Bússola

Um conteúdo Bússola

Contrabando cai, mas 49% dos cigarros vendidos no Brasil ainda são ilegais

Pela primeira vez em dez anos, redução na diferença de preços provocou queda no consumo do cigarro do crime e migração do consumidor para o produto legal

Sonegação no comércio de cigarros chega a R$ 10,4 bilhões, segundo o Etco. (Michaela Rehle/Reuters)

Sonegação no comércio de cigarros chega a R$ 10,4 bilhões, segundo o Etco. (Michaela Rehle/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 15 de junho de 2021 às 19h40.

Por Bússola

Nova pesquisa do Ibope Inteligência/Ipec aponta que, em 2020, ano marcado pelo enfrentamento da pandemia da covid-19, a ilegalidade respondeu por 49% de todos os cigarros consumidos no Brasil. O índice é inferior aos 57% registraqdos em 2019, quando o mercado ilegal de cigarros alcançou o patamar mais alto. A queda se deve à elevação do dólar provocada pela pandemia, que aproximou o valor do cigarro contrabandeado do cigarro legal, que, no Brasil, tem o preço mínimo definido por lei de R$ 5.

Dos cigarros consumidos no país no ano passado, segundo o levantamento, 38% foram contrabandeados principalmente do Paraguai e 11% foram produzidos no Brasil, por fabricantes classificados como devedores contumazes, que fazem do não pagamento de impostos o seu negócio. Com isso, 53,9 bilhões de cigarros ilegais inundaram as cidades brasileiras no último ano. A pesquisa foi divulgada pelo Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco).

Com a cotação da moeda norte-americana ultrapassando a marca de R$ 5, o custo médio do cigarro ilegal passou de R$ 3,44, em 2019, para R$ 4,44, em 2020, aproximando, assim, o preço do cigarro legal.

Segundo Edson Vismona, presidente do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco), os resultados do levantamento em 2020 mostram que é possível para o Brasil combater a ilegalidade no setor de cigarros, substituindo o ilícito pelo produto legal. "A pandemia alterou fatores econômicos que impactaram também o negócio do crime organizado. Isso mostra que se mexermos nas variáveis econômicas de modo a atacar de frente o produto ilegal, o mercado legal nacional tem toda a capacidade de assumir essa parcela, gerando emprego e arrecadação, sem resultar em aumento de consumo", aponta Vismona.

Além da alta do dólar, o recuo incomum na economia ilegal observado no último ano também é resultado de uma combinação atípica e circunstancial que envolveu ainda: medidas de isolamento social no Brasil e no Paraguai em decorrência da pandemia, o fechamento parcial de fronteiras no Brasil, o fechamento temporário de fábricas de cigarros no Paraguai, além do aumento nas apreensões.

Já o mercado legal, que em 2019 alcançava 43% de participação, em 2020 aumentou os mesmos 8 pontos percentuais, chegando a 51% de participação. Essa inversão contribuiu para um incremento de R$ 1,7 bi na arrecadação tributária do Brasil sobre o setor do tabaco, alcançando R$ 13,5 bilhões arrecadados.

Mas a sonegação causada pela ilegalidade ainda é alta: R$ 10,4 bilhões. Esse valor, se revertido em benefícios para a população, poderia ser usado para a construção de 94 mil unidades de casas populares, ou 18 mil Unidades Básicas de Saúde (UBS), ou ainda 58 mil leitos de UTI para o tratamento de covid-19. Além dos impactos econômicos, o cigarro ilegal está associado ao financiamento de organizações criminosas e milícias.

Problema

Para Edson Vismona, apesar da diminuição da participação do mercado ilegal no último ano, o resultado não pode ser considerado positivo. "Essa queda é reflexo de um cenário atípico e circunstancial e, sem estratégias de longo prazo, o mercado ilegal voltará a crescer", afirma. Vismona pontuou a importância do debate tributário também sobre o ponto de vista de combate à ilegalidade.

"É importante que sejam tomadas medidas que impactem a demanda do cigarro do crime e não apenas medidas que se restrinjam ao combate da oferta do produto ilegal. Para isso, a questão tributária é fundamental e deve ser colocada em discussão". No Brasil, os impostos sobre os cigarros variam de 70% a 90%, dependendo do Estado. Já no Paraguai, o produto é taxado em apenas 18%.

Das dez marcas de cigarro mais vendidas no Brasil, quatro são ilegais. Em segundo lugar do ranking está a paraguaia Eight, que domina 12% de todas as vendas de cigarros. A soma do percentual de mercado das quatro marcas ilegais mais vendidas no Brasil corresponde a 25% de participação.

Realizada desde 2014, a pesquisa Ibope tem abrangência nacional e, nesta edição, foi a campo entre outubro de 2020 e janeiro de 2021. Foram realizadas entrevistas presenciais com 9 mil fumantes com idades de 18 a 64 anos, residentes em municípios com 20 mil habitantes ou mais.

Siga a Bússola nas redes: Instagram | LinkedinTwitter | Facebook | Youtube

Acompanhe tudo sobre:ImpostosCigarrosContrabandoSonegação fiscalReforma tributária

Mais de Bússola

Como a inteligência artificial está transformando treinamentos corporativos

Varejista investe em formação dos colaboradores com plataforma de conteúdo diversificado

Setor de energia elétrica avança na redução de passivo histórico

Rede social ESG aposta no Rio Innovation Week para ampliar sua presença