que podem variar por setor e jurisdição. As políticas e protocolos de ética de dados são igualmente importantes, especialmente no gerenciamento da tensão entre o uso legalmente permissível de dados de clientes e as expectativas dos clientes sobre como seus dados serão utilizados.
Apesar de enfrentar reveses em alguns países, questões como mudanças climáticas, gestão de capital humano, diversidade e outros aspectos ambientais, sociais e de governança (ESG) continuam sendo importantes para o negócio e a criação de valor a longo prazo.
A pressão de investidores, reguladores e outras partes interessadas está impulsionando a necessidade de divulgações detalhadas sobre riscos climáticos e de sustentabilidade. As empresas devem integrar esses temas em suas estratégias de negócios e operações para garantir o desempenho de longo prazo.
A sucessão de CEO é uma das responsabilidades mais importantes do conselho. O planejamento deve ser um processo contínuo, que envolve o desenvolvimento de um pipeline robusto de talentos e a identificação das habilidades, características e experiências necessárias para o futuro executivo.
A mesa deve estar preparada para ajustar sua lista de candidatos potenciais ao longo do tempo, reconhecendo que o talento necessário pode mudar à medida que o ambiente de negócios muda.
A cultura corporativa desempenha um papel crítico no desempenho e na reputação da corporação. Os conselhos estão adotando uma abordagem mais proativa para entender, moldar e avaliar a cultura, garantindo que ela esteja alinhada com os valores e padrões éticos do grupo. Isso inclui monitorar o "tom no topo" e garantir que haja tolerância zero para condutas inconsistentes com os valores do negócio.
A crescente complexidade dos riscos exige uma abordagem mais integral para a gestão e supervisão destes. A tendência nos boards é delegar responsabilidades de supervisão de riscos a comitês permanentes para uma revisão mais intensiva, enquanto o conselho pleno retém a responsabilidade primária. Essa abordagem permite uma supervisão mais focada e detalhada de riscos específicos, como clima, ESG, cibersegurança e governança de dados.
Em suma, o cenário de 2025 exige que as organizações adotem uma abordagem integral e proativa na gestão de riscos e oportunidades. A resiliência e a adaptação às mudanças globais e tecnológicas não são apenas desejáveis, mas essenciais para o sucesso sustentável.
Acredito firmemente que, através da inovação estratégica e da liderança consciente, as empresas podem não apenas sobreviver, mas prosperar neste novo mundo. O desafio está lançado: as empresas estão prontas para liderar a transformação ou ficarão à margem das oportunidades emergentes? Os conselhos têm o poder de moldar o futuro, e agora é o momento de agir.
*Claudia Elisa Soares é especialista em ESG e transformação de negócios e líderes e conselheira em companhias abertas e familiares
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