Ativista comemora resultado das eleições na França, em Paris (Emmanuel Dunand/AFP)
Analista Político - Colunista Bússola
Publicado em 12 de julho de 2024 às 17h00.
A esquerda venceu as eleições legislativas francesas. Mas não tomou o poder. A direita cresceu no parlamento, mas não o suficiente para governar. O centro ficou menor, mas pode escolher qualquer um dos lados para governar, ou escolher lado nenhum e aprofundar o impasse gerado pela precocidade eleitoral do presidente Emmanuel Macron.
Os trabalhistas ganharam na Inglaterra depois de 14 anos distantes de Downing Street 10. Se alguém acredita que foi um sucesso da esquerda, é bom lembrar que Winston Churchill foi conservador quando era necessário e se converteu a liberal quando os tempos assim exigiram que ele o fizesse para ter acesso aos cargos do poder.
Se Churchill passou por dois partidos diferentes, isso diz muito sobre as características essenciais dos britânicos… Assim como os distintos Democratas e Republicanos nos Estados Unidos sempre foram próximos ideologicamente durante quase toda a história do país, exceto Donald Trump, que é um fenômeno fora de qualquer parâmetro.
Existem, claro, diferenças entre os dois grupos políticos ingleses, mas ninguém vai queimar libra esterlina no alto da Torre de Londres para provar isso. E também os norte-americanos não se jogam do Niágara pra demarcar suas diferenças pela qualidade dos barris. Existem também semelhanças entre os grupos franceses, que se unem contra um acordo com o Mercosul, por exemplo, em defesa entrincheirada do seu brie.
A França é sempre peculiar: durante a Comuna de Paris, o banco da família Rothschild fez um empréstimo aos líderes do movimento revolucionário para pagar as despesas básicas de funcionamento da cidade. Claro, queriam preservar intactos seus bens patrimoniais. Do outro lado do Sena, liberaram mais dinheiro para os fugitivos em Versalhes que representavam as elites prontas pra voltar ao poder. E voltaram…
Também temos nossas diferenças com traços de união que ainda mantêm coeso o país. A Reforma Tributária, por exemplo, mostrou essa união: o presidente Lula e integrantes da bancada ruralista em defesa da inclusão da carne na cesta básica. O que a picanha uniu, o centrão não tributa.
O interesse de Lula é ter o discurso de que está oferecendo carne a preço acessível aos pobres, mesmo que os maiores beneficiados sejam, na prática, os ricos. O populismo de resultados encontra convergência nos grandes produtores que querem vender mais carne, mais porco, mais frango no mercado, seja em Alphaville ou em Paraisópolis. O bolsa churrasco é o passaporte para votos paradisíacos dos dois grupos.
Lucros financeiros para uns, ganhos políticos para outros. Em essência, os interesses se encontraram na mesma isenção. Mesmo que ao custo de que todos paguem um pouco a mais da alíquota do novo imposto dual que virá em alguns anos com a maior carga do mundo! O que une a todos é a diferença de caminho, mas para se chegar ao mesmo lugar, do qual ninguém quer sair: do poder de mandar em todos.
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