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Bússola Poder: corrida de obstáculos internacionais de Lula

O movimento retracionista nos investimentos foi influenciado pela geopolítica instável no cenário global

 (Mandel Ngan/AFP)

(Mandel Ngan/AFP)

Márcio de Freitas
Márcio de Freitas

Analista Político - Colunista Bússola

Publicado em 2 de agosto de 2024 às 15h00.

A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) registrou uma queda de 14% nos investimentos estrangeiros no Brasil em 2023. Na América Latina, a queda ampla e geral foi de 10%. O dado é um alerta para o fator externo, que pode impactar negativamente os planos do governo nos próximos anos. 

Algumas crises nada têm a ver com o presidente Lula, mas o eleitor não leva explicações à urna no momento do voto. Outras armadilhas deveriam ser vistas à distância, mas o governo fica mais perto do que deveria. Nada lucra internamente e há dúvidas se ganha algo no cenário internacional.

Influência do cenário global

O movimento retracionista nos investimentos foi influenciado pela geopolítica instável no cenário global. E isso só piorou nos últimos dias, pelo ataque de Israel para eliminar um líder do Hamas em Teerã, capital do Irã, durante a posse do novo presidente daquele país – um dos maiores produtores de petróleo do mundo. O vice-presidente Geraldo Alckmin estava no local, representando o governo brasileiro que sonda negócios promissores na região.

A ameaça de escalada no conflito no Oriente Médio é real. A continuidade do conflito aberto pelo grupo terrorista Hamas hoje tem a força de movimento perpétuo do governo de Benjamin Netanyahu para permanecer no poder. A ousadia israelense nos ataques em território libanês ou iraniano é combustível para reações de outros grupos terroristas ou paramilitares que defendem a supressão do Estado judeu.

A guerra na Ucrânia terá combustível enquanto Joe Biden estiver na presidência dos Estados Unidos. Eventual vitória de Donald Trump é uma hipótese para que o combate perca munição e acabe por falta de dólares na coldre para financiar o enfrentamento com a Rússia. Ainda deve se esperar a confirmação da hipótese Trump diante do fato novo na política dos Estados Unidos, Kamala Harris. Essa é uma instabilidade eleitoral que ainda pode gerar maior insegurança nos próximos meses. A se ver, com ansiedade.

Eleições na venezuela 

Outro fator recente é a conflagração popular na Venezuela contra a fraude eleitoral perpetrada pelo ditador Nicolás Maduro. Venezuelanos votaram em urna eletrônica, mas a totalização é mantida em segredo de estado por Maduro e seu grupo. Sem revelar a votação e dar transparência ao processo eleitoral, depois de impedir adversários de se candidatarem e limitar até mesmo os eleitores contrários, Maduro escancara a ditadura. Não há solução pacífica à vista. Sangue de populares já começou a ser derramado. O governo Lula mantém uma linha aberta com Caracas, que só serve no momento para alimentar a oposição brasileira e mostrar um aspecto de pouco apreço à democracia por parte do partido do presidente.

Se no ano passado o investimento caiu, tudo indica que não haverá recuperação este ano e em 2025 com esse cenário. O dólar elevado nesta semana já demonstra o temor do mercado. A barreira de R$ 5,80 foi testada nesta semana. O mundo atual é uma corrida de obstáculos para o governo até 2026, que mira a reeleição de Lula apostando no gasto público – onde só a busca da arrecadação move a pauta governista no Congresso. 

Para o plano de continuar no poder dar certo, o governo tem que evitar tropeços internos e evitar as cascas de banana dos "muy amigos" latinos. Saltar obstáculos em tempos olímpicos é regra, mas terá de ser regra nos tempos normais para Lula.

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