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Coronavírus no Brasil: vacinação ainda lenta e sinais de novo platô da doença

“As estatísticas nos mostram que, enquanto a vacina não caminhar mais rápido, continuaremos precisando de cuidados e medidas restritivas para evitar uma piora no país”

Idoso é vacinado contra a covid-19. (DANILO M YOSHIOKA/FUTURA PRESS/Estadão Conteúdo)

Idoso é vacinado contra a covid-19. (DANILO M YOSHIOKA/FUTURA PRESS/Estadão Conteúdo)

Mariana Martucci

Mariana Martucci

Publicado em 8 de fevereiro de 2021 às 21h21.

A imunização da população brasileira contra o coronavírus ainda caminha a passos lentos. Enquanto no Brasil o total de doses aplicadas equivale a apenas 1,6% da população, Israel, que lidera essa corrida, já aplicou 64 doses para cada grupo de 100 habitantes. Estamos na média mundial, que é de 1,7 doses de vacina aplicadas para cada grupo de 100 habitantes.

Além de Israel, os países que estão mais avançados nesse processo são Reino Unido (19 doses por 100 habitantes), Estados Unidos (12/100), Itália (4/100), Alemanha (3,9/100) e Bélgica (3,6/100). Desses, a comparação mais justa a ser feita é com os Estados Unidos, assim como o Brasil um país de dimensões continentais e com uma população 1,5 maior que a brasileira. E a comparação é bastante desfavorável, pois proporcionalmente a vacinação está quase 10 vezes mais avançada por lá.

No território brasileiro, o processo de vacinação também é bastante heterogêneo. A Unidade da Federação hoje em estágio mais avançado é o Distrito Federal, onde doses aplicadas equivalem a 3,2% da população local. Os dois estados com o maior número de mortes por Covid-19 estão na média do país: São Paulo já imunizou o equivalente a 1,7%; e o Rio de Janeiro, a 1,5%. Enquanto os estados que menos aplicaram vacinas até aqui são o Pará e o Tocantins (0,9% cada).

Neste início, a taxa de doses aplicadas em cada grupo de 100 habitantes equivale à taxa de imunização da população. Mas, à medida que os já vacinados receberem a segunda dose, essa taxa deixará de representar o total de vacinados, uma vez que todas as vacinas aplicadas no país necessitam de duas doses por pessoa. Na prática, para imunizar toda a população, precisaremos de 420 milhões de doses, tendo sido aplicadas até aqui 3,6 milhões, o que daria cobertura vacinal real de 0,85% da população brasileira.

Para se ter uma ideia, das 3,6 milhões de doses já aplicadas no Brasil, apenas 25,7 mil se referem a segundas doses. Ou seja, as 3,57 milhões de pessoas que receberam a primeira dose equivalem a 1,69% da população brasileira, enquanto as 25,7 mil que receberam as duas doses — e que de fato estão imunizadas — representam apenas 0,01% do total de habitantes. Na prática, o caminho é ainda mais longo do que parece.

Mortes

Enquanto a vacina não atinge a maior parte da população, seguimos contabilizando casos e mortes por Covid-19. Neste domingo, o total de vítimas da doença no país ultrapassou 232,1 mil óbitos. Há 19 dias, a média móvel de mortes está acima de 1.000/dia, o que já começa a configurar um novo platô (o primeiro, também ao redor de 1.000 mortes/dia, durou três meses, do final de maio ao final de agosto).

Apesar de uma leve desaceleração nas duas últimas semanas, a média móvel de mortes ainda cresce no Distrito Federal e em mais 15 estados, estando estável em 9 estados e caindo em apenas dois (Rio de Janeiro e Sergipe). A comparação desse indicador leva em conta a média móvel atual (1.010/dia) e a de duas semanas atrás (1.052 dia), período em que houve uma pequena queda de 4%.

Casos

Após o pico histórico registrado em 12 de janeiro (em média 55,6 mil por dia), a média móvel de novos casos também vem caindo nos últimos dias, tendo atingido 45,5 mil/dia no último domingo, uma redução de 18% em quatro semanas. No Brasil é sempre difícil afirmar se o número de novos casos está caindo mesmo ou se está havendo menos testagem. Mas, de qualquer forma, a redução no número de casos é um dos indicativos a apontar uma futura redução no número de óbitos, o que, se confirmado, será um ótimo sinal.

De acordo com acompanhamento do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde), a semana encerrada no último sábado terminou com 7.067 mortes, 5,8% a menos do que na semana anterior (7.500). No entanto, apesar da queda recente, tivemos cinco semanas consecutivas com mais de 6.600 óbitos cada, fato que não ocorria desde o final de agosto.

O que as estatísticas nos mostram é que, enquanto a vacina não caminhar a passo mais célere, continuaremos precisando de cuidados, de distanciamento social e de algumas medidas restritivas para evitar uma piora da pandemia no país. No atual ritmo, ainda levaremos alguns meses para que boa parte da população esteja imunizada. Até lá, é bom sabermos que a tão sonhada vacina ainda não é capaz de sozinha reduzir os estragos provocados pela pandemia de coronavírus. Isso sem falar nas novas variantes do vírus, que trazem ainda mais incertezas ao cenário

*Sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa

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