O recrutamento do conselho deve estar alinhado aos novos tempos (manusapon kasosod/Getty Images)
Bússola
Publicado em 11 de outubro de 2022 às 20h29.
Uma pesquisa do BCG (Boston Consulting Group) e do Centro de Governança Corporativa do Insead (Instituto Europeu de Administração de Empresas) feita com conselheiros do mundo inteiro revelou que 91% acham que seus boards deveriam dedicar mais tempo aos aspectos estratégicos das questões ambientais, sociais e de governança (ESG).
No entanto, a mesma pesquisa apontou que 70% acreditam que são apenas moderadamente ou nada eficazes na integração de ESG na estratégia e governança da empresa. O levantamento também apurou que os conselhos consideram o tratamento das mudanças climáticas como uma prioridade, mas apenas 55% relataram que suas organizações prepararam e publicaram um plano para atingir essa meta.
Um grande paradoxo, não? Qual o motivo da discrepância?
No meu entendimento, isso acontece por conta dos conselhos com “mentalidade executora”, ou seja, os boards que em vez de se concentrarem nas diretrizes estratégicas, passam a maior parte do tempo abordando o ESG sob os vieses operacional e tático, dentro da “zona de conforto” das habilidades e conhecimentos de parte dos seus integrantes.
Esse fenômeno é resultante de um processo de recrutamento de conselho não alinhado aos novos tempos, feito com base em skills valorizadas no passado. Dessa forma, esses advisors se sentem mais à vontade com questões de controles de sustentabilidade do que em desenvolver um pensamento crítico e propositivo à nova governança do negócio.
Assim, resta pouco espaço na agenda para o debate estratégico que gere valor, proponha um novo olhar e estimule a liderança a repensar o negócio visando seu crescimento sustentável que é, afinal, o verdadeiro propósito de um conselho.
Acredito que, para corrigir essa distorção, é necessário investir em 3 pilares:
Em razão do período de mudanças amplas e disruptivas em que vivemos, temos defendido a importância da diversidade em todos os patamares das empresas, não apenas por uma questão de inclusão social, mas também por uma questão estratégica. Está mais do que comprovado que corporações diversas e plurais são mais lucrativas, inovadoras, tem turnover menor e um clima organizacional mais saudável.
Logicamente, é urgente que as empresas revisem também a composição de seus boards. A meu ver, deve-se priorizar profissionais que saibam lidar com a incerteza e a complexidade do mundo BANI, representem uma gama mais ampla de perspectivas, sejam capazes de questionar os modelos de negócios e as normas de mercado e possam impulsionar a inovação e mudança visando a sustentabilidade competitiva.
O ESG ainda é novidade para muita gente, por isso os conselhos devem buscar por mais conhecimento sobre o assunto. Uma das formas é incluí-lo na programação dos treinamentos regulares do board.
É fundamental também que os conselheiros sejam proativos, buscando por conta própria conteúdo sobre ESG (há inúmeras pesquisas, matérias, eventos e entrevistas online) e levantando quais tópicos gostaria que fossem aprofundados para auxiliá-los na elaboração estratégica de questões ESG.
Por fim, os conselhos devem selecionar um modelo de governança no qual os controles e as práticas sejam tratados de forma adequada. De acordo com estudos do BCG e do INSEAD, existem quatro modelos ideais, cada um adequado a um tipo de empresa e estágio na jornada de sustentabilidade.
São eles:
O modelo pode mudar ao longo do tempo, à medida que a maturidade da empresa em termos de sustentabilidade for evoluindo.
Com essas três medidas, o conselho estará estruturado para nortear o negócio de forma consistente e rápida em ESG e orientar a alta administração a fazer os investimentos certos para isso.
*Claudia Elisa Soares é especialista em ESG e transformação de negócios e líderes e conselheira em companhias abertas e familiares — Tupy, Even, Grupo Cassol, Bernoulli Educação e Gouvêa Ecosystem
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