Bússola

Um conteúdo Bússola

Como a prestação de cuidados centrada no paciente humaniza a saúde

A pandemia agravou a falta de proximidade no cuidado; o isolamento social diminuiu as conexões humanas entre pacientes e agentes de saúde

Com a significativa redução das mortes por coronavírus, o setor de saúde aos poucos retorna à rotina. (Megaflopp/Thinkstock)

Com a significativa redução das mortes por coronavírus, o setor de saúde aos poucos retorna à rotina. (Megaflopp/Thinkstock)

B

Bússola

Publicado em 28 de abril de 2022 às 17h52.

Por Vivian Coutinho*

Você consegue imaginar, nos tempos de hoje, uma prestação de serviços de saúde com uma abordagem humanizada, em que os profissionais da área, desde o atendimento, passando pela consulta, até os procedimentos, agem colocando os interesses do paciente como prioridade, fazendo-o assumir o papel de protagonista para, a partir de informações técnicas, definir as melhores práticas que garantem a sua própria qualidade de vida?

Ao contrário de outras áreas, o conceito de inovação na medicina tem a ver primeiro com a expansão do conhecimento. Um novo tratamento, nova técnica, uma causa e efeito revelada.

No entanto, a pandemia agravou a falta de proximidade no cuidado. O isolamento social diminuiu as conexões humanas entre pacientes e agentes de saúde. Desde março de 2020, a maioria dos hospitais e centros de saúde priorizaram emergências relacionadas à covid-19. Mesmo com uma cobertura vacinal bastante satisfatória, entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022, a covid anda liderou com folga os atendimentos de dúvidas de saúde da Informar, equivalendo à soma das quatro posições subsequentes e mais de dez vezes superior à sexta colocada.

Ao longo desses dois anos, as tecnologias de automação impulsionaram a oferta de diagnósticos e tratamentos mais rápidos e precisos. Com a ajuda de algoritmos inteligentes, a telemedicina se apresentou como uma abordagem estratégica, com atuação estruturada e organizada para a prestação de serviços de saúde à distância.

Hoje, com a significativa redução das mortes por coronavírus, o setor de saúde aos poucos retorna à rotina, agora reforçada pela quase onipresença da tecnologia, que para as demais áreas do conhecimento é unanimemente reconhecida como veículo de inovação.

Diante desse novo cenário, temos a oportunidade de as empresas que prestam serviços de cuidados às pessoas melhorarem as conexões com os pacientes. O foco deve ser a qualidade.

Como melhorar a experiência do paciente com o suporte da tecnologia

O fortalecimento da aliança entre agentes de saúde e pacientes é um passo importante na jornada contínua para humanizar os cuidados. E, contrariando o senso comum, a saúde "digitalizada” tem potencial para reforçar esse vínculo.

Afinal, apesar dos grandes investimentos em inovação na saúde, nos últimos dois anos a grande transformação desse setor será relacionada ao cuidado habilitado digitalmente, segundo previsões de especialistas. Isto significa uma prestação de serviço mais humanizada, utilizando a tecnologia como suporte para oferecer agilidade e precisão no atendimento.

De acordo com o State of Healthcare 2021 Report, 60% das empresas do setor estão criando novos projetos em digital e 42% acelerando alguns ou todos os planos de transformação digital. Entre as tecnologias mais citadas estão: RPA, inteligência artificial, 5G, realidade virtual e aumentada, blockchain e IoT, a Internet das Coisas.

Pressionada pela crise sanitária global, soluções que levariam anos para serem implementadas ou regulamentadas, como a telemedicina e o monitoramento remoto de paciente, já estão sendo testadas e implementadas ou aperfeiçoadas, com aplicações para consultas de baixa gravidade e acompanhamento de doenças crônicas.

Evidentemente, alguns procedimentos e intervenções médicas exigem a presença física. Quando falamos de cuidado com pessoas, as habilidades cognitivas do ser humano, que envolvem questões subjetivas, como a sensibilidade e a ética, fazem diferença.

A comunidade tecnológica reconhece e valoriza isso. Tanto que startups desenvolveram os Doc-bots com empatia algorítmica. Não se trata de supor que um robô com empatia substitua o serviço médico humanizado, mas os bots são ferramentas de apoio úteis para direcionamento a especialidades ou para cuidados primários por conta própria, especialmente em locais onde há escassez de profissionais e serviços.

Humanizando os cuidados com a saúde: qual o caminho?

Não há como ignorar a aceleração digital impulsionada pela crise do coronavírus. No entanto, por mais que mudanças aconteçam para acompanhar a evolução da sociedade, há valores que seguem indispensáveis.

Atenção e acolhimento, por exemplo, são duas características da abordagem humana na saúde que dificilmente serão completamente assumidas um dia por ferramentas digitais, por mais aprimorada que seja a tecnologia. Quando procuramos atendimento de um profissional da saúde nem sempre precisamos de um tratamento.

Muitas vezes, marcamos uma consulta para conversar com o médico sobre prevenção, hábitos de vida saudável, histórico de família. O cuidado que procuramos é uma atenção especial, escuta, acolhimento. Alguém capaz de processar nossas queixas com respeito aos sentimentos envolvidos.

Será que algum dia uma máquina conseguirá oferecer uma experiência assim, tão pessoal, empática e cuidadosa? Hoje, mesmo com a Saúde 5.0, isso não é possível.

Mais do que nunca, é preciso reconectar o ecossistema de saúde, fortalecendo toda a cadeia: profissionais, serviços, indústria e pacientes, e voltar os olhos para o valor inestimável do cuidado.

O atendimento digital personalizado é o futuro do setor de saúde?

A busca por um atendimento humanizado, ágil e eficiente fez com que a procura por inteligência artificial ficasse na mira do setor de saúde. Tanto que, segundo relatório da GVR, o mercado global de IA no setor de saúde foi avaliado em US$ 10,4 bilhões em 2021 e deve se expandir a uma taxa de crescimento anual composta de 38,4% de 2022 a 2030.

Os benefícios trazidos pela IA e suas ramificações são enormes na saúde. A tecnologia promete ser forte aliada nos tratamentos, atendimentos e nas respostas rápidas aos pacientes, caminhando no sentido de uma medicina preventiva.

A inteligência artificial viabiliza uma medicina muito mais próxima da sociedade, com intuito não de substituir a capacidade analítica das equipes técnicas e sim de utilizar a tecnologia como apoio para melhorar a jornada do paciente.

O aumento dos gastos do consumidor com bem-estar mostram preocupação crescente com a saúde preventiva e a exigência por serviços de qualidade.

A inovação no sentido mais amplo é necessária. As vantagens para o setor com as soluções digitais mitigam desafios, tanto no exercício da medicina quanto na gestão em saúde.

O fato é que, nunca como antes, a tecnologia será aplicada para a melhoria da experiência do paciente e do cuidado com a saúde de ponta a ponta.

As aplicações surgem, inclusive, com as expectativas dos pacientes que estão cada vez mais receptivos ao atendimento digital e, de agentes da saúde, que experimentam o valor das ferramentas.

A chegada do 5G tornará os serviços ainda mais disruptivos, com maior conectividade e velocidade na transmissão de dados, oferecendo um futuro ainda mais eficiente para a saúde.

Se antes melhorar experiência do paciente, inovação e o crescimento sustentável do setor eram variáveis incompatíveis na mesma equação, hoje, as empresas começam a enxergar que tecnologia aliada ao cuidado pode ser a chave para unificar tais objetivos.

A partir de agora, o grande desafio para a saúde será usar os recursos digitais para aperfeiçoar a experiência do paciente sem desumanizar o atendimento.

O setor precisa caminhar para um modelo de atendimento preventivo, rápido e focado no bem-estar do paciente. A tecnologia nos ajuda a remodelar o conceito tradicional do atendimento reativo e mecânico para uma assistência contínua, preditiva e humanizada.

A combinação da capacidade de processar imensas quantidades de dados das tecnologias de automação aliada à expertise humana será fundamental para a medicina encontrar curas, tratamentos mais promissores e diagnósticos preventivos para uma sociedade mais saudável, estabelecendo um ecossistema de cuidado. E isso é tudo que o paciente quer.

*Vivian Coutinho é diretora de operações da ProCare Saúde

Siga a Bússola nas redes: Instagram | LinkedInTwitter | Facebook | Youtube

Veja também

Acompanhe tudo sobre:SaúdeInovaçãoStartupsInteligência artificial5G

Mais de Bússola

Como a inteligência artificial está transformando treinamentos corporativos

Varejista investe em formação dos colaboradores com plataforma de conteúdo diversificado

Setor de energia elétrica avança na redução de passivo histórico

Rede social ESG aposta no Rio Innovation Week para ampliar sua presença