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Crise da covid-19 volta a ameaçar vida e negócios de milhões de mulheres

Mais impactadas pelo cenário da pandemia, mulheres veem sob risco suas empresas, que muitas vezes sustentam a casa inteira

 (Americanas/Divulgação)

(Americanas/Divulgação)

Mariana Martucci

Mariana Martucci

Publicado em 16 de março de 2021 às 19h24.

Última atualização em 16 de março de 2021 às 19h33.

Em meados do ano passado, quando pensávamos passar pelo ápice da crise da covid-19 — e que, portanto, deixaríamos para trás toda a pandemia em questão de meses —, resolvemos realizar uma pesquisa para entender o impacto que o vírus havia causado nos negócios da mulher empreendedora no Brasil. Os resultados não eram alentadores, embora tivéssemos a falsa esperança de que, a partir daquele momento, as coisas melhorariam.

Os primeiros dados do estudo mostravam que 47% dos negócios continuavam funcionando com significativa queda nas vendas, ante 39% que haviam fechado totalmente as portas. Na Região Nordeste do país, os números eram mais preocupantes: 50% dos empreendimentos femininos haviam desaparecido, sendo esse percentual maior (62%) nas classes D e E.

Além de prejudicar o faturamento e fechar empresas, a pandemia também impactou negativamente a geração de renda direta e o emprego. Se antes da pandemia, 51% dos negócios empregavam pelo menos uma pessoa, durante a crise esse número caiu para 33%. Em números totais, as empresas que mantinham empregados, antes da pandemia, contratavam, em média, 3,7 profissionais. Durante a covid, 2,6 pessoas eram empregadas.

Para termos uma ideia mais concreta de como a crise afeta a vida das mulheres empreendedoras e de suas famílias, basta ressaltar um fato concreto: 38% dos negócios representam mais da metade ou toda a renda familiar. Isso quer dizer que, atualmente, temos uma séria crise, não apenas sanitária mas também social e econômica, onde a principal preocupação é levar comida para a mesa em segurança.

Divido estes dados e informações colhidas em 2020 pois, presidindo uma organização que busca a independência econômica das mulheres, tenho percebido que não só a pandemia se agravou, como também as condições de milhões de mães, avós, esposas, companheiras, filhas e irmãs: jornada contínua de trabalho, com as tarefas domésticas e com o próprio negócio (ou qualquer outra atividade profissional remunerada); crescimento da violência doméstica e do feminicídio; estresse; dívidas em geral.

Soluções para mitigar esses problemas existem. Na Rede Mulher Empreendedora temos desenvolvido diversos programas com esse objetivo, de capacitações técnicas a mentorias individuais, preparando milhares de mulheres para o empreendedorismo e apoiando na busca de recolocação profissional. Temos, inclusive, desenvolvido uma tecnologia social própria para a geração de renda, beneficiando até o momento mais de 6.000 mulheres em todo o Brasil.

Sabemos que nossas iniciativas isoladas não são suficientes. Mas ainda acreditamos que ações coordenadas entre órgãos públicos, civis e privados podem amenizar o impacto deste momento. Basta boa vontade e cooperação.

*Ana Fontes é fundadora e presidente da Rede e do Instituto Rede Mulher Empreendedora

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