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Bússola ESG: dá para vencer a poluição plástica nos oceanos, mas esforço precisa ser maior

Compromisso proposto pela Fundação Ellen MacArthur e o PNUMA completa cinco anos e mostra que é possível enfrentar o problema – mas ainda estamos longe disso

São necessárias medidas regulatórias mais rígidas (Yegor Aleyev/Getty Images)

São necessárias medidas regulatórias mais rígidas (Yegor Aleyev/Getty Images)

Renato Krausz
Renato Krausz

Sócio-diretor da Loures Consultoria - Colunista Bússola

Publicado em 9 de novembro de 2023 às 08h00.

Deve ser difícil encontrar alguém que conteste a urgência de darmos fim à poluição plástica nos oceanos, mas o fato é que, mesmo sem vozes dissonantes, estamos falhando miseravelmente nesta missão. A Fundação Ellen MacArthur acaba de lançar um estudo que estima que novos 20 trilhões de embalagens flexíveis acabarão no mar até 2040. Esta mesma organização global, em conjunto com a McKinsey, divulgou em 2016 uma pesquisa no Fórum Econômico Mundial que mostrava que os oceanos terão mais garrafas pets e outros detritos plásticos do que peixes em 2050.

É importante frisar que tivemos avanços. A questão é que eles têm se mostrado insuficientes. Em 2018, a Fundação Ellen MacArthur e o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) lançaram o Compromisso Global, uma iniciativa com o objetivo de arregimentar empresas, governos e outras instituições na luta para evitar que as embalagens virem poluição. Mais de mil organizações aderiram, entre elas 250 grandes companhias que representam 20% da indústria mundial de embalagens plásticas, como Carrefour, Mondelez, Natura&Co, Apple e Coca-Cola. 

O relatório de 2023 traz um balanço geral desses cinco primeiros anos do Compromisso Global e revela que essas empresas deram um banho em seus pares ao reduzir o uso de plásticos problemáticos e evitáveis, estabilizar o emprego de plásticos virgens e dobrar a cota de material reciclado. Neste quesito específico da reciclagem, o aumento no reuso foi de 1,5 milhão de toneladas por ano. Com isso, evitou-se a extração de um barril de petróleo a cada dois segundos, o que dá 15,7 milhões de barris por ano. Evitou-se também a emissão de 2,5 milhões de toneladas de gases do efeito estufa.

O Compromisso Global mostrou que os progressos são possíveis e palpáveis, mas o mundo está longe de resolver o problema. Até mesmo as empresas signatárias dificilmente conseguirão atingir as ousadas metas que foram traçadas até 2025. Imagine, então, o mercado como um todo.

Regulação é fundamental

Para chegar lá, é fundamental que mais empresas adiram e que todas acelerem um bocado a evolução da coisa toda. Mas não é só isso. São necessárias medidas regulatórias mais rígidas. Muitos países já estão empenhados nisso, inclusive o Brasil, mas por aqui as regulações são osso duro de roer – e de cumprir (já escrevi sobre isso  neste espaço).

Em março de 2022, 175 países membros da ONU aprovaram em Nairóbi uma resolução considerada histórica pelo fim da poluição plástica. A resolução previa o estabelecimento de um acordo internacional juridicamente vinculante até 2024. A terceira rodada de negociações começa na próxima segunda (13/11), na mesma cidade, capital do Quênia.

Todos esses esforços se tornam cada vez mais inadiáveis. Anualmente, 11 milhões de toneladas de resíduos plásticos desaguam nos oceanos. Cerca de 800 espécies marinhas são ameaçadas por isso, por ingestão ou emaranhamento. E vamos combinar que nossos tataranetos não deveriam ser privados de, numa manhã qualquer ensolarada do século 22, poder dar um mergulho no mar sem ter a sensação de estar entrando numa piscina de bolinhas.

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