Ainda se conhece pouco sobre o mercado de reciclagem têxtil (MARTIN BERNETTI/Getty Images)
Bússola
Publicado em 13 de junho de 2022 às 12h30.
Por Karen Hofstetter*
Por mais desafiador que o tema da reciclagem têxtil possa parecer, já existem dados que indicam que o consumidor está pronto para dar um destino adequado às roupas que não usa mais.
Antes de descartar uma peça de roupa, a maioria das pessoas busca dar outro destino ao produto. São exemplos a doação para igrejas e projetos sociais — hábito que está presente em 87,9% da população, segundo o Instituto Modifica — e, em menor escala, a revenda em mercado de segunda mão, hábito comum apenas para 20,3% das pessoas.
No entanto, quando termina a vida útil dessas peças, elas acabam mesmo sendo descartadas.
O que poucos sabem é que as roupas usadas também poderiam ser destinadas à reciclagem. A mesma pesquisa indica que metade das pessoas nunca ouviu falar sobre reciclagem de roupas no Brasil, mas que 56,8% estariam dispostas a reciclar suas peças de roupas se soubessem que elas serão mesmo recicladas.
Separar outros resíduos, como plástico, alumínio e papel já é realidade em boa parte dos lares brasileiros. Dar a destinação correta para roupas e tecidos que não servem mais pode ser o nosso próximo avanço.
Para isso, é preciso ampliar o diálogo entre a indústria e os consumidores sobre as melhores práticas de sustentabilidade. Se, de um lado, as empresas investem em tecnologia e alternativas mais sustentáveis para resolver o problema do descarte têxtil e incluir a pauta da economia circular na cadeia de produção, do outro, é preciso engajar o consumidor para entender a responsabilidade do descarte correto.
O lançamento do movimento Des.a.fio da Malwee, e o moletom feito a partir de roupas recicladas, abre caminho como iniciativa inovadora que coloca o cliente como participante da mudança.
Além de ter feito um trabalho interno de estratégia de marca, a Malwee também concretizou uma parceria com a Cruz Vermelha e retirou mais de 1 tonelada de roupas que iriam parar no lixo. Afinal, a sustentabilidade não está apenas no produto, mas na tomada de consciência, nas mudanças de hábito e na incorporação de formas de consumo mais duradouras e benéficas.
Tudo isso passa por uma comunicação franca e bem estruturada. A agência Nama foi selecionada para participar do projeto, começando pela construção da estratégia para o alcance social com foco no impacto positivo. A Nama ainda convidou as consultorias Think Eva e Marina Colerato e criou a ação “O lixo nunca deve ser o destino da sua roupa”, realizando uma intervenção na avenida Paulista e convidando os consumidores a levarem peças de roupas usadas para ganharem o moletom reciclado.
O intuito foi chamar a atenção para a urgência de se pensar ações para diminuir o impacto ambiental negativo causado, em parte, pela indústria da moda, em parte, pelo descarte incorreto do consumidor.
Dados de empresas de coleta demonstram que, em São Paulo, o percentual de resíduos têxteis (panos, tecidos, retalhos e roupas) está entre 5% e 6% da coleta domiciliar comum. Somente na região do Brás, são coletadas 45 toneladas desse tipo de material têxtil por dia. Isso equivale a cerca de 16 caminhões de lixo têxtil enviados aos aterros sanitários todos os dias.
O descarte de roupas que poderiam continuar em uso soma cerca de 460 bilhões de dólares anualmente e produz em torno de 2,1 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa.
Assim como em outros setores produtivos, a sustentabilidade vem desafiando a indústria têxtil. Sabemos que são inúmeras as consequências ambientais e os impactos econômicos que motivam essa mudança. Sobretudo, a sociedade busca formas de se reinventar e espera que as empresas estejam alinhadas a uma necessidade que é coletiva. Cabe a nós, empreendedores, comunicadores e executivos, escutar, pensar junto e apresentar soluções.
*Karen Hofstetter é designer brasileira radicada em Berlim e diretora criativa e fundadora da Nama
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