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Coronavírus mata cada vez menos no Brasil, mas há sinais de alerta

Diretor do Instituto FSB Pesquisa analisa as estatísticas de casos de coronavírus e traça um panorama da curva da doença no país

Covid-19: média diária de registros de óbitos vem caindo sistematicamente (Barcroft Media/Getty Images)

Covid-19: média diária de registros de óbitos vem caindo sistematicamente (Barcroft Media/Getty Images)

Mariana Martucci

Mariana Martucci

Publicado em 26 de outubro de 2020 às 16h13.

Última atualização em 26 de outubro de 2020 às 17h07.

A primeira onda da pandemia de covid-19 segue perdendo força no Brasil. Neste fim de semana, atingimos uma média móvel de 461 mortes diárias (sábado e domingo registraram o mesmo indicador). É o menor patamar em 172 dias, ou quase seis meses. A semana terminada neste domingo acumulou 3.229 óbitos. Foi a melhor em 25 semanas. E há cinco semanas consecutivas o número acumulado de vítimas do coronavírus recua.

Acumulado de mortes por semana terminada em um domingo

Acumulado de mortes por semana terminada em um domingo (Bússola)

A média diária de registros de óbitos vem caindo sistematicamente. Nos últimos 30 dias, a média móvel de sete dias recuou 32%. Hoje, ela é 58% inferior ao recorde, registrado em 25 de julho, quando o pico médio de mortes diárias atingiu 1.097/dia.

A queda é só um pouco mais lenta do que foi a escalada da pandemia no Brasil, entre o início de maio e o fim de julho. Para ter uma ideia, a média móvel levou 79 dias para ir de 464 ao recorde de 1.097. E levou um pouco mais, 89 dias, para voltar ao mesmo patamar.

Comparação das médias móveis de 7, 14, 21 e 28 dias

Comparação das médias móveis de sete, 14, 21 e 28 dias (Bússola)

À exceção do Paraná e do Amazonas, dois estados onde nos últimos dias a média móvel voltou a crescer, em quase todas as unidades da Federação a tendência é de queda acentuada ou pelo menos de estabilidade em patamares mais baixos do que os já registrados.

Apesar do recuo nas mortes, o número de casos voltou a crescer nas últimas duas semanas. Saímos de uma média móvel diária de 20.024 casos em 14 de outubro para 23.970 neste domingo, um crescimento de 20%. O número precisa ser visto com cautela, pois pode estar atrelado à maior testagem, mas ainda assim é um indicador que merece alguma atenção nos próximos dias.

Mas o sinal vindo do Amazonas preocupa. O estado, que já registrou 4.426 mortes por covid-19 e tem uma das mais altas taxas de mortes por 1 milhão de habitantes (1.057), tem hoje 94% de ocupação de leitos de UTI, indicando que o crescimento no número de casos volta a pressionar o sistema de saúde.

SP e RJ

Estado mais populoso do país, São Paulo abriga 21,9% dos brasileiros e por isso continua sendo o que registra mais óbitos diários, ou 23% da média total do país. Mas hoje a média paulista é de 104 mortes/dia, o menor patamar em 182 dias. Nos últimos 30 dias, o recuo no estado foi de 39% (7 pp a mais do que caiu a média nacional).

O segundo estado com o maior número de óbitos por covid-19 ainda é o Rio de Janeiro, onde vivem 8,2% dos brasileiros. O Rio é hoje responsável por 14% das mortes diárias por covid-19 e, diferentemente de São Paulo, está há duas semanas em uma certa estabilidade no número diário de registros de mortes.

A média móvel no Rio, hoje em 63 mortes/dia, recuou 25% nos últimos 30 dias (7 pp a menos do que caiu a média nacional), mas desde 15 de outubro há uma certa estabilidade no estado. De 15 a 25 de outubro, a média no Rio de Janeiro ficou praticamente igual, oscilando de 64 para 63/dia.

Sete estados

Atualmente 71% das mortes diárias estão concentradas em sete das 27 unidades da Federação: Bahia, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo. Juntos, esses estados representam 61% da população brasileira. Quando a média móvel atingiu seu auge, com 1.097 mortes/dia em 25 de julho, esses mesmos sete estados representavam 59% das mortes diárias. Sinal de que a queda nas demais unidades da Federação foi mais acentuada do que nessas regiões.

Dados acumulados

O histórico de óbitos por covid-19 em cada unidade da Federação conta diferentes histórias da pandemia. Em tese, cada estado deveria ter uma relação 1,0 entre o tamanho de sua população em relação ao total de habitantes do Brasil e sua participação no total acumulado de mortes no país, hoje em 157.134 vítimas. Estados acima de 1,0 tiveram mortalidade acima da proporção mortes/população. Estados abaixo tiveram mortalidade menor.

As duas UFs mais críticas são o Distrito Federal e o Rio de Janeiro, onde a relação entre o percentual de mortes é 1,6 maior do que o tamanho da população. O DF tem 1,4% da população brasileira, mas registrou 2,3% das mortes. O Rio de Janeiro representa 8,2% dos brasileiros, mas acumula 12,9% dos óbitos por covid-19.

São Paulo tem uma relação mais equilibrada: 21,9% da população e 24,7% das mortes. Cabe ressaltar que é o estado onde a pandemia começou no país e também o primeiro a registrar óbitos por covid-19. As menores taxas estão com Paraná (5,4% da população e 3,2% das mortes); Santa Catarina (3,4% e 1,9%) e Minas Gerais (10,1% e 5,6%).

Como já escrevi aqui na semana passada, ainda estamos mais ou menos no meio da montanha, mas seguimos descendo, o que é bom. Mas os sinais vindos da Europa e, no Brasil, do Amazonas, com registros de novos picos de casos, acende o alerta. Pode ser que tenhamos baixado a guarda cedo demais.

*Sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa

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