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Depois da esquerda, a direita. E depois?

Coluna semanal do analista Márcio de Freitas comenta os temas mais debatidos entre os poderes em Brasília

Vista do Palácio do Planalto (Paulo Whitaker/Reuters)

Vista do Palácio do Planalto (Paulo Whitaker/Reuters)

Isabela Rovaroto

Isabela Rovaroto

Publicado em 20 de novembro de 2020 às 13h01.

O cientista político Jairo Nicolau escreveu um livro sobre a última eleição presidencial comparando dados e pesquisas com pleitos anteriores. “O Brasil dobrou à direita - uma radiografia da eleição de Bolsonaro em 2018” é instigante porque mostra movimentos de aproximação e crescimento dos partidos, esvaziamento e substituição por outros na escolha popular. 2018 não caiu do céu, foi um movimento antecedido por alguns sinais de nuvens. Foi uma eleição que se desenhou no tempo pelos atores políticos, seus escândalos e suas ações na disputa pelo poder.

Há ineditismo na vitória do Bolsonaro. A falta de um partido forte, de apoios políticos regionais, de tempo de televisão são os mais surpreendentes e já foram muito explorados pela mídia. Mas Jairo Nicolau aponta também algumas características interessantes do eleitorado que optou por eleger um outsider para a Presidência da República.

A maior faixa do eleitorado que colocou o ex-deputado no Palácio do Planalto tem instrução superior, mora em grandes cidades e tem renda elevada. A maior oposição estava nas classes menos instruídas da região Nordeste, uma cidadela petista conquistada após a primeira vitória de Lula com os benefícios do Bolsa Família.

É por isso que importa observar o comportamento desse eleitorado na próxima disputa nacional em 2022. É nesta região que o auxílio emergencial, criado para enfrentar a pandemia de coronavírus, trouxe maior impulso à aprovação de Bolsonaro neste ano. Contra várias previsões iniciais, ele cresceu em popularidade, apesar de chamar a Covid-19 de “gripezinha” e ser contra as medidas de isolamento da população. O fluxo do dinheiro extra está obviamente relacionado às variações nos percentuais das tabelas dos pesquisadores.

E o PT, que havia sido grande vencedor em centros urbanos em 2002, mas migrou para as cidades menores durante o exercício do poder, agora pode estar sendo afastado desses redutos. A questão é fundamental para se enxergar o futuro, tanto do governo Bolsonaro, quanto daquele que foi a principal partido de oposição na história recente até 2018. É curioso isso: o PT se construiu como uma marca de oposição, e nem seus 13 anos de poder o mudaram. Entretanto, agora isso pode estar começando a ser alterado.

O resultado das eleições mostra o PT enfraquecido, sem disputar a maioria das grandes cidades e encolhendo em todas regiões do país. Com 179 municípios conquistados no primeiro turno, o partido refluiu ainda mais no espectro nacional.

A grande bandeira petista é personalista, defender Luiz Inácio Lula da Silva. Não é dar comida e casa para todos brasileiros nem ser contra as privatizações. Não defendem o SUS ou batem no desmonte da educação. Não cobram direitos trabalhistas para os motoristas de aplicativo nem querem enfrentar a influência americana no Brasil. Nada disso, muito menos combater a corrupção. O PT ficou sem bandeiras gerais e amplas para oferecer ao seus militantes e atrair o eleitor. Não fala sobre o problemas das gentes, mas dos problemas de Lula, o indivíduo maior que o coletivo - segundo os dogmas atuais do partido.

Isolado e solitário, o PT deixou espaço para ser ocupado. Jairo Nicolau não aceitaria a comparação com a eleição atual pura e simplesmente porque são situações diferentes, dados distintos e perguntas sobre outros temas e personagens. Aqui só se especula sobre sua análise embasada. Mas é interessantes notar que a onda conservadora já estava se preparando antes, em 2014 mesmo havia sinais dela. Só que o PSDB não soube ler o momento. E ficou analfabeto por completo em 2018, pois, se os tucanos haviam sido os principais opositores do PT desde a disputa de nacional de 1994, é absolutamente incompreensível que tenham abdicado do posto para a ascensão de Bolsonaro. Mas foi isso que fizeram.

Diante do resultado de 2020 que projetou outros nomes da esquerda, como Guilherme Boulos em São Paulo, a dúvida para 2022 é saber se o PT está em algum polo da disputa e se o PSDB conseguirá ler corretamente a realidade para se projetar para o eleitor como uma alternativa viável. Candidaturas descoladas do sentimento popular podem ser fatais para ambos os partidos que marcaram as duas últimas décadas da política brasileira.

Bolsonaro soube entender o momento em 2018 e catalisou os eleitores atropelando as forças políticas tradicionais. Agora, terá máquina de governo e alguns partidos ao seu lado. Se conseguir montar algum programa social que deixe a população feliz como conseguiu com o auxílio emergencial e destravar a economia, o presidente poderá novamente dobrar o país à direita. Mas atravessar 2021 é fundamental para se chegar bem no ano da eleição presidencial. Esse é o desafio antes de virar de novo o volante.

* Analista Político da FSB

 

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