"Na luta contra o crime de falsificação, a logística reversa do vidro torna-se um grande instrumento de combate", diz Cristiane Foja (skynesher/Getty Images)
Plataforma de conteúdo
Publicado em 7 de março de 2024 às 07h00.
*Por Cristiane Foja
A falsificação de bebidas alcoólicas depende, em grande parte, de um item em especial: a garrafa original. Simples assim. Por isso, é preciso conscientizar a sociedade sobre a importância do descarte correto dessas embalagens.
Não estamos aqui falando apenas da questão de redução do impacto ambiental no planeta, mas também de informar a população sobre como não contribuir com o crescimento do mercado ilegal de bebidas alcoólicas.
O Brasil ainda não tem dados absolutos sobre o tamanho e os impactos desse crime, mas o Relatório Geral de Apreensões, consolidado pela Associação Brasileira de Bebidas (ABRABE), aponta um percentual médio de 30% de bebidas falsificadas nas apreensões catalogadas nos últimos cinco anos.
Além do risco de causar intoxicações graves e outros males/problemas irremediáveis para a saúde do consumidor, tanto a bebida falsificada quanto a contrabandeada representam altíssimos prejuízos aos cofres públicos, uma vez que deixam de arrecadar milhões de reais em impostos. E, claro, sem falar no impacto à reputação das empresas nacionais e multinacionais que investem em suas marcas, muitas vezes centenárias.
Da lata de lixo de residências, estabelecimentos comerciais ou de eventos, as garrafas de bebidas alcoólicas podem eventualmente cair em mãos erradas e serem colocadas à venda, especialmente no mercado online, em marketplaces não confiáveis ou grupos de redes sociais. Em uma pesquisa de 20 minutos feita em um único canal digital, a Associação Brasileira de Bebidas - ABRABE encontrou 7.116 garrafas com fortes indícios de ilegalidade.
Na luta contra o crime de falsificação, a logística reversa do vidro torna-se um grande instrumento de combate. E o descarte correto não se resume a colocar a garrafa no lixo reciclável, como muitos imaginam. No caso desses produtos, é preciso inutilizar a embalagem. Rasgar o rótulo, arranhar o vidro, destruir o lacre, a tampa ou até mesmo quebrar a garrafa, com cuidado, é claro. Quanto mais descaracterizada, menos utilidade ela terá para quem se dedica ao crime de falsificação ou adulteração.
É de conhecimento que a logística reversa do vidro tem suas peculiaridades, como o custo do frete e a distância entre a geração, operação de triagem e as fábricas de embalagens de vidro. Em contrapartida, reutilizar ou reciclar o insumo contribui de maneira fundamental para a preservação do meio ambiente ao diminuir a extração de recursos naturais e reduzir a emissão de CO2 e o consumo de energia, além de gerar emprego e renda na cadeia sustentável.
E como já foi abordado aqui, contribui também no combate ao mercado ilegal. Se pensarmos que uma garrafa de bebida falsificada coloca em risco a vida de várias pessoas que podem consumir doses do produto, cada garrafa adequadamente retornada é um grande feito para o bem.
Na minha experiência com o Glass Is Good, programa focado nas garrafas pós-consumo, pude acompanhar os esforços para recuperar toneladas de vidro. Desde 2010, 220 mil toneladas de vidro tiveram destinação correta por meio do Glass Is Good, o que equivale a 380 milhões de garrafas. Considerando todo o volume de garrafas produzidas, importadas legalmente e comercializadas no Brasil nesse período, pode não parecer significativo, mas é.
Seja uma iniciativa que recupera toneladas de vidro em um ano ou o consumidor final consciente que desconfiou e não comprou uma bebida alcoólica suspeita ou evitou que uma garrafa vazia chegasse às mãos desses criminosos, os resultados, certamente, são milhares de vidas salvas.
*Cristiane Foja é presidente-executiva da ABRABE – Associação Brasileira de Bebidas.
Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube