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Danilo Maeda: o funil do ESG e o perigo da visão estreita

Entre as empresas grandes e médias brasileiras, 79% afirmam que questões sociais relevantes estão presentes na estratégia

Apenas 43% têm mapa de risco socioambiental (Galeanu Mihai/Getty Images)

Apenas 43% têm mapa de risco socioambiental (Galeanu Mihai/Getty Images)

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Publicado em 3 de maio de 2022 às 11h34.

Última atualização em 3 de maio de 2022 às 12h22.

Por Danilo Maeda*

Nosso entendimento sobre os fatos depende fundamentalmente do ponto de vista pelo qual observamos a realidade. Em temas complexos, é possível ter conclusões otimistas e pessimistas ao mesmo tempo. Este é o caso da adoção de boas práticas ESG nas empresas brasileiras, como mostra uma pesquisa inédita que realizamos na Beon em parceria com o Instituto FSB.

Em nosso levantamento, descobrimos que de todas as empresas grandes e médias no Brasil, 79% afirmam que questões sociais relevantes estão presentes na estratégia. Além disso, a grande maioria das empresas (83%) considera a opinião de seus stakeholders importante (36%) ou muito importante (47%) no processo de decisão. Esses dados indicam que o tema da sustentabilidade corporativa penetrou de forma majoritária no mercado, com alto interesse das empresas em responder às demandas de seus públicos estratégicos.

Contudo, apenas 43% das empresas têm mapas de risco socioambiental e só 37% possuem uma estratégia de sustentabilidade (60% não possuem e 3% não responderam). Ou seja, há um espaço entre conscientização e compreensão estratégica. Apesar do alto interesse no tema, a adoção de práticas que sinalizam consistência e integração no planejamento de negócios e ESG não está presente na maioria das organizações.

Quando descemos do nível estratégico para a ação efetiva, veremos que 47% das empresas afirmam ter um mapeamento de stakeholders. Destes, 89% disseram que o processo faz parte de seu planejamento estratégico. Os índices são condizentes com os anteriores, referentes à adoção de práticas relativas à estratégia de sustentabilidade, em um tema que se conecta com qualquer perfil organizacional (engajamento de stakeholders).

Mas quando olhamos para ferramentas específicas de gestão ESG, os casos tornam-se exceção. As metas socioambientais, por exemplo, estão presentes em 31% das empresas pesquisadas. Em 50% destes casos as metas estão relacionadas com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Dessas, 19% ligam as metas à remuneração das lideranças. Ou seja: na amostra total, 3% das empresas atrelam remuneração dos executivos a metas socioambientais. No funil do ESG brasileiro, conscientização é majoritária, compreensão estratégica é razoável e compromissos profundos são raridade.

Outros dados que evidenciam essa característica do nosso mercado dão conta de que 29% das empresas possuem estrutura formal para governança da sustentabilidade e 19% possuem matriz de materialidade. A gestão e acompanhamento dos temas ESG relevantes é feita por 22% das empresas. Relatórios de sustentabilidade foram publicados por 12% das empresas pesquisadas no último ano.

Pois é, tudo depende de como olhamos para a realidade. Diante dos mesmos dados dá para ser otimista e pessimista. É claro que uma dose de otimismo é importante para não ficarmos imóveis diante de grandes desafios. Mas é preciso balancear isso com outra dose de realismo, fundamental para não nos deixarmos enganar e entender que há muito a ser feito. Afinal, se vibrar na frequência certa resolvesse todos os problemas, musicistas não pagariam boletos. É falsa a dicotomia entre ver o copo meio cheio ou meio vazio.

Ou seja: o mais importante é lembrar que precisamos de transformações sistêmicas. E isso será possível apenas com ampla adoção de compromissos profundos. Independente de achar que o copo está meio cheio ou meio vazio, a sede do mundo demanda que ele seja cheio até a borda.

*Danilo Maeda é head da Beon, consultoria de ESG do grupo FSB

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a EXAME. O texto não reflete necessariamente a opinião da EXAME.

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