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Danilo Maeda: Ainda há tempo para nós

A humanidade está num gelo fino – e esse gelo está derretendo rapidamente, segundo secretário-geral da ONU, Antonio Guterres

Problema ambiental é grave e respostas são insuficientes (Thinkstock/Reprodução)

Problema ambiental é grave e respostas são insuficientes (Thinkstock/Reprodução)

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Publicado em 21 de março de 2023 às 16h30.

Você que acompanha esta coluna semanalmente provavelmente não sabe, mas em um passado muito distante toquei guitarra em uma banda de hardcore. Não aprendi muito sobre música – afinal, trata-se de um estilo que não exige qualquer refinamento técnico – mas foi um período fundamental na formação de um pensamento crítico e disposição a questionar convenções. Tal postura foi muito útil nas minhas profissões, primeiro como jornalista e depois como consultor, pela facilidade em identificar injustiças, e apontar contradições ou aspectos que precisam ser corrigidos.

Na “cena”, a visão crítica com relação às estruturas sociais, políticas e econômicas era aliviada por algumas músicas e bandas que preferiam tratar de temas mais amenos. O ponto alto da nossa “carreira” musical foi abrir o show de um desses grupos, chamado Los Toskos, cuja canção mais famosa chama-se “Ainda há tempo” e fala, como o nome sugere, sobre aproveitar o tempo que temos na vida.

E a sustentabilidade? Bem, saiu ontem um novo relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU), que resume as atuais avaliações sobre o aquecimento global. E as principais conclusões do documento me remeteram a essa mistura de inconformismo e esperança que marcou a minha juventude - e a de quase todos nós, certo?

No lado do inconformismo, está mais evidente e sem qualquer espaço para dúvidas que os impactos climáticos produzidos pela humanidade são enormes. A temperatura global da superfície terrestre aumentou mais rapidamente desde 1970 do que em qualquer outro período de 50 anos durante os últimos 2000 anos. Para evitar que seja ultrapassado o limite de 1,5ºC estabelecido no Acordo de Paris, as emissões de gases de efeito estufa devem ser reduzidas de forma profunda, rápida e sustentável em todos os setores. Isso significa cortar as emissões globais pela metade até 2030 [48%] e em 99% até 2050.

Nas palavras do presidente do IPCC, Hoesung Lee, o Relatório Síntese “ressalta a urgência de tomar medidas mais ambiciosas e mostra que, se agirmos agora, ainda podemos garantir um futuro sustentável habitável para todos”. O secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, acrescentou: “a humanidade está num gelo fino – e esse gelo está derretendo rapidamente. Nosso mundo precisa de ação climática em todas as frentes – tudo, em todos os lugares, ao mesmo tempo”.

Por um lado, o problema é grande, grave e as respostas dadas até o momento são insuficientes. Cenário que ativou as lembranças de uma juventude crítica com tudo e todos. Mas há outra mensagem no Relatório: ainda há tempo, como diriam Los Toskos. Entre as principais conclusões, os cientistas do IPCC destacam que existem opções viáveis e eficazes para adaptação às mudanças climáticas e redução das emissões de GEE no ritmo necessário para conter o aquecimento global.

É preciso acelerar a transição para conseguirmos viabilizar um futuro sustentável para nós e para as próximas gerações. Precisamos rever os compromissos assumidos e torná-los mais ambiciosos, acelerar os mecanismos de implementação, ampliar o financiamento para transição, gerir impactos sociais em temas como segurança alimentar e migração, fornecer acesso a água e outros recursos naturais. Tudo isso para ontem. É completo, mas como diria a música citada acima, “Há tanto que fazer em tão pouco tempo / tantas perguntas pra responder [...] Mas eu não caminho contra o tempo / Ele não é meu inimigo / É como se eu voasse com o vento / E o tempo voasse comigo”.

Ainda há tempo pra nós. Mas temos que agir hoje

*Danilo Maeda é head da Beon, consultoria de ESG do Grupo FSB

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