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Como pensar tecnologia pelas e para mulheres

É necessário a inclusão de mulheres no mercado de tecnologia em condições isonômicas, e isso não é apenas um benefício ou direito

Mulheres são criadas com a crença de que não são boas com números. (Luis Alvarez/Getty Images)

Mulheres são criadas com a crença de que não são boas com números. (Luis Alvarez/Getty Images)

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Publicado em 10 de março de 2022 às 19h30.

Por Luísa Machado Leite Soares*

Em 1903, a física e química Marie Curie, conhecida pela teoria da radioatividade, só foi laureada com o Prêmio Nobel porque seu marido, Pierre Curie, se recusou a receber o prêmio sozinho. Era um trabalho em parceria, mas se dependesse da Academia, Pierre teria sido o único com o reconhecimento. Em 2021, apenas uma mulher foi premiada, dentre os treze ganhadores. Quase 12 décadas depois, ainda estamos discutindo a igualdade de gênero na sociedade, na ciência e na tecnologia.

Quem trabalha com tecnologia sabe que há escassez de pessoas desenvolvedoras no mercado. A necessidade de inclusão de mulheres no mercado em condições isonômicas não é apenas um benefício ou direito a ser conquistado, mas também atende esta demanda.

As mulheres podem e devem romper essa barreira estabelecida, não apenas por que programação é indispensável, mas também pelo risco de aumentar a distância existente entre homens e mulheres caso essa habilidade em nós não seja desenvolvida e estimulada. As mulheres são criadas com a crença de que não são boas com números e tendem a procurar carreiras voltadas para humanas. Ainda, tendem a ser mais avessas a riscos, então procuram trabalhos mais estáveis, fundam menos empresas e, consequentemente, assumem menos riscos.

Aconteceu comigo, no meu processo seletivo de entrada na Hash, empresa que trabalho atualmente, questionei por que estavam cogitando me contratar se eu não conhecia nada do mercado, nunca tinha pensado o que acontecia depois que eu passava o cartão de crédito e mal sabia que existia um mundo de meios de pagamento por trás, e a resposta que tive foi que se eu estivesse disposta, a Hash arcaria com a curva de aprendizagem necessária. Isso me empoderou e me deu coragem para superar esse desafio e apostar em algo inovador em oposição aos outros empregos tradicionais.

Como muitos, eu não iniciei minha vida profissional no mercado de tecnologia e acabei trilhando uma carreira padrão, me formando em direito e filosofia, e em seguida trabalhando em grandes escritórios e empresas, onde encontrei alta concentração masculina. Em um dos escritórios que trabalhei, apesar de ter 50% de advogadas, havia na época apenas 5% de sócias em cargos altos.

A alternativa criada para mulheres foi uma carreira em Y na qual apesar de título de sócia, não havia participação nas decisões e nem nos lucros de forma igualitária. Migrei então para o mercado de entretenimento, no qual um dos canais era de esportes, novamente um mundo masculino.

Em determinado momento eu percebi que há alternativas e me arrisquei no mercado de tecnologia, quatro anos depois tenho o privilégio de dizer que foi a decisão profissional e pessoal certa.

Hoje sou mãe, fui promovida após o retorno da licença maternidade e conto com todo suporte necessário para exercer todos os papéis que tenho hoje, como mãe e colaboradora, bem como quaisquer outros papéis que eu quiser desenvolver.

Assim como a Hash, há outras empresas no mercado que se preocupam com questões de diversidade e inclusão. Valorizem e deem preferência para essas oportunidades, busquem alternativas e não se acomodem ou aceitem a situação. Eu segui esse caminho e não me arrependi nem por um momento.

*Luísa Soares é Chief Legal Officer (CLO) e General Counsel (GC) na Hash, fintech do setor de meios de pagamento

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