Engenharia precisa ser incentivada no ensino fundamental (Georgijevic/Getty Images)
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Publicado em 16 de maio de 2025 às 10h00.
Por Caio Eduardo Thomas*
Vivemos um paradoxo alarmante: enquanto o mundo se transforma com base em soluções tecnológicas, engenheiros se tornam figuras escassas no Brasil. Os dados mais recentes mostram que apenas 6% dos universitários brasileiros estão matriculados em cursos de Engenharia. Isso coloca em xeque não apenas a sustentabilidade do nosso desenvolvimento econômico mas também a própria capacidade do Brasil de competir em um mundo moldado por inovação, infraestrutura e indústria de alta complexidade. Esse dado revela um desafio estrutural para o futuro do país.
O fenômeno não é exclusivo do Brasil, mas é especialmente preocupante aqui, onde os desafios de infraestrutura, mobilidade urbana, energia e digitalização são enormes. O desinteresse pela Engenharia entre os jovens é um reflexo de um sistema educacional com pouca conexão entre teoria e prática, e de uma cultura que, muitas vezes, celebra carreiras mais imediatistas, sem o mesmo grau de contribuição estruturante para a sociedade.
Reportagens recentes sobre o baixo interesse de jovens estudantes por Engenharia expõem com clareza esse vácuo. Os dados são frios, mas a conclusão é quente: se não agirmos agora, comprometeremos o futuro do Brasil. A solução passa por uma transformação profunda na forma como introduzimos as ciências exatas e tecnológicas às novas gerações.
Projetos como a Casa do Pequeno Cientista, criado na Alemanha e desenvolvido com os alunos da Educação Infantil e do Ensino Fundamental do Colégio Visconde de Porto Seguro, têm se mostrado essenciais para despertar o interesse genuíno das crianças pelas disciplinas STEM (sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática).
Ao permitir que meninas e meninos explorem, inventem e se deparem com problemas reais, esses programas criam as condições ideais para que a Engenharia deixe de ser uma abstração distante e passe a ser compreendida como ferramenta de transformação do mundo. A cada experimento conduzido, cada hipótese testada e cada solução prototipada, formam-se não apenas futuros engenheiros mas também cidadãos mais preparados para interpretar e intervir em um mundo em transformação.
A Alemanha, por exemplo, soube resgatar o interesse pelas engenharias ao incorporar metodologias ativas e programas de iniciação científica desde os primeiros anos escolares. O resultado é uma sociedade com maior densidade tecnológica, mais patentes registradas e uma indústria que se reinventa constantemente. Esse não é um caminho exclusivo da Europa: é uma trilha que o Brasil pode e deve percorrer, respeitando suas especificidades.
Mas o reencantamento dos jovens com a Engenharia exige mais do que boas práticas pedagógicas. É preciso também reposicionar o imaginário social que cerca a profissão. "Engenheiros não são apenas os profissionais que constroem pontes e operam cálculos complexos; são os arquitetos da mobilidade urbana, da sustentabilidade, das soluções digitais que usamos todos os dias." Precisamos comunicar isso com vigor – nas escolas, na mídia, nas redes sociais, nos almoços de família.
No Colégio Visconde de Porto Seguro, observamos os seguintes resultados na formação de estudantes que optam por seguir carreira em Engenharia: de 2020 a 2023, a taxa de formandos aprovados em cursos de Engenharia variou de 13% a 16,5%, índices significativamente acima da média nacional – 6% das matrículas na área. Considero que os dados demonstram que é possível, sim, engajar os jovens nas ciências aplicadas quando criamos uma cultura escolar alinhada à resolução de problemas reais, à experimentação e à construção colaborativa do conhecimento.
A geração que hoje está no Ensino Fundamental é a que, em vinte anos, estará liderando projetos de infraestrutura resiliente, redes de energia limpa e inovações em mobilidade urbana. Se não prepararmos esse grupo com uma base sólida em ciências aplicadas, perderemos mais do que competitividade: perderemos nossa capacidade de sonhar alto e realizar.
O Brasil precisa voltar a sonhar com a Engenharia. E o sonho começa, como tudo o que importa, na infância.
* Caio Eduardo Thomas é diretor-superintendente do Colégio Visconde de Porto Seguro, em São Paulo.
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