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Bússola Poder: o pêndulo torto de Brasília

“Nas esquina da próxima eleição, a caixa de surpresa pode ser aberta aos políticos que acham que tudo sabem e tudo dominam”, Márcio de Freitas afirma na coluna desta semana

Palácio do Congresso Nacional (Maremagnum/Getty Images)

Palácio do Congresso Nacional (Maremagnum/Getty Images)

Márcio de Freitas
Márcio de Freitas

Analista Político - Colunista Bússola

Publicado em 19 de janeiro de 2024 às 14h13.

O movimento pendular nasce da interferência de forças da física, seja no conceito de Newton ou de Foucault. 

Em política, os movimentos pendulares são impulsionados por forças sociais fazendo mover o peso suspenso por um fio, ora para um lado, ora para outro. 

Apesar de saber que o movimento retornará ao lado oposto, em geral, políticos radicais tentam cristalizar eternamente o momento presente como se a inércia social fosse possível para sempre.

Erro crasso, seja pelas leis da física, seja pela dinâmica social, seja pelo tempo que tudo corrói. A inércia não faz parte da vida de um planeta que está em permanente movimento pelo universo. 

A visão acomodatícia da aparente aceitação da imutabilidade de certa circunstância é autoengano que pode ser fatal para governantes e líderes políticos. E tentar levar o pêndulo além da sua trajetória encontra resistência maior do que a gravidade, como experimentou o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Hoje há ainda mais movimentos que no passado, que surgem numa velocidade alucinante pelo impacto das tecnologias na transposição constante de notícias em formas de fatos, numa colcha de retalhos que é de difícil organização nas redes de armadilhas antissociais em que o mundo caiu depois da internet se disseminar como fato normal na interação intermitente. 

Os velhos jornais em papel tentavam ordenar um mundo em suas páginas, mas a função se perde com o rolar das páginas eletrônicas onde o usuário eleva seus interesses na medida dos cliques preferenciais de leituras. A compreensão desses fatos e a absorção do sentido dos caminhos trilhados pela sociedade ficaram cada vez mais complexos.

O Brasil tem ciclos claros de autoritarismo, com respiros democráticos desde o Império. Tem movimentos de sístole e diástole, abertura e fechamento, e sempre com mais exclusão social que inclusão durante a história do país. 

Construímos o retrato atual da nação com esses movimentos em ondas. Transformamos o movimento em sustos, como se abríssemos diariamente a caixa de novas surpresas.

O fato da Operação Lava Jato ter se tornado um símbolo de abusos de autoridades menores, com objetivos de confundir mais do que elucidar, não deve encobrir o sentimento da sociedade de que certa parte da elite nacional, num conluio entre empresários e políticos, locupletou-se durante bom período no país. 

Varrer tudo que se viu com um perdão amplo, absoluto e total é um movimento pendular que acaba deixando a sensação de uma impunidade também amplas, absoluta e total. O trigo que foi misturado ao joio hoje é usado para absolver o joio.

A aparente aceitação atual desse cenário e, até certo ponto, a resignação da sociedade pode estar escondendo aquilo que se verificou em 2013, um sentimento desconhecido de revolta que explodiu do nada e se exibiu num quebra-quebra nacional que contaminou cidade após cidade assustando todo o país. Essa indignação é provocada a cada gesto em que incita o revanchismo. 

Nas esquina da próxima eleição, a caixa de surpresa pode ser aberta aos políticos que acham que tudo sabem e tudo dominam… “Tantas coisas sabemos que não compreendemos!”, desabafou em outros dias Ortega e Gasset, diante dos limites e circunstâncias de seu tempo. Os tempos são outros, mas a lição permanece.

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