(Dado Ruvic/Reuters)
Mariana Martucci
Publicado em 23 de fevereiro de 2021 às 07h00.
O mundo da comunicação digital foi pego de surpresa na semana passada com uma notícia do outro lado do planeta. Diante de um projeto de lei aprovado pela Câmara de Deputados australiana estipulando que veículos de imprensa sejam remunerados pelo compartilhamento de seus conteúdos e notícias por sites e redes sociais, o Facebook decidiu simplesmente cortar o acesso dos seus mais de 18 milhões de usuários na Austrália a notícias e conteúdos jornalísticos.
Trocando em miúdos: desde a última quarta-feira (17), veículos de comunicação e usuários australianos não conseguem mais postar ou compartilhar no Facebook links de notícias. Os próprios publishers - e também usuários internacionais - não podem divulgar ou acessar conteúdo de páginas da Austrália na rede de Mark Zuckerberg. No blog oficial do Facebook, o diretor geral da rede na Austrália e Nova Zelândia, William Easton, disse que o projeto de lei apresentado pelo governo australiano “compreende mal a relação entre plataforma e publishers”.
Já seria uma decisão polêmica em tempos normais. É mais grave ainda em meio a uma pandemia, com as pessoas sendo inundadas por fake news nas redes e precisando mais do que nunca de informação de fontes confiáveis.
A medida representa o acirramento de um debate que vem ganhando volume à medida que o Google e redes sociais, como o Facebook, conquistam uma fatia cada vez mais gorda do mercado de publicidade digital, colocando em uma situação difícil os meios de comunicação que dependem dessa receita para sustentar o jornalismo.
O Google é outro forte opositor do projeto de lei australiano, mas optou por um caminho diferente: também na semana passada, assinou um contrato de três anos com a editora News Corp, de Rupert Murdoch e Robert Thomson, segundo o qual a gigante das buscas pagará à companhia pelas notícias produzidas por seus veículos jornalísticos.
Enquanto esgrima com as empresas de jornalismo, Zuckerberg prepara o caminho para mais um capítulo da novela sobre mudanças do WhatsApp: vai investir em ações de comunicação para explicar aos usuários da plataforma de mensagens o que muda com a adesão aos novos termos de compartilhamento do Facebook.
Isso porque a debandada dos usuários em direção a outros aplicativos de mensagem fez o WhatsApp adiar para maio a mudança em sua política de privacidade que estava programada para acontecer este mês. Agora, o trabalho de comunicação da empresa visa a convencer seu público de que o conteúdo de suas conversas privadas continua mantido sob sigilo. Essa garantia, contudo, não é dada para a interação com as contas comerciais – e essa é a principal mudança na política de conteúdo do app.
Até maio, a plataforma vai se dedicar a explicar esses detalhes para o usuário. E também a dar mais transparência sobre como se dá sua relação e troca de informações com o Facebook, sua empresa controladora.
Outra rede social que já começa a causar questionamentos sobre segurança de informações e privacidade é a estrela do momento, a plataforma de áudio Clubhouse. O fato dos bate-papos que acontecem na rede serem gravados é declarado nos termos de serviço e política de privacidade do Clubhouse e justificado pela necessidade de se documentar possíveis violações relatadas de regras de confiança e segurança.
O que não se sabe é quais são os parâmetros para determinar que tipo de comentários poderiam dar origem a uma investigação ou se, de fato, as gravações de conversas são apagadas ao final das sessões. Em nota divulgada neste mês, autoridades de proteção de dados da cidade alemã de Hamburgo alertaram que o aplicativo "levanta muitas questões sobre a privacidade de usuários e terceiros".
Fique por dentro dessas e de outras tendências da semana aqui:
*Sócios-diretores da FSB Comunicação
Siga Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube