Até quando deixaremos de agir de forma preventiva, diante do que já é previsto e óbvio? (Amanda Perobelli/Reuters)
Bússola
Publicado em 1 de fevereiro de 2022 às 17h00.
Última atualização em 1 de fevereiro de 2022 às 17h10.
Por Gabriel Cardoso*
Encerrada a cobertura sobre as celebrações de Réveillon, com as típicas entrevistas sobre a expectativa e as promessas para o ano vindouro, acompanhadas de cenas do pular das ondas e show de fogos, começa, regularmente, a cobertura dos desastres causados pela chuva no Brasil.
Assustados e aflitos, lemos notícias sobre deslizamentos de terras, chuvas acima da média, inundações e nos pegamos surpresos frente aos noticiários, como se os fatos fossem inéditos. O passo seguinte é nos mobilizarmos para mais uma emergência, enquanto sociedade civil organizada e solidária, para socorrer as vítimas desses desastres: ações e doações transbordam de diversos cantos do país.
Entra ano, sai ano, e me encontro no mesmo questionamento: até quando deixaremos de agir de forma preventiva, diante do que já é previsto e óbvio? Sabemos há muitos anos que assim como ocorrem as festas de fim de ano, ocorrem as chuvas torrenciais comuns do período. Está no calendário da nossa realidade, mas por que não está no calendário da sociedade civil, do poder público e das empresas no Brasil?
A realidade é que assim como protelamos em nossa vida pessoal, deixando o cuidado do futuro para depois (a dieta; o check-up; o arrumar o armário), parece que procrastinamos também enquanto sociedade, deixando os grandes problemas para serem pensados apenas quando acontecerem. Não seria hora de virarmos essa chave?
Quem sabe este não seja o momento ideal de desenvolvermos, com antecedência, iniciativas efetivas que busquem a resiliência comunitária e nos questionarmos como nossas comunidades podem ser menos afetadas pelas chuvas, principalmente em áreas de risco?
No caso específico, talvez tenhamos passado da hora de criar e implementar políticas públicas e projetos que reduzam os impactos das chuvas; planos e redes de apoio para respostas emergenciais mais eficientes e eficazes; programas ágeis para reabilitação das comunidades atingidas; ações emergenciais estruturadas que salvem vidas, recuperem famílias, minimizem prejuízos econômicos e estabeleçam uma retomada pós-desastre; assim como outras iniciativas que tornem essas cidades e regiões resilientes, e menos reativas.
Temos tempo para isso. Ainda há 11 meses pela frente.
*Gabriel Cardoso é gerente do Instituto Sabin
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