Mundo superconectado: quando o excesso de informação vira doença (SIphotography/Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 13 de abril de 2021 às 19h49.
Última atualização em 13 de abril de 2021 às 20h00.
Pense um instante.
Você está diante de um filme, um vídeo, um musical, uma atividade qualquer que envolva uma narrativa audiovisual. O lógico seria você se dispor a seguir todo o ritmo dele, certo? Desde a construção dos roteiros e, ao final, o contar de histórias (das cavernas até o BBB21), as narrativas evoluíram para ir envolvendo as pessoas e elas se engajarem com o ritmo próprio de cada obra. Seja ela um filme de Fellini ou um vídeo do Porta dos Fundos. Mas isso tem mudado e está virando uma tendência meio esquisita. E atende por um nome com uma expressão em inglês: speed watching.
No speed watching, as pessoas passam simplesmente a ver um filme com a velocidade acelerada... para ganhar tempo. Como assim? Isso mesmo, um filme de duas horas pode virar algo de uma hora... Mas para onde vai toda a construção da história e o tal engajamento? O clímax? A conexão da trilha sonora com a dramaticidade da cena?
Vai para a conta do FOMO. A sigla em inglês para “fear of missing out”, ou medo de ficar de fora, que se transformou no símbolo comportamental de viés doentio que nos afeta pela alta oferta de informações e que gera nossa ansiedade para consumir tudo no mínimo de tempo possível. Sem perder nada. Baldes de ansiedade que a sociedade em rede nos trouxe como ônus. Em tempos de pandemia, vale um olhar mais clínico sobre isso, pois estamos todos consumindo conteúdos nessa velocidade.
Há defensores dessa forma esquisita de acessar informação, que apostam até mesmo na plasticidade cerebral, já comprovada, que vai absorver essa velocidade de consumir informações. Mas a que custo? Particularmente, acho que isso é basicamente tornar o conteúdo um gatilho pra um “buraco do nada”. Um precipício. É como encher a barriga de qualquer coisa, sem fome, sem sentir o gosto e sem prazer. Uma bulimia tech.
Nada justifica que você adote essa prática que, na origem, deveria ser exatamente um tempo, na toxicidade informativa que temos – de volumetria e desinformação –, para se envolver, apreciar e relaxar. O cérebro vai se adaptar, lógico. Mas vai ser mais um sintoma de FOMO. Fato.
E aí, perguntei para a psicóloga e professora Munira Queiroz sobre o que as pessoas que estão vivendo essa espécie de...speed life... deveriam refletir. Murina é psicóloga clínica e neuropsicóloga, mestre em Cognição e Linguagem e em Educação e Desenvolvimento Humano.
Segundo ela, alguns aspectos são importantes para os tempos atuais em que o medo, a pressa e uso exacerbado de informações imperam:
Pense um instante sobre essas coisas. Mas experimente não pisar no acelerador enquanto isso.
*Rizzo Miranda é sócia-diretora Digital&Inovação da FSB Comunicação
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