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Bússola Vozes: conciliando carreira política e maternidade

Um dos desafios mais complexos enfrentados por mulheres políticas é a conciliação entre a carreira e a maternidade

 (skynesher/Getty Images)

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Publicado em 26 de julho de 2024 às 15h00.

Por Marília Santos de Almeida*

A participação das mulheres na política tem aumentado ao longo dos anos, mas ainda existem barreiras significativas que dificultam a plena inclusão e a equidade de gênero nesse campo. Um dos desafios mais complexos enfrentados por mulheres políticas é a conciliação entre a carreira e a maternidade. Hoje, vamos falar das dificuldades que essas mulheres enfrentam, baseando-se em uma entrevista dada por Thânisia Cruz, presidente da ONG Elas no Poder, que destaca os aspectos institucionais e culturais desse contexto.

O ambiente político não foi inicialmente concebido para incluir mulheres, o que resulta em uma entrada tardia e conquistada através de muitas lutas. A obrigatoriedade do voto feminino e a presença de mulheres no Senado são exemplos relativamente recentes dessa inclusão. Uma evidência clara disso é que apenas em 1979 foi instalado o primeiro banheiro feminino no Plenário. Thânisia nos traz a reflexão que:

“Não é preciso supor que, diante de uma necessidade básica, uma senadora caminhou muito mais que um senador para chegar ao banheiro. Diariamente, isso pode demonstrar uma diferença boba de minutos, porém, a longo prazo, isso apresenta desequilíbrio no tempo de trabalho e na participação política, onde a mulher vai perdendo a competitividade, simplesmente, por ter ido ao banheiro, como Katherine Coleman Goble Johnson, no filme ‘Estrelas Além do Tempo’.” – Thânisia Cruz.

Como mãe, Thânisia salienta que somente o ambiente da casa foi pensado para mulheres, sua vivência nos diz que qualquer espaço externo não foi preparado para mulheres e suas crianças. E por isso é importante envolvê-las nas decisões públicas para repensar as estruturas sociais, uma vez que, elas terão esse “olhar de representatividade sobre a própria realidade.

Apresenta-se 3 frentes que poderiam melhorar a relação da sociedade com a presença de mulheres e mães nos espaços de poder:

  1. Educação para as relações de gênero e interseccionalidades.
  2. Projetos arquitetônicos inclusivos e cumprimento de legislações que vão obrigar a inserção.
  3. Permanência de mulheres nas casas legislativas, como as Cotas para Mulheres nas Eleições.

Um dos fatores que afastam as mães da política são as interpretações equivocadas sobre o direito a licenças e dispensas para cuidados de seus filhos. Vale dizer que, não somente na política, mas em toda esfera de trabalho, a sociedade não acolhe as necessidades da formação da família, porém criam expectativas absurdas para que uma mãe consiga conciliar sua maternidade e sua profissão. Quando sentem dificuldade de se reinserir no mercado de trabalho, isso respinga nos seus interesses no debate de representação política, se sentindo despreparadas.

“Nós acreditamos que, para a manutenção de mães no mercado de trabalho e na política, é preciso que a sociedade compreenda como funciona a rotina de uma mãe e oportunize que ela se desenvolva profissionalmente. É preciso também que a realidade para a educação de uma criança saia do ambiente doméstico e ganhe os espaços públicos.” – Thânisia Cruz.

Os desafios das mulheres são estruturais, por conseguinte, os desafios das mães também são, já que vivemos em um contexto pensado por e para homens “onde o nosso equívoco social é digerir a ideia de que há uma divisão dos aspectos da vida, entre o pessoal e o público, colocando o que é político em uma esfera distante de nós [mulheres]. No entanto, há uma frase emblemática que diz que o pessoal é político", esclarece Thânisia.

A casa é o lugar esperado onde as mulheres e mães existem, mas também é político. Thânisia nos diz que “[a casa] é o espaço onde a sociedade nos nota como úteis. É o único espaço onde a nossa ausência é sentida. Contudo, todas as atividades de manutenção tanto da casa quanto da sociedade são de responsabilidade coletiva.”

As mulheres enfrentam a invisibilidade de suas tarefas e a sobrecarga da profissão mãe. E para essa sociedade de responsabilidade coletiva nós precisamos compreender que existirão momentos em que as mães levarão suas crianças nas empresas, ministérios ou no congresso, e é neste momento que “nós queremos que esse espaço saiba nos acolher e saiba entender o universo da maternidade e da infância” , complementa Thânisia. 

*Marília Santos de Almeida é diretora de Comunicação da Elas no Poder.

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