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Como a abertura de dados vai impulsionar o setor elétrico brasileiro

Com dados mais acessíveis e combinados com tecnologia, é possível atuar no segmento estimulando inovação e digitalização sem grandes investimentos

Integração e a análise de dados têm o potencial de destravar uma série de novos modelos de serviços nos próximos anos (ENEVA/Divulgação)

Integração e a análise de dados têm o potencial de destravar uma série de novos modelos de serviços nos próximos anos (ENEVA/Divulgação)

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Publicado em 21 de dezembro de 2021 às 15h00.

Última atualização em 3 de janeiro de 2022 às 20h40.

Por Danilo Barbosa e Nayanne Brito*

Os avanços impulsionados pelo open banking, com a abertura de dados e o controle nas mãos do consumidor, têm revolucionado o setor financeiro. A oferta de produtos customizados, mais baratos e vantajosos traz benefícios tanto para as fintechs e outras empresas da área como para os clientes. Mas esse movimento de compartilhamento de dados não se limita ao âmbito bancário. A transformação digital impulsionada pelo open banking abre a porta para vários outros setores. Na área de seguros, por exemplo, o open insurance permite a oferta de produtos inteligentes baseados nos dados de cada cliente. Na saúde, o open health possibilita a integração de toda a cadeia de forma segura, abrangente e com o consentimento do usuário. O mesmo acontece com o setor elétrico.

O mercado de energia, água e gás no Brasil ainda carece de digitalização. A integração e a análise de dados têm o potencial de destravar uma série de novos modelos de serviços nos próximos anos. Essa intensificação no fluxo de informações entre diferentes plataformas pode ser chamada de open utilities. Assim como o open banking ajuda a descentralizar o mercado financeiro, reduzindo custos para os consumidores e dando espaço para os pequenos negócios em meio aos bancos tradicionais, o movimento open pode ajudar a impulsionar empresas menores do setor elétrico, estimulando a competitividade.

Para atuar no mercado de energia, sem essa abertura, é necessário muito investimento em infraestrutura. Por outro lado, com dados mais acessíveis, combinados com tecnologia, é possível atuar nesse mercado sem grandes investimentos, estimulando a inovação e a digitalização.

Superando esse desafio, naturalmente mais empresas ficarão interessadas em entrar no setor de energia e utilidades como um todo. A movimentação permitirá não só a criação de novos serviços para o consumidor, mas também vai instigar grandes e pequenas empresas a levarem consciência energética para a sociedade, que poderá enxergar possibilidades de economia e sustentabilidade ativa.

Existem exemplos de serviços e aplicações que podem ser desenvolvidos em escala, com a disseminação do open utilities. Com APIs (Application Programming Interfaces) que possibilitem a um cliente dar acesso a seus dados, uma rede do varejo, por exemplo, poderia suportar a análise de crédito automática com base no histórico de bom pagador das contas de energia, água ou gás. Sistemas contábeis poderiam ter acesso detalhado às informações, sem necessidade de digitação, separando impostos, custos de energia, multas, ou qualquer outro aspecto relevante para o controle contábil e gerencial, de forma automática. Em um segmento mais específico, empresas focadas em gestão de energia poderiam unificar o controle de informações de diferentes distribuidoras, ou se especializar em diferentes aspectos da gestão, como projetos de eficiência energética, sem ter que instalar medições paralelas.

Em relação à oferta de produtos, o acesso a dados bancários dos consumidores traria vantagens. Um exemplo é que para o usuário com um ótimo score financeiro, que acerta suas contas em dia, pode ser oferecido um serviço agregado, ou melhores condições de pagamento na tarifa. Ou então para o consumidor consciente, que economiza no uso de energia e apoia a questão ambiental, poderia ser dado um desconto. Olhando pela perspectiva do banco, caso o cliente utilize energia de fonte renovável, ele poderia receber crédito a mais. Esses benefícios agradam o consumidor, porque ele vê vantagens concretas no bolso, e ainda estimulam o consumo de forma sustentável.

Abertura de dados na abertura de mercado

Outro ganho a partir da implementação do open energy é a redução significativa de custos transacionais no Mercado Livre. Portanto, adiantar esse movimento para compartilhamento dos dados disponíveis hoje na conta é uma excelente maneira de testar os protocolos de comunicação e ajustar os eventuais problemas, possibilitando que a abertura do mercado aconteça de maneira mais confiável.

A evolução natural seria permitir tráfego de dados bidirecional, uniformização de dados de energia em escala nacional e aglutinação e anonimização para mais robustez na qualidade dos dados utilizados para planejamento energético de políticas públicas. Com essa evolução, quando houver a massificação de medidores inteligentes, o setor já estará maduro para o volume de dados que surgirá a partir desse marco.

Impactos positivos com segurança

Alicerçado na legislação e no direito do consumidor, o mercado de energia só tem a ganhar com o movimento open. Setor extremamente sensível à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (lei 13.709/18), tem o poder de alavancar a economia brasileira sem deixar de garantir o direito dos clientes sobre seus dados. Seja pelo incentivo a práticas mais sustentáveis de consumo de energia, pela criação de novas empresas, descentralização das grandes companhias, ou então pelo oferecimento de produtos mais personalizados, o open energy é um movimento necessário. No fim, quem ganha é o consumidor, que passa a ter mais poder sobre os serviços, tem suas informações compartilhadas em um ambiente seguro e sente a economia direto no bolso.

*Danilo Barbosa é sócio e cofundador da Way2 Tecnologia e Nayanne Brito, da Lemon Energia e Nayanne Brito é  Engenheira de Energia da Lemon Energia

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